Se o primeiro mandato de Donald Trump na Casa Branca foi simpático para a indústria petrolífera, um hipotético segundo não deve fugir do mesmo tom. E, segundo revela esta quinta-feira o Washington Post, o antigo presidente e candidato republicano para as próximas presidenciais está a tentar angariar ativamente o apoio das empresas de indústrias fósseis.
Trump terá sugerido uma clara troca de favores aos maiores patrões de empresas petrolíferas norte-americanas, pedindo cerca de 1000 milhões de dólares (cerca de 927 milhões de euros) para financiar a sua campanha para a Presidência; em troca, caso seja eleito, irá reverter imediatamente todas as leis que a administração Biden impôs para regular a indústria, especialmente as que tentam combater a poluição desenfreada e os riscos que o setor representa para o ambiente.
A forma direta e gritante como Trump, inadvertidamente (ou não), fez a sugestão num jantar no seu resort de Mar-a-Lago, na Flórida, chocou até alguns dos que estavam presentes no evento, segundo conta o Washington Post.
No jantar encontravam-se cerca de 20 executivos de algumas das empresas mais poluentes do mundo, como a Chevron, Exxon e Occidental Petroleum, que viram o governo de Joe Biden limitar-lhes em alguma medida a forma como operavam sem regulação. Trump também prometeu que permitiria um aumento das explorações petrolíferas no Golfo do México e que levantaria restrições a escavações no Alasca – algo que a população indígena local e várias organizações criticam, dada a enorme biodiversidade da região, crucial para a sustentabilidade do planeta.
O antigo presidente considerou ainda que uma medida tomada pelo seu rival nas próximas presidenciais, de pausar novas permissões para a exportação de gás natural, eram “bombas climáticas”.
“Vamos fazer isso no primeiro dia”, garantiu Trump, segundo fontes anónimas que estiveram presentes no jantar.
O namoro entre o líder extremista republicano e as empresas de petróleo não é recente. Há muito que Donald Trump é um ardente defensor da exploração desenfreada de combustíveis fósseis e, mesmo enquanto era Presidente dos EUA, recusou admitir a existência de alterações climáticas ou o impacto das ações da humanidade na deterioração do planeta.
Criticado pelas rganizações ambientais
Nesta campanha, Trump por várias vezes fez discursos em que defendeu as empresas e patrões desta indústria. E, num espaço de perguntas com alguns eleitores, cunhou mais uma expressão ao seu jeito: “Escava, bebé, escava”.
As organizações ambientais não perderam tempo em criticar o suposto acordo entre o candidato a Presidente e as empresas petrolíferas. Ao The Guardian, Christina Polizzi, da organização Climate Power, afirmou que Trump está “a colocar o futuro do planeta à venda”.
“Ele está nos bolsos do grande petróleo – ele deu-lhes [às empresas] 25 mil milhões de dólares em isenções fiscais no seu primeiro mandato – e agora é claro que está disposto a fazer tudo o que o grande petróleo quiser num potencial segundo mandato”, avisou Polizzi.
Já Jordan Libowitz, de um regular independente Citizens for Responsability and Ethics (Crew), que monitoriza a relação entre políticos e os grupos de lóbi, questionou a existência de quid pro quo no acordo proposto no jantar na Flórida. Para Libowitz, cuja organização está a investigar se há legalidade na sugestão, o encontro foi “gritante”. “Os políticos às vezes piscam o olho, não dizem recolham mil milhões para mim e eu livro-vos das regulações que quiserem’”.
Apesar dos alertas dos ambientalistas, as preocupações com a crise climática dificilmente serão preponderantes para futuros eleitores nas presidenciais de novembro de 2024. E quanto a essas, Trump continua a disputar a liderança das sondagens com Joe Biden, surgindo à frente do atual presidente – e seu anterior concorrente nas presidenciais de 2020, que Biden venceu – em vários estudos de opinião.
Segundo o agregador de sondagens do site FiveThirtyEight, Trump tem uma pequena margem de vantagem sobre Joe Biden, com 41,4% para o republicano face aos 40,7% do democrata. Robert Kennedy Jr., o controverso democrata e notável negacionista que lançou uma candidatura independente, surge em terceiro com 10,1%. A última sondagem do YouGov/Economist dava um empate técnico entre Trump e Biden, os dois mais velhos candidatos na história das presidenciais norte-americanas.