Investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e do IPO de Coimbra, em conjunto com especialistas de outras faculdades europeias, apresentaram um estudo a defender a implementação do rastreio do cancro do estômago com endoscopia associada à colonoscopia, de cinco em cinco anos, tendo concluído que resultaria na diminuição do número de casos e óbitos.
“Vivemos num país com uma elevada incidência de cancro gástrico, um cancro com elevada letalidade, uma vez que, na maioria dos casos, é silencioso e diagnosticado em estádios avançados”, afirma Diogo Libânio, professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP). “A detecção precoce só é possível com o rastreio em pessoas sem sintomas e através da vigilância de indivíduos de risco.”
Como primeiro autor de um estudo publicado em Fevereiro passado no European Journal of Gastroenterology and Hepatology, Diogo Libânio analisou a relação custo-efectividade do rastreio do cancro gástrico em três países europeus com diferentes incidências da doença: Portugal, com incidência intermédia a elevada; Itália, com incidência intermédia; e Países Baixos, onde a incidência é baixa.
Com 11 casos por cada 100 mil habitantes, Portugal apresenta uma incidência intermédia de cancro gástrico quando comparado com outros países. Contudo, se olharmos para a incidência bruta (não ajustada à idade), esse número dispara para 26 casos por 100 mil pessoas.
“Verificámos que, em Portugal, com a incidência actual de cancro gástrico e os custos actuais, há três estratégias de rastreio que são custo-efectivas. Em Portugal e em Itália, a associação de endoscopia digestiva alta à colonoscopia a cada cinco a dez anos é a estratégia mais adequada”, aponta o professor da FMUP.
Os resultados da investigação mostram que, em Portugal, o rastreio permitiria diminuir a incidência deste tipo de cancro de 2950 para 2065 diagnósticos por ano; bem como reduzir o número de mortes anuais de 2332 para 895.
“O nosso estudo mostra também que a inteligência artificial, ao melhorar a detecção de cancro gástrico e a diminuição dos falsos negativos, tornaria o rastreio mais custo-efectivo nos vários países, incluindo Portugal”, acrescenta Diogo Libânio. A inteligência artificial poderá ainda “auxiliar no diagnóstico e caracterização de condições pré-malignas, permitindo uma melhor identificação de doentes em maior risco de cancro gástrico e que beneficiam de vigilância específica”, além de “diminuir a necessidade de biópsias”.
Independentemente da realização de rastreios regulares, a prevenção do cancro do estômago implica examinar e tratar a infecção pela bactéria Helicobacter pylori, que se aloja no estômago, “não fumar, reduzir o consumo de sal, enchidos e fumados, aumentar o consumo de legumes e de fruta, praticar exercício físico e evitar a obesidade”, enumera Diogo Libânio.
Assinam ainda o estudo Mário Dinis Ribeiro, da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e do Centro de Investigação do IPO do Porto; Miguel Areia, do IPO de Coimbra; e investigadores da Universidade Sapienza, de Roma, da Universidade Humanitas, de Milão, e da Universidade de Erasmus, de Roterdão.