Se tudo correr como previsto, o lançador europeu Ariane 6 haverá de se estrear em julho, e se tudo correr bem será essa a missão que irá permitir a chegada ao espaço do satélite ISTSat-1, que foi desenhado e construído por alunos e professores do Instituto Superior Técnico, de Lisboa (IST). A data final de lançamento ainda não está fechada. E os mentores do ISTSat-1 lembram que o lançamento pode ser adiado à última hora se não houver condições meteorológicas. De qualquer modo, é grande a expectativa quanto à demonstração de capacidade tecnológica do novo dispositivo orbital, que tem a forma de um cubo com 10 centímetros de aresta.
“Os satélites, como eu já disse a um primeiro-ministro, não se medem aos palmos”, responde Rui Rocha, professor do Instituto Superior Técnico, no podcast Futuro do Futuro.
O satélite ISTSat-1 foi desenvolvido ao longo dos últimos anos por mais de 50 alunos do Instituto Superior Técnico
José Fernandes
Nos últimos seis anos, Rui Rocha e outros professores do IST lideraram mais de 50 alunos no desenvolvimento do pequeno satélite, com o propósito de demonstrar a viabilidade técnica de um novo sistema de localização de aviões, quando sobrevoam os oceanos.
Neste episódio do Futuro do Futuro, Rui Rocha junta-se ao investigador João Paulo Monteiro e ao aluno Tiago Santos, para explicar alguns detalhes e objetivos delineados para o ISTSat-1. Hoje, os aviões são monitorizados por estações de rádio fixas quando sobrevoam terra firme, mas essa localização torna-se limitada porque não existem estações que garantam as comunicações de rádio em mal alto, ou torna-se mais onerosa se recorrer a satélites que usam órbitas mais altas.
Nuno Fox
Ser ou não ser
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“Se nós expandirmos a nossa zona de observação do (site de monitorização de aviões) Flightradar24, verificamos que, por exemplo, nas zonas mais remotas sobre os oceanos, nos Polos etc., não se vê aviões. Não é porque eles não estejam lá. É porque simplesmente não há nada para receber esses sinais” refere Rui Rocha.
O novo satélite pretende demonstrar que é possível localizar aviões que sobrevoam os oceanos quase em tempo real e pode mesmo ser útil para abrir caminho ao desenvolvimento de constelações que permitem até o estudo de locais com maiores estatísticas de acidentes. “É isso que, enfim, se vai começar a desenvolver cada vez mais ao receber esses sinais a partir do espaço”, acrescenta.
Money Money Money
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Além das antenas para comunicar com estações terrestres, o ISTSat-1 vai usar radiofrequências para recolher dados dos aviões de diferentes companhias aéreas. Para ilustrar o potencial desta monitorização os investigadores trouxeram uma réplica do ISTSat1, e deram resposta a um dos desafios do Futuro do Futuro com um som em código morse que revela como são comunicados os dados pelo ISTSat-1.
O ISTSat-1 vai orbitar a 560 quilómetros de altitude e “fica lá em cima à volta de cinco anos”, ainda que “no melhor dos casos” possa “cair em cerca de 15 anos”, explica João Paulo Monteiro.
Os investigadores do Técnico não escondem que teria sido mais fácil comprar um satélite já feito ou construir um dispositivo com módulos completos, já desenhados e fabricados. Mas desde a primeira hora que o projeto assumiu a prioridade de dotar o currículo pedagógico de uma vertente prática. E por isso, todas as diferentes placas e módulos de eletrónica foram criados nos laboratórios do Técnico juntando circuitos e chips e outros componentes.
Num dos casos, houve mesmo que fazer finca-pé junto da Agência Espacial Europeia, que aconselhava comprar um dos módulos que já estão disponíveis para estes projetos, a fim de evitar imprevistos. A Universidade de Montpellier, em França, terá tentado fazer o mesmo, mas acabou por desistir.
Tiago Pereira Santos
Miguel Sousa Tavares De Viva Voz
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No Técnico, sabe-se que esta opção aumenta as responsabilidades na mesma proporção da probabilidade de imprevistos. Rui Rocha lembra que a ida para o Espaço apenas parte dos objetivos definidos para o ISTSat-1: “Uma das coisas que aprendemos neste tipo de projetos é não ter medo. É arriscar”.
Tiago Santos, aluno que tem vindo a participar no desenvolvimento do pequeno satélite, não hesita em considerar que o ensino pela prática torna-se mais atrativo, até pelo convívio com alunos de diferentes cursos que trabalham em equipa com um objetivo comum. Rui Rocha confirma que nunca teve dificuldade em recrutar alunos para participarem no projeto, até porque nalguns casos a participação estava associada a trabalhos curriculares. “Optámos por fazer tudo exatamente porque quisemos aprender como se fazia um satélite”, conclui o professor do Técnico.
Tiago Pereira Santos
Hugo Séneca conversa com mentes brilhantes de diversas áreas sobre o admirável mundo novo que a tecnologia nos reserva. Uma janela aberta para as grandes inovações destes e dos próximos tempos.