Arruda dos Vinhos, concelho da região Oeste, a 20 minutos de Lisboa, incorpora nas tradições a gastronomia secular das carnes de capoeira (coelho, galinha, galo e pato), reforçada pelas crenças populares que anunciam que neste território “à mesa a galinha é rainha e o bacalhau é rei”. Caracterizado por vales soalheiros ricos em vinhedos, que afinal deram nome à esta vila e sede de concelho, mas também searas, Arruda dos Vinhos conflui numa paisagem única a que os locais chamam carinhosamente de “Manta de Retalhos”. Repleta de misticismo, é tida como terra das famosas curandeiras “Bruxas d’Arruda”, descendentes da mesma família de mulheres, com conhecimentos herdados de Comendadeiras da Ordem de Santiago, casadas com históricos cavaleiros. Em homenagem nasceu o doce regional de Arruda dos Vinhos, precisamente “Bruxas d’Arruda”.
Palco de episódios marcantes na história de Portugal e da Europa, a região resistiu às Invasões Francesas graças à força da população que apoiou a construção das estruturas militares que edificaram as Linhas de Torres, hoje parte de uma aliciante rota turística, incluindo monumentos nacionais e um centro cultural temático.
Arruda dos Vinhos
CM Arruda dos Vinhos
O Grande Rio da Pipa
Em Arruda dos Vinhos, as paisagens naturais e arquitetónicas são acompanhadas pela história da água, ou não tivesse sido o Rio Grande da Pipa, conforme a tradição oral, uma rota de escoamento vinícola da região em séculos anteriores. Viaje por estes “caminhos de água” a partir de uma rota devidamente identificada e que parte do Parque Urbano das Rotas, passa o Fontanário da Rua Cândido dos Reis, por paisagens de ruralidade, mas também urbanidade. Continua até aos Lavadouros e sobe a rua. Com paragem nas Cascatas, com marcas dos povos que habitaram Arruda dos Vinhos., ruma até ao Centro Cultural do Morgado, onde o visitante se pode deslumbrar com o jardim de século XVIII, espaço de recreio onde a água é eixo central da arquitetura. Depois de observar o Chafariz Pombalino de 1789, a rota termina junto aos arcos do Antigo Aqueduto.
Quinta de S. Sebastião, em Arruda dos Vinhos
A cultura do vinho
Reza a história que Arruda dos Vinhos sempre foi uma importante área de produção vinícola, atualmente integrada na região dos Vinhos de Lisboa. Visite a Quinta de S. Sebastião (Tel. 263978549), onde se destaca o belo edifício do século XVII. Conheça a capela, adega, passeie pela vinha e descubra a mina e o picadeiro. Terras férteis, influência marítima e pequenos cursos de água resultam num microclima propício à produção de vinho nesta propriedade com história. Fique para almoçar e, de jipe, siga até ao topo da serra para o miradouro de vista deslumbrante e baloiço para admirar o pôr-do-sol. A visita pode ser complementada com outras atividades, nomeadamente dressage. Existem várias outras adegas merecedoras de visita como a Adega Cooperativa de Arruda dos Vinhos, a Casa Agrícola Ribeiro Corrêa, Condado Portucalense e Ezequiel Carvalho. Refira-se ainda que, anualmente, em outubro, decorre a tradicional e concorrida Festa do Vinho e da Vinha, com a participação dos principais produtores do concelho.
Centro de Interpretação das Linhas de Torres
Linhas de Torres
As Linhas de Torres, construídas a Norte de Lisboa após as Invasões Francesas, entre 1809 e 1810, por ordem de Wellington, general do exército inglês, tinham como função a defesa de Lisboa de uma 3.ª invasão. Aproveitou a geomorfologia da região, construiu fortes, redutos e baterias, que formam o conjunto das Linhas de Torres. Visite o Forte do Cego, localizado à direita do desfiladeiro de Matos, que protegia o Vale de Arruda, juntamente com o Forte da Carvalha, que tem o formato de “pata de dragão”. Ambos são Monumentos Nacionais. O Centro de Interpretação das Linhas de Torres em Arruda dos Vinhos está localizado no Centro Cultural do Morgado, com possibilidade de uso de óculos de realidade virtual e exploração de realidade aumentada. Descubra um troço da GR30 – Grande Rota das Linhas Torres que atravessa o município de Arruda dos Vinhos, por caminhos em tempos percorridos a cavalo pelas tropas aliadas.
Circuito do Azulejo
Com uma duração aproximada de duas horas, a sugestão é que percorra várias coleções de azulejos. Este trajeto proporciona uma viagem por vários séculos de história do azulejo em ambientes distintos, passa pelo Palácio do Morgado, o seu exuberante jardim e capela. O Palácio Morgado, atualmente Biblioteca Municipal Irene Lisboa, escritora portuguesa natural de Arruda dos Vinhos, e termina com o vasto acervo de azulejaria da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Salvação.
