“Temos uma arquitetura comum a outros negócios da Sonae e estamos agora a autonomizar com um stack tecnológico mais moderno, escalável e cloud first”, diz ao JE o responsável de transformação digital, Felipe Ferreira. A retalhista está a trabalhar com as consultoras Accenture, EY e Deloitte e as tecnológicas SAP, Outsystems, UiPath e Atlassian, bem como a operadora de telecomunicações NOS.
O plano de digitalização da Worten tem “tudo e mais não sei o quê”, como a loja online. A empresa de vendas a retalho está a trabalhar com cerca de uma dezena de consultoras e tecnológicas para modernizar as operações, o que envolve tornar a arquitetura de sistemas de informação autónoma à do grupo ao qual pertence, a Sonae. O processo de “separação” dos softwares deverá prolongar-se durante mais ano e terminar até ao final de 2025, disse ao Jornal Económico (JE) o responsável de Transformação Digital da Worten.
“Estamos na reta final do programa de migração da arquitetura de sistemas. Temos uma arquitetura comum a outros negócios da Sonae e estamos agora a autonomizar com um stack tecnológico [conjunto de tecnologias ou linguagens de programação para desenvolver aplicações] mais moderno, escalável e cloud first, que permita que o tempo do desenvolvimento – a própria programação – seja tudo muito mais curto”, explicou Felipe Ferreira.
É uma transição que permitirá a empresa não estar tão dependente das ferramentas tecnológicas do grupo e dar fluidez à recolha e análise dos dados internos. O especialista de transformação digital lembra que existem “empresas que entram pelos nossos mercados” e, num ápice, “mudam as regras do jogo”, enumerando as plataformas Amazon, Aliexpress, Temu e Shein. Logo, a Worten encontrou na mudança de tecnologia, cultura de negócio e metodologia de trabalho (Agile), a forma de aumentar a resiliência e manter a competitividade.
Filipe Ferreira lança duas questões: Como é que uma empresa, num país pequeno como Portugal, continua competitiva? Qual é o papel da transformação digital, da inteligência artificial, nessa competitividade? “Não temos outra hipótese: ou queremos mesmo transformar-nos, colocando o digital como algo impulsionador dessa transformação, ou as empresas estão fadadas a terminar, porque o mundo está volátil, complexo e ambíguo. A grande prioridade das empresas deve ser torná-las um “animal” resiliente, evolutivo e adaptável, que se consiga moldar àquilo que acontece que não depende delas”, responde de seguida.
“A Worten é uma retalhista. Faz chegar os produtos – agora também serviços – dos fabricantes aos consumidores. Todos os marketplaces estão a jogar nesse campeonato, numa escala muito maior do que a nossa, portanto percebemos, desde muito cedo, que tínhamos de ser tão bons ou melhores. Sabíamos que tínhamos de estar preparados”, afirmou ao JE.
Até o software de gestão (ERP – Enterprise Resource Planning ou Planeamento de Recursos Empresariais) está a ser alterado para SAP. “É uma arquitetura mais distribuída. Conseguimos ter peças específicas para determinada função e, depois, atualizar esse stack tecnológico mais rapidamente. São processos que demoram bastante tempo, mas têm um payback bastante satisfatório”, detalha.
Além da alemã SAP, a Worten está a trabalhar com as consultoras Accenture, EY e Deloitte e as tecnológicas Outsystems, UiPath e Atlassian, bem como a operadora de telecomunicações NOS. A ferramenta de Business Analytics (BA) é da Microsoft (Azure).
No ano passado, a aposta em RPA – Robotic Process Automation e em “pouco código” envolveu um investimento de 60 mil euros para licenças. O objetivo foi essencialmente um: criar um Centro de Automação. E o resultado? Poupança de 53.657 horas por ano aos funcionários (966 mil euros em valor), redução de 62 mil euros em custos em outsourcing e requalificação dos profissionais.
Em 2022, para low-code houve um investimento de 60 mil euros em licenciamento (39 mil euros) e desenvolvimento (21 mil euros), que centralizou os dados e libertou 17.441 horas anuais aos colaboradores, o que equivale a um valor de 314 mil euros. Ainda assim, foi no segundo ano da pandemia que o capital alocado superou essa barreira: 90 mil euros.
Questionado sobre o montante para 2024, Felipe Ferreira admite que ronde também os 60 mil euros. “O orçamento nessas áreas continua bastante constante e o nosso objetivo é começar a pulverizar esse know-how pela organização. Ou seja, esse investimento foi muito virado para a criação do Centro de Automação, onde temos seis pessoas a trabalhar nas automações, mas o intuito é rentabilizar o conhecimento desse centro para o resto da organização”, esclarece.
Atualmente, esse Centro de Automação abrange cinco áreas na Worten: Serviços, Digital, Stocks (Inventários), Supply Chain (Cadeia de Abastecimeto) e Comercial, mas há outras que deverão seguir as mesmas pisadas do automatismo (em particular, das PowerApps), nomeadamente apoio ao cliente, controlo de loja, vendas, pessoas e estratégia, de acordo com o head of Transformação Digital.