Há política qb, experiência em dose recomendada e equilíbrio suficiente. Eis o governo possível, capaz de resistir e surpreender. Vamos por partes…
Seria quase impensável que Luís Montenegro não escolhesse para junto de si alguns dos mais próximos. Um primeiro-ministro sem os seus fiéis dificilmente sobreviveria num parlamento próximo do pântano político, com minas e armadilhas prontas a ser detonadas.
O presidente do PSD fez, nesse sentido, escolhas acertadas para pastas que darão dores de cabeça e que obrigaram a enorme ginástica negocial.
Olhemos, por exemplo, para a Presidência e Assuntos Parlamentares: dois ministérios com nomes experientes, capacidade de trabalho, e jogo de cintura suficiente para responder às muitas quezílias suscitadas em torno da atividade parlamentar e da produção legislativa.
Da mesma forma, a opção por dois ministros de Estado – um na figura do chefe da diplomacia e o outro na pasta das finanças – dá a Montenegro solidez e confiança. Com a Europa e o mundo a ajustar-se a um novo desenho de forças, Paulo Rangel possui contactos e uma visão externa que lhe darão ferramentas essenciais para desenhar os desafios do quadro geopolítico que se avizinha.
Quanto às Finanças, é comentário habitual entre quem já passou por gabinetes ministeriais que o melhor perfil é aquele que consegue dizer não aos restantes colegas de governo e em quem o primeiro-ministro possa confiar. Miranda Sarmento está longe de se assumir como um político forte, mas concentra as duas características na perfeição.
Ou seja, a política está representada no próximo governo em dose recomendada para enfrentar duros embates, sem que a experiência e a tecnicidade tenham sido postos de parte.
Com um regresso de peso e relevante: Castro Almeida, foi secretário de Estado do Desenvolvimento Regional, deputado e autarca, mas nunca deixou de pensar o país e olhar para os desequilíbrios territoriais.
Dizer, simplistamente, que Montenegro não conseguiu recrutar na sociedade civil é também uma falácia. Se nos debruçarmos com atenção, as escolhas para o Trabalho, Saúde e Educação – tudo pastas desafiantes – mostram bom senso e equilíbrio. São apostas seguras de rostos que trazem valor e qualidade à política nacional e à administração pública.
Depois, a aposta na novidade: num tempo em que os mais jovens se sentem desligados dos partidos tradicionais, a criação de uma pasta que junte a juventude e inovação permitirá, de forma inusitada face ao passado, trazer para a mesa os que até aqui se têm sentido esquecidos.
Ainda assim, nem tudo é positivo nas escolhas de Montenegro. A decisão de voltar a juntar Infraestruturas e Habitação numa só pasta é delicada face à complexidade dos dossiês que figuram nas duas áreas.
Miguel Pinto Luz tem a tarefa mais delicada e desafiante, numa altura em que o país terá de tomar decisões relevantes sobre a TAP, novo aeroporto, alta velocidade e concessões, sem esquecer a necessidade de dar respostas aos problemas no acesso à habitação.
Luís Montenegro, contra todas as expectativas, desenhou um governo sólido e equilibrado que, de uma forma ou de outra, poderá até surpreender pela longevidade. As expectativas eram baixas em relação aos nomes, são-no no que toca à duração da legislatura e isso poderá ser o maior trunfo do novo primeiro-ministro e do seu governo.