Texto publicado originalmente na edição do Expresso de 28 de março de 2015, e recuperada a propósito da morte de Pierre Gonnord, a 21 de abril de 2024.
Maria Helena nunca ouviu Frank Sinatra e não conhece a letra de ‘New York, New York’. Mas é o seu rosto, os seus seios e os seus filhos que estarão expostos até 25 de abril na galeria de arte Hasted Kraeutler, em Nova Iorque. A beleza de Maria Helena Silva Cabeças já foi notícia em Portugal e em Inglaterra, é partilhada nas redes sociais, mas, vista de perto, aos 37 anos, com a pele queimada pelo sol, esta mulher cigana revela preocupações bem mais urgentes: todos os dias sabe onde acorda, mas nunca onde irá dormir.
Tudo parecia destinado para que Maria Helena fosse mais um rosto sem nome entre os cerca de quatro mil ciganos nómadas que se julga circularem por Portugal. Mas há um ano, na estrada entre Estremoz e Évora, tropeçou no fotógrafo francês Pierre Gonnord. Ia com a família na carroça e, desde então, Pedro, como o chama, tornou-se um amigo. Fotografou-a e aos filhos. Aos homens idosos da família, à viúva Maximiliana, aos cavalos e às ovelhas. Fixadas as imagens, começaram uma viagem que não os fez escapar da circunstância de deslocados.
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