A luta feminista é a luta pelos direitos das mulheres, mas não se fica por aí: é a busca pela igualdade de género, de oportunidades. O Feminismo procura a justiça para todas as pessoas, num contexto de vida benéfico para as comunidades, com igualdade. Neste sentido, o Feminismo também é bom para os homens. De seguida apresentarei cinco das razões para isso.
As únicas pessoas que são a favor da perpetuação do Machismo — filho do Patriarcado, defensor da superioridade masculina, potenciador da dominação dos homens — ou o são por ignorância, ou por terem um largo benefício social e, ou, económico, com ele.
“Homem que é homem não chora”
Numa sociedade de alicerces machistas como a nossa, as estruturas de construção de masculinidade estão intrinsecamente ligadas ao conceito social de virilidade. Este conceito não passa disso mesmo, um mero conceito criado pela sociedade, que faz com que se ache um homem mais másculo quanto menos emoções ele mostrar. Ou seja, menos sensibilidade é igual a maior masculinidade, como se uma pessoa fosse mais forte conforme mais insensível é. Trata-se exatamente do contrário: fortes são as pessoas que se permitem a sentir, para lidarem em pleno com as situações.
Consequentemente, os homens tendem a suprimir emoções, a ter medo de as expressar, já que não querem ser alvo de julgamento e ver a sua masculinidade questionada. Ora, nesta atmosfera opressora, há graves consequências para a saúde mental dos homens. A masculinidade tradicional ou hegemónica (mais conhecida como “tóxica”, mas eu não sou fã desse termo, porque nem toda a masculinidade tem de o ser) é a base de educação de grande parte dos homens, em meninos e rapazes. Tendo em conta as restrições na expressão de emoções, a taxa de suicídio é maior em homens. São eles que procuram menos ajuda quando vêem a sua saúde mental em risco.
“Só é violada quem se põe a jeito”
É verdade que a maior parte das vítimas de violência sexual são mulheres. É também verdade que a grande maioria dos agressores ou violadores são homens, independentemente do género da vítima. No entanto, também é verdade que há muitos homens que sofrem violência sexual: 1 em cada 6 homens (Associação Quebrar o Silêncio).
Claro que quando se fala de violência perpetuada contra mulheres pelas mãos dos homens temos de falar de todo um contexto de dinâmicas de poder sexistas, mas isso não invalida a experiência de um homem vítima de violência sexual. É tão mau uma mulher ser violada, como um homem ser violado. Mesmo assim, graças à ideia preconcebida do homem insensível, eterno animal sexual, muitos homens têm vergonha de admitir que são vítimas.
“Corres como uma rapariga”
Segundo os ensinamentos machistas, o dever do homem em casal (heterossexual e cis, claro) é o de providenciar para a família. Se não consegue sustentar a família, está a falhar. Além disso, convém ter um “empregos de homem”. Se tiver empregos tidos como “mais femininos” é gozado, inferiorizado — como se faria com uma rapariga (e aqui vemos a noção machista de inferiorização da mulher).
Infelizmente, as imagens mentais que temos das profissões continuam contaminadas com preconceitos de género:
o médico
a cuidadora informal
a enfermeira
o bombeiro
a professora primária
a bailarina
Estas limitações de papéis sociais em contexto laboral fazem com que muitos homens limitem as suas opções, não vivendo a potencialidade dos seus gostos e habilidades, apenas para serem percebidos como mais másculos.
Se uma rapariga joga futebol, é chamada de maria-rapaz. Se um rapaz faz balé, é chamado de maricas. São pesos de preconceito bastante diferentes… Se o primeiro tem limitações de género pela atividade de futebol, associando-a a algo tido como masculino; no segundo, vemos não só uma crítica à falta de masculinidade tradicional, mas também a associação dessa falha à homossexualidade, como se ser homossexual fosse não só um insulto como um defeito.
Ora, aí está mais um ponto: a orientação sexual. O homem macho só gosta de mulheres, ensina-nos o machismo. Não recebe sexo anal. Mas o homem macho pode fazer sexo anal com mulheres, até é vangloriado por tal. E nunca irá admitir que um dedo no ânus lhe potencia o orgasmo. Nunca. Mais ainda, é considerado mais gay o homem que recebe do que o homem que penetra. Ao que é penetrado é-lhe atribuído um papel mais feminino, o que não admira, tendo em conta a construção social heteronormativa. Além disso, há um preconceito específico e descabido nesta área, com uma diferenciação entre “gays” e “maricas”. Como se ter gestos considerados mais femininos fizesse de alguém menos homem ou mais gay… Haja paciência. Deixem os homens viver a sua sexualidade em pleno.
“diz isso outra vez e parto-te a boca toda”
Segundo a masculinidade tradicional um homem tem de ser um gladiador a toda a hora: destemido, forte, que sozinho consegue fazer tudo, combater tudo e todos para ganhar. Aí está a sua glória, na vitória, através do controlo e da violência.
Este incentivo à violência não acontece apenas numa perspetiva de proteção, mas acima de tudo em fazer valer a sua opinião e presença. Assim sendo, um homem que é homem é dominador, tendo tudo (e todos/as) sob o seu controlo. A crença de que este é o modo certo de ação para se ser másculo, perpetua a violência, não só no sentido interno — de criar máscaras sociais de personalidade, com raiva e frustração acumuladas —, mas também em relação às pessoas à sua volta. Além disso, há uma maior propensão em se envolverem em conflitos físicos e situações arriscadas.
“és um homem ou és um rato?”
Graças à noção nociva do homem-gladiador, os homens tendem a ter uma rede limitada de apoio, que não seja só bros para falar de gajas, mas também apoio emocional. Por consequência, podem acabar a isolar-se socialmente quando têm problemas. É importante normalizar a partilha de emoções entre homens e conseguir ambientes familiares e de amizade que permitam a vulnerabilidade emocional, sem máscaras sociais.
Uma nota conclusiva: “Ser homem” significa o que o homem quiser.
Precisamos de desfazer as caixas sociais limitadoras de género. Por um lado podem ser vistas como uma segurança — “se eu cumprir com todas estas regras, ninguém vai duvidar da minha masculinidade” —, mas, na verdade, estão muito mais a suprimir a potencialidade de liberdade e evolução dos homens.
Para ser homem não é preciso ser gladiador solitário. Há formas mais saudáveis e agradáveis de viver a masculinidade. Nem toda a masculinidade tem de ser “tóxica”. A limitação do que é “ser homem” faz mal a toda a gente de todos os géneros, de todas as orientações sexuais.
Dito isto, a pré-existência desta forma nociva de educação de rapazes não serve como justificação para dinâmicas de poder sexistas opressoras, apenas explica por que perpetuamos estes comportamentos violentos que não favorecem, em nada, a busca de justiça do mundo. Um mundo mais justo é um mundo feminista. Juntem-se à luta.