Moinho À do Mourão
Moinhos na paisagem
O relevo acentuado do concelho de Arruda dos Vinhos proporcionou o surgimento de moinhos de vento que moíam cereais até meados do séc. XX. Só no território ainda existem 43 moinhos. Na pequena freguesia de São Tiago dos Velhos que encontra o recém-renovado Moinho de À-do-Mourão, onde, mediante marcação com antecedência, é possível fazer uma visita guiada e vê-lo em funcionamento (freguesia@stiagovelhos.pt).
Bruxas d’Arruda
Bruxinhas muito doces
Criadas há 20 anos por José Filipe de Jesus Ramalheiro, proprietário da antiga Confeitaria Flamingo, as Bruxas d’Arruda são mini tortas de noz, recheadas com doce de ovos e cobertas com um fio de chocolate, que pode encontrar na Loja G Garrafeira Gourmet Gifts (Rua Cândido dos Reis, 74, Arruda dos Vinhos. Tel. 263098118). Mas há mais doces típicos dignos de prova como os Pastéis de São Lourenço, receita recuperada por Cláudia Lourenço, cujos trisavôs tinham uma padaria em Arranhó em meados dos anos 50. O pastel é feito com farinha, ovos, canela, mel, frutos secos e açúcar em pó, e está disponível por encomenda (Rua 25 de Abril, 54, Arranhó). No Centro Cultural do Morgado conheça a Oficina do Artesão e a boneca feita em ráfia vestida com chita, uma bruxinha artesanal e assista ao trabalho dos artesãos. Saiba tudo sobre a Erva Arruda, que cresce espontaneamente no campo, mas que goza da fama de ser uma erva da sorte.
Coelho desossado no restaurante Sonho Imprevisto
Carnes de capoeira
A mostra gastronómica Carnes de Capoeira decorre durante o mês de maio em 14 restaurantes e dá a conhecer pratos tradicionais locais e produtos endógenos, especialidades confecionadas com as típicas carnes de capoeira são uma viagem pela paisagem de Arruda dos Vinhos. Em degustação estão “Pato assado no forno com laranja”, “Codornizes à Portuguesa (fritas em azeite com piripiri), “Coelho no churrasco com molho à Moleiro’s”, “Asas de frango fritas” e “Tiras de frango crocantes”. Todos os pratos são harmonizados com vinhos da região. Pode consultar AQUI as propostas dos restaurantes aderentes à mostra Carnes de Capoeira . Ao longo do ano destacam-se outras mostras gastronómicas no concelho: “Ementa Oitocentista”, no mês de junho, em que os restaurantes elaboram receitas do século XIX e “À Mesa com os Generais” que comemora a gastronomia oitocentista e o Dia Nacional das Linhas de Torres (20 de outubro).
Bacalhau do restaurante O Fuso
Romaria ao bacalhau
Restaurante recomendado pelo Guia Boa Cama Boa mesa de 2024, distinguido com o Selo de Qualidade Recheio, “O Fuso”, conta com 51 anos de existência. É casa de família, agora na 2ª geração. Tem dois pratos emblemáticos que serve generosamente e com qualidade, sempre preparados na grelha e brasa de lenha, o “Bacalhau à Fuso” e o “Costeletão de novilho”. O fiel amigo é o mais requisitado, sempre regado com azeite quente e alho, e acompanhado por batata cozida, salada ou legumes, ao gosto do cliente. Para as carnes há também batatinha frita. Tire partido das sugestões vínicas da região
Rua Cândido dos Reis, 92/94, Arruda dos Vinhos. Tel. 263975121
Onde dormir
Em Arruda dos Vinhos encontra-se a Quintinha dos Cavalos, uma unidade de turismo em espaço rural, com animais, póneis, galos, patos e, claro, cavalos. Tem capacidade para alojar até quatro pessoas.
Rua principal, 28, Sabugos, Arruda dos Vinhos. Tel.961391491
Arruda dos Vinhos
Turismo do Centro de Portugal
Roteiro de fim de semana é uma iniciativa Boa Cama Boa Mesa, com o apoio do Recheio, que semanalmente, ao longo do ano de 2024 vai dar a conhecer os principais eventos gastronómicos, entre festivais, feiras e mostras, que promovem regiões, restaurantes e produtos locais.
Este projeto é apoiado por patrocinadores, sendo todo o conteúdo criado, editado e produzido pelo Expresso (ver código de conduta), sem interferência externa.”