Depois de cinco anos de prisão e quase década e meia de incerteza, o fundador do Wikileaks, Julian Assange, está mais próximo de colocar um ponto final a uma longa batalha judicial que já percorreu diversos países. O denunciante aceitou declarar-se culpado de conspiração para obter e divulgar ilegalmente informações confidenciais, num acordo com a justiça dos EUA, e já saiu da prisão, adiantou esta segunda-feira o portal criado por Assange.
“Deixou a prisão de segurança máxima de Belmarsh na manhã de 24 de Junho”, foi libertado no aeroporto de Stansted, em Londres, “onde embarcou num avião e partiu do Reino Unido”, tendo a Austrália como destino final, pode ler-se na nota publicada pelo WikiLeaks. A libertação, escreve o portal, resulta de “uma campanha global” que “criou espaço para um longo período de negociações com o Departamento de Justiça dos EUA, conduzindo a um acordo que ainda não foi formalmente finalizado”.
Assange deverá comparecer na quarta-feira perante um tribunal federal das Ilhas Marianas, um território norte-americano no Oceano Pacífico, de acordo com documentos judiciais apresentados na segunda-feira à noite.
“As palavras não podem expressar a nossa imensa gratidão para convosco. Si, vocês, os que se mobilizaram durante anos para que isto fosse realidade. Obrigado, obrigado, obrigado”, escreveu Stela, mulher de Julian Assange.
O fundador do Wikileaks vai declarar-se culpado de crime de conspiração para obter e divulgar ilegalmente informações confidenciais da defesa nacional dos Estados Unidos, confissão que terá de ser aprovada por um juiz.
Nos cinco anos em que esteve detido numa prisão de segurança máxima em Londres, amigos e familiares pediram a libertação de Assange, alegando que a saúde física e psicológica do homem de 52 anos se deteriorava rapidamente. Ainda antes do anúncio da libertação, um porta-voz do Governo australiano defendeu que o caso do fundador do Wikileaks “arrastou-se por muito tempo e não há nada a ganhar com o prolongamento da detenção”.
Esta pressão feita pelo Governo australiano foi fulcral para este desfecho, com o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, a admitir que estava a rever um pedido para deixar cair a acusação contra Assange. Antes da detenção em 2019, Assange passou sete anos de reclusão na embaixada do Equador em Londres, onde se refugiou para evitar ser extraditado para a Suécia, onde era acusado de violação.
Desde então que os EUA tentavam a extradição de Assange, acusado de 18 crimes de espionagem e de intrusão informática pela divulgação no portal WikiLeaks de documentos confidenciais, que em 2010 e 2011 expuseram violações de direitos humanos cometidas pelo exército norte-americano no Iraque e no Afeganistão.
Washington queria julgar Assange pela divulgação de mais de 700 mil documentos secretos e estava acusado pelas autoridades norte-americanas ao abrigo da Lei de Espionagem de 1917, enfrentando uma possível pena de até 175 anos de prisão.
Em 20 de Maio, o Tribunal Superior de Londres tinha autorizado Assange a recorrer da ordem de extradição do Reino Unido para os Estados Unidos da América.