O relatório Rings of Fire: Heat Risks at the 2024 Paris Olympics alerta para as temperaturas recorde nesta edição dos Jogos Olímpicos, bem como para os riscos que lhes estão associados, como o colapso dos atletas e até a sua morte precoce.
O documento relembra que os Jogos de 2021, realizados em Tóquio, abriram o precedente para uma norma “alarmante e crescente” para os Jogos Olímpicos de verão. Com temperaturas superiores a 34 graus e humidade próxima dos 70%, os últimos Jogos foram descritos como “os mais quentes da história”.
E nos três anos que separam a última edição da deste ano, a situação ao nível das alterações climáticas não melhorou. O planeta aqueceu ainda mais.
Emma Pocock, directora executiva da FrontRunners, uma das organizações que colaborou na investigação, acredita que “os recordes de calor registados nos últimos meses” podem mesmo indicar que “os Jogos de Paris têm potencial para ultrapassar o recorde de calor de Tóquio”. Pocock deixou ainda um apelo urgente a todos os órgãos desportivos para que tomem medidas ecológicas, dando um contributo que ajude a travar o aquecimento global.
Desde a última edição realizada em Paris, em 1924, as temperaturas anuais na zona aumentaram 1,8 graus. Em média, por ano, há mais 23 dias com mais de 25 graus e mais nove dias em que se registam temperaturas acima dos 30 graus. Nos últimos 80 anos, Paris registou 50 vagas de calor e em Julho e Agosto de 2003 uma delas vitimou 14 mil pessoas em França.
Muitos alertas
Pocock referiu ainda no relatório que “se o planeta continuar a aquecer, o desporto como o conhecemos vai deixar de existir”. A directora executiva da FrontRunners não foi a única especialista a comentar a situação.
O Comité Olímpico Internacional (COI) já propôs algumas medidas para salvaguardar a saúde dos atletas e assumiu recentemente, em comunicado citado pela NBC, que estarão a “calendarizar os jogos à volta do calor”.
Num outro comunicado citado pelo The Guardian, o COI reconheceu que “o nível de stress térmico ambiental, infelizmente, continuará a aumentar nos próximos anos devido a uma combinação do aumento da prevalência, intensidade e duração das ondas de calor que estão a ocorrer devido às alterações climáticas e à globalização do desporto. Isto leva a que mais competições desportivas sejam organizadas em climas extremamente quentes”.
O mesmo comunicado chama a atenção para os riscos do calor extremo para a saúde: queimaduras, cãibras provocadas pelo calor, exaustão, insolação ou até colapso por insolação, que é fatal.
Sebastian Coe, presidente da World Athletics, numa conferência de imprensa em 2023, já tinha referido também os riscos de “menor desempenho, perturbações de sono, stress e lesões”, associados ao calor. O dirigente que ganhou duas medalhas de ouro olímpicas no atletismo já previa, na mesma conferência, a inacção dos governos e entidades competentes neste tema.
Ao Independent, Jamie Farndale, jogador de râguebi que participou na investigação, explicava que o poder está nas mãos dos organizadores, porque “não está no ADN de um atleta olímpico parar porque as condições são perigosas”.
O problema do calor também vai além dos recintos desportivos. Como medida ecológica, a organização francesa decidiu que não colocaria sistemas de ar condicionado nos quartos da vila olímpica. No entanto, segundo o Washington Post, várias delegações olímpicas nacionais pretendem levar dispositivos de ar condicionado portáteis.
O relatório termina com um apelo aos atletas para que se unam em movimentos de consciencialização para as mudanças climáticas.
Os Jogos Olímpicos vão decorrer de 26 de Julho a 11 de Agosto.