No Partido Republicano de Donald Trump, a lealdade é mais importante que tudo. Que o diga Liz Cheney, uma conservadora histórica, afastada do partido por não ter duvidado dos resultados das eleições de 2020. Ainda há quem desafie o antigo Presidente dos Estados Unidos dentro do seu partido, mas poucos sobrevivem na vida política por muito mais tempo.
Larry Hogan, um dos republicanos mais populares e candidato ao Senado nacional pelo estado do Maryland, pode estar prestes a cair no mesmo caminho. E tudo porque, na passada sexta-feira, pediu que os norte-americanos “respeitassem” a decisão do júri de um tribunal de Nova Iorque em considerar Trump culpado de 34 crimes, por falsificar registos contabilísticos para esconder o caso extraconjugal com a ex-atriz Stormy Daniels.
A resposta à posição neutra e senatorial de Hogan, opinada através da rede social X (antigo Twitter), não tardou. “Acabaste de pôr fim à tua campanha”, declarou Chris LaCivita, conselheiro de campanha de Trump e dirigente do Comité Nacional Republicano (RNC), numa resposta ao comentário de Hogan.
Não interessa se Hogan é um antigo governador republicano do Maryland, um estado predominantemente democrata, nem interessa que tenha uma das melhores hipóteses de conquistar um precioso lugar no Senado aos democratas. Para o “Universo MAGA” (da expressão pró-Trump “Make America Great Again”), a candidatura de Larry Hogan é para queimar.
“Ele não merece o respeito de ninguém no Partido Republicano e, francamente, de ninguém na América. Ele nunca devia ter dito aquilo. Acho que foi ridículo”, comentou à CNN a co-diretora do RNC, Lara Trump, nora do ex-Presidente e candidato republicano às presidenciais de novembro deste ano.
Michael Whatley, presidente do RNC, foi ainda mais longe. Numa entrevista ao canal ultraconservador Newsmax, Whatley avisou que “agora, Larry Hogan tem de fazer a sua própria campanha”, indicando que o Partido Republicano deixará de apoiar um dos seus candidatos mais fortes.
Hogan é um crítico de Donald Trump há vários anos e já tinha avisado que não ia participar na Convenção Nacional Republicana em Milwaukee, onde Trump vai ser nomeado como o candidato oficial dos conservadores à Casa Branca pela 3.ª vez consecutiva. Mas num partido cada vez mais polarizado, onde os moderados são uma minoria em vias de extinção, ser um opositor do ex-líder autoritário e nacionalista é um rótulo difícil de carregar.
Segundo uma sondagem recente da Reuters/Ipsos, apenas 10% dos eleitores registados como republicanos afirmaram que é pouco provável que votem em Trump, depois de este ser considerado culpado. Mais de 50% não mudou a sua opinião e 35% disse que, após a decisão da justiça norte-americana, é mais provável que votem no ex-líder.
Nesse mesmo sentido, outro inquérito do YouGov revela que a percentagem de republicanos que está confortável em votar numa pessoa culpada por crimes aumento consideravelmente, de 17% em abril, para 58% em junho.
Para Larry Hogan, as contas tornam-se ainda mais complicadas de gerir por concorrer numa zona predominantemente democrata.
A reforma do senador democrata Ben Cardin abriu a porta a uma eleição extremamente renhida, entre a candidata democrata Angela Alsobrooks e Hogan. Apesar de ter sido popular como um ex-governador conservador, o estado do Maryland é muito próximo de Washington D.C. e tende a seguir a tendência nacional. Mas isto quer dizer que, para conquistar um lugar no Senado, Hogan precisa do apoio de todos os republicanos da região e de uma boa parte dos democratas.
Em abril, o republicano disse, em entrevista à Associated Press, que a sua candidatura “não quer alienar os eleitores de Trump”. “Precisamos dos seus apoiantes. E precisamos de muitos apoiantes de Biden. O Maryland é difícil”, admitiu.
Na passada sexta-feira, pediu apenas que “todos os americanos respeitem o veredicto e o processo legal”. “Neste momento perigoso e divisivo na nossa história, todos os líderes – independentemente do seu partido – devem evitar atirar combustível para as chamas com mais partidarismo tóxico. Devemos reafirmar o que tornou esta nação grandiosa: o Estado de Direito”, vincou.
Donald Trump após ser considerado culpado
Justin Lane-Pool/Getty Images
O senador republicano Steve Daines, do Montana, defendeu que o julgamento de Trump foi “um escândalo”, mas não quis ostracizar nem minar Hogan. “Ele está a concorrer no Maryland, não no Mississippi”, disse, citado pelo New York Times, aludindo a estados conservadores onde praticamente qualquer republicano venceria facilmente.
Mas a opinião de Daines é mesmo uma minoria. Além de Lara Trump e Michael Whatley, milhares de ultraconservadores insultaram e criticaram Hogan, chamando-o de “traidor”, e televisões como a Fox News e Newsmax (que têm defendido o ex-Presidente) transmitiram segmentos em que condenaram Larry Hogan.
Segundo o New York Times, a campanha de Hogan afirmou que o RNC ainda não entrou em contacto nem anunciou oficialmente que ia deixar de financiar a candidatura do ex-governador.