“Envergonhou-me profundamente como deputado ter assistido à forma como o Chega e André Ventura trataram uma mulher que fez aquilo que qualquer mãe em Portugal faria para defender os seus filhos”, afirmou Pedro Nuno Santos à margem do cumprimento entre os presidentes das câmaras do Porto e Vila Nova de Gaia na ponte Luiz I, que une as duas cidades, para assinalar o São João.
O socialista, que vai passar a noite de São João em Vila Nova de Gaia a convite do presidente de câmara, o socialista Eduardo Vítor Rodrigues, assumiu que o Chega representa tudo aquilo que quer combater na sociedade portuguesa, acrescentando que a postura de André Ventura na audição à mãe das crianças foi “a degradação máxima do parlamento”.
“O líder do Chega revelou uma autêntica e total insensibilidade humana para com os outros, uma total ausência de empatia”, vincou.
Pedro Nuno Santos disse “ter quase a certeza” de que a maioria dos eleitores que votaram no Chega nas eleições legislativas de março estão envergonhados pela forma como “o político em quem votaram tratou uma mãe em direto”.
A mãe das gémeas disse na sexta-feira à comissão de inquérito que nunca conheceu ou se dirigiu pessoalmente ao Presidente da República ou ao filho e indicou que mentiu quando falou numa rede de influência que favoreceu as crianças.
“Nunca conheci nem me dirigi pessoalmente ao senhor Presidente da República ou ao seu filho, Dr. Nuno Rebelo de Sousa”, afirmou Daniela Martins.
Antes desta audição, a comissão parlamentar de inquérito ao caso das gémeas tratadas no Hospital de Santa Maria voltou a requerer a presença do filho do Presidente da República, alegando que a sua recusa em comparecer “consubstancia um crime de desobediência”.
Em causa neste processo, que tem como arguidos o ex-secretário de Estado da Saúde Lacerda Sales e Nuno Rebelo de Sousa, filho do Presidente da República, está o tratamento hospitalar das duas crianças luso-brasileiras que receberam o medicamento Zolgensma. Com um custo de dois milhões de euros por pessoa, este fármaco tem como objetivo controlar a propagação da atrofia muscular espinal, uma doença neurodegenerativa.
O caso está ainda a ser investigado pela Procuradoria-Geral da República, mas a Inspeção-Geral das Atividades em Saúde já concluiu que o acesso à consulta de neuropediatria destas crianças foi ilegal.
Também uma auditoria interna do Hospital Santa Maria concluiu que a marcação de uma primeira consulta hospitalar pela Secretaria de Estado da Saúde foi a única exceção ao cumprimento das regras neste caso.