Para Volodymyr Zelensky, “a Rússia não está preparada para uma paz justa”, pelo que o processo lançado este fim de semana na Suíça deve prosseguir sem Moscovo. A cimeira terminou este domingo, com 84 países a subscrever a declaração final, incluindo Portugal e mais três PALOP (Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste), mas também 13 nãções que não a assinaram, Brasil incluído.
“Temos de fazer o nosso trabalho, não vamos pensar na Rússia, vamos fazer o que temos de fazer. Neste momento, a Rússia e os seus dirigentes não estão preparados para uma paz justa. É um facto”, declarou Volodymyr Zelensky, apontando que Moscovo “fez tudo para que os líderes não viessem” à conferência realizada entre sábado e hoje em Burgenstock, na Suíça.
No entanto, esta não é a opinião partilhada por todos os presentes na cimeira que terminou este domingo. O Presidente da República português salientou que a Cimeira de Paz para a Ucrânia iniciou uma “via imparável” que terá de se estender à Rússia.
Em declarações aos jornalistas depois de intervir na derradeira sessão plenária da cimeira, Marcelo Rebelo de Sousa considerou que a conferência foi um sucesso, “pela sua representatividade”, e sublinhou a ideia, deixada na sua intervenção perante os restantes representantes de cerca de uma centena de países e organizações, de que “é imparável esta via, este caminho, este passo que foi dado hoje”.
“Este é um passo, há outros passos, e nos outros passos é bom que haja o alargamento a novos parceiros, naquela expressão que provavelmente o comunicado vai adotar ‘all parties’ [todas as partes]. E eu acrescentei que, em rigor, deviam ter estado já aqui neste primeiro passo, mas poderão estar em passos seguintes”, afirmou o chefe de Estado.
Da cimeira resultou um documento que “reafirma a integridade territorial do país” e pede que “todas as partes” estejam envolvidas para se alcançar a paz. A maioria dos países que participaram na cimeira assinaram o comunicado final.
A declaração, que pede que “todas as partes” do conflito estejam envolvidas para se alcançar a paz, foi subscrita por 84 países, incluindo os da União Europeia, Estados Unidos da América, Japão, Argentina, Somália e Quénia. Dos 84 países que assinaram, quatro são Estados-membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), designadamente: Portugal, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.
Segundo o swissinfo.ch, 13 países não assinaram o comunicado: os três Estados-membros dos BRICS presentes (Brasil, Índia e África do Sul, enquanto estiverem ausentes, deste mesmo bloco, China e Rússia), Arménia, Barém, Indonésia, Colômbia, Líbia, Arábia Saudita, Suriname, Tailândia, Emirados Árabes Unidos e México.
O texto reafirma “os princípios da soberania, da independência e da integridade territorial de todos os Estados, incluindo a Ucrânia”. “Acreditamos que alcançar a paz exige a participação e o diálogo entre todas as partes”, refere a declaração do encontro, “Decidimos, portanto, tomar medidas concretas no futuro para envolver representantes de todas as questões mencionadas neste comunicado final”, acrescentam os subscritores, que defendem o cumprimento da Carta da Organização das Nações Unidas (ONU) e do direito internacional para “uma paz duradoura e justa”.
Vários chefes de estado criticam proposta para a paz de Putin
Vários chefes de Estado e de Governo pediram, através das suas intervenções na sessão plenária na cimeira ou em comunicado, o fim da guerra na Ucrânia, criticando a proposta da Rússia.
A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, alertou o Presidente russo, Vladimir Putin, de que não deve confundir a paz com a subjugação da Ucrânia e pediu à comunidade internacional que continue a apoiar o país.
Também o presidente do Governo espanhol, Pedro Sánchez, sublinhou que a guerra tem de acabar e destacou a ajuda que o seu país tem prestado à Ucrânia para aliviar a crise alimentar.
Já o Presidente da Lituânia, país que partilha fronteira com a Rússia através do exclave de Kaliningrado, recordou hoje que a comunidade internacional tem a “obrigação coletiva de mostrar total solidariedade” para com a Ucrânia.
A Noruega, que considerou a cimeira um sucesso, anunciou que vai fornecer à Ucrânia 1,1 mil milhões de coroas (103 milhões de euros) para apoiar o país a recuperar a sua infraestrutura energética e garantir o fornecimento de eletricidade até ao inverno. Já a vizinha Suécia sublinhou, através da sua vice-primeira-ministra, Ebba Busch, que o apoio à Ucrânia no seu direito de se defender é “a principal prioridade da política externa”.
Do outro lado do oceano Atlântico, o Presidente do Equador, Daniel Noboa, defendeu “o poder transformador do diálogo e da cooperação”, por entender que é a solução para alcançar “a reconciliação e a paz duradoura”.
Já a secretária dos Negócios Estrangeiros do México, Alicia Bárcena, pediu que os esforços diplomáticos para a paz entre Ucrânia e Rússia sejam feitos “sob a égide da ONU”. “Deve haver negociações graduais para criar confiança”, disse a chefe da diplomacia mexicana, que considerou que “não se pode falar de paz sem mencionar outras tragédias humanitárias atuais, como a que ocorre em Gaza”.
Também a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, acusou o Presidente russo, Vladimir Putin, de propor condições “ultrajantes” para a paz e advertiu que será a Ucrânia a determinar as condições para uma paz justa.
A representante acusou o Presidente russo de não levar a sério a necessidade de acabar com a guerra: “Ele insiste na cedência de território ucraniano, mesmo território que não está ocupado por ele atualmente. Insiste em desarmar a Ucrânia, deixando-a vulnerável a futuras agressões, e nenhum país aceitaria estas condições ultrajantes”, sublinhou.
“Quando a Rússia disser que está pronta para a paz com base na Carta das Nações Unidas, então chegará o momento de a Rússia fazer parte dos nossos esforços para levar o caminho da paz até ao seu destino. E eu espero e trabalho para que esse dia chegue em breve”, acrescentou.