À medida que se vive mais tempo, o quotidiano traz novos desafios e, por vezes, riscos. Cada vez mais presente, a tecnologia pode dar um contributo relevante. Foi a partir daqui que dois jovens portugueses criaram no início do ano, no Porto, uma empresa dedicada a disponibilizar ferramentas tecnológicas que contribuem para o bem-estar dos mais velhos.
O objetivo é trazer para Portugal “soluções inovadoras” que “estejam implementadas e realmente funcionem” na melhoria do dia a dia dos seniores, conta ao Expresso a CEO da JoliCare, Joana Bulhosa. “Queremos trazer soluções que permitam às pessoas envelhecer de uma forma mais ativa, com mais segurança e com mais qualidade de vida. Sentimos que é muito isso que está a faltar neste momento”, retrata. A visão abrange também uma mudança de perspetiva. “Temos muito uma mentalidade que tudo o que é feito para o idoso só tem de ser prático e funcional. São sempre coisas muito pouco estéticas, muito pouco pensadas na pessoa, muito pouco humanizadas.”
A aposta começa pela implementação de uma lâmpada que previne e deteta quedas: a Nobi, de origem belga, combina sensores óticos e inteligência artificial. “O sistema inteligente está incorporado num formato candeeiro. A tecnologia deteta 100% das quedas e não carece de intervenção humana. A pessoa cai e é ativada uma pergunta de segurança. Se não responder num espaço de três segundos, passa ao alerta, que pode ser feito de diferentes formas, dependendo das particularidades, mas o mais comum é ser uma chamada telefónica”, explica Joana Bulhosa. Tal permite que a ajuda chegue rapidamente.
A ideia é integrar o dispositivo em residências seniores, dando formação aos funcionários – o primeiro projeto está ainda em fase de desenvolvimento. Isto porque, nestes espaços, “as pessoas caem muito, ficam muito tempo no chão, à espera até que alguém as encontre”. “As quedas de longa duração no chão são a maior preocupação. É algo que sabemos pelos dados que aumenta a taxa de mortalidade da pessoa no prazo de seis meses em 50%”, justifica a responsável.
Estima-se em 684 mil o número de pessoas que morrem anualmente devido a quedas, o que faz com que esta seja a segunda causa principal de morte acidental a nível mundial, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde de 2021, que aponta os adultos com mais de 60 anos como os que sofrem o maior número de quedas fatais.
Além de detetar quedas, a lâmpada também tem uma dimensão de prevenção: quando a pessoa se encosta na cabeceira ou se movimenta para se levantar, acende-se uma luz de orientação ou pode ser emitido um alerta para os funcionários irem ajudar na deslocação à casa de banho, por exemplo. Incluem-se também “uma série de funcionalidades” relacionadas com dados de saúde, como relatórios de sono ou monitorização de parâmetros.
No ano passado, um projeto-piloto de uma unidade de cuidados integrados do serviço nacional de saúde britânico financiou a instalação das lâmpadas num lar em Milnthorpe: os resultados positivos, com uma redução das quedas em 84%, levaram à decisão de alargar a iniciativa a mais 500 lares de idosos, anunciada em maio. No futuro, também a empresa portuguesa espera contar com a colaboração do Estado na comparticipação deste tipo de dispositivos. “O nosso objetivo é criar uma consciência de que a prevenção é, sem dúvida, o melhor caminho”, resume Joana Bulhosa.