O cabeça de lista do Livre às Europeias discursou pela primeira vez no último dia do Congresso, na Costa de Caparica, e apelou à mobilização “verde” com vista à conquista de um grupo parlamentar nas eleições de 9 de junho.
“Sim, é possível eleger para o Parlamento Europeu (PE) e para isso precisamos de todos. Somos o partido das utopias, mas esta é uma realidade: todos juntos vamos conseguir uma delegação do Livre na Europa”, declarou Francisco Paupério num tom conciliador, sob os aplausos de cerca de duas centenas de congressistas, após uma eleição polémica nas primárias abertas.
Afirmando que a UE necessita de colocar a ecologia no centro das suas políticas, sendo o mais importante combate dos dias de hoje, com “décadas de atraso”, o biólogo, de 29 anos, considerou que só o Livre poderá contribuir para o reforço dos Verdes Europeus no PE.
“O tempo da coragem chegou, porque temos hoje oportunidade de eleger para o Parlamento Europeu e de poder contribuir para um Grupo Verde. Hoje, mais do que nunca, é esta a coragem que falta ao Parlamento onde a defesa da ecologia está em perigo“, criticou.
Os resultados das eleições legislativas servem de impulso para o partido da papoila para os próximos sufrágios, apesar da polémica que envolveu a eleição do cabeça de lista “No passado dia 10 de março, o país deu-nos um sinal de confiança e o nosso dever é reforçá-lo. Nós sabemos a cor da liberdade e vamos dizê-lo a toda a gente: a liberdade é verde e queremos levá-la para a Europa”, disse perentório.
XIV Congresso do LIVRE, no Pavilhão Municipal da Costa da Caparica.
Paulo Muacho, Isabel Mendes Lopes e Rui Tavares
Ana Baiao
O programa eleitoral do Livre para as europeias é um “compromisso” para a mudança da UE, sustentou, apontando para a necessidade de um novo pacto verde e social. “Temos um compromisso para mudar a UE”, reforçou.
Dos Direitos Humanos à diplomacia, Paupério saiu em defesa do apoio “firme” à Ucrânia e insistiu no reconhecimento do Estado da Palestina, uma das questões mais abordadas durante os dois dias da reunião magna. E não deixou de relacionar com o concurso da Eurovisão, que foi marcado por protestos pró-Palestina e acusações de assédio por parte de Israel: “A luta pela paz não está a concurso. Não é o televoto que trava o genocídio”, atirou.
E alertou ainda para os riscos das forças populistas e da extrema-direita em Portugal e na Europa, afirmando que hoje estamos “ameaçados por vozes extremistas que querem erudir os nossos valores” democráticos e que cabe aos restantes partidos lutar todos os dias pela defesa dos direitos fundamentais.
XIV Congresso do LIVRE, no Pavilhão Municipal da Costa da Caparica.
Filipa Pinto
Ana Baiao
Também a número dois da lista, Filipa Pinto, considerou que o Livre está hoje em condições de se juntar ao PE e reforçar o grupo dos Verdes Europeus. “Ainda podemos sonhar mais alto. Estamos hoje num patamar que já não é sonho, podemos pôr em prática as nossas ideias para o futuro de Portugal e da Europa”, advogou, advertindo ainda para os “obstáculos tremendos” que a UE enfrenta com os conflitos e a expansão da extrema-direita.
A UE, frisou, deve continuar a posicionar-se como o farol dos Direitos Humanos e democracia, apontando para a Carta dos Direitos Fundamentais da UE, que zela pela igualdade e solidariedade.
Programa eleitoral com foco no Ambiente, Habitação e Asilo
O programa eleitoral do Livre para as Europeias foi aprovado este domingo no XIV Congresso do partido, na Costa de Caparica, com 162 votos a favor, 12 votos contra e nenhuma abstenção. Trata-se de um programa que dá prioridade à Habitação “acessível” e a um “novo Sistema Europeu Comum de Asilo”.
Sob o titulo “A União do Futuro”, o documento foi alvo de 86 emendas durante os trabalhos, com pouca discussão de fundo e mais acertos a pormenores, com algumas afinações relativas a áreas como o Ambiente, Saúde, Educação, Emigração e Democracia.
“Nós queremos lutar por um PE mais verde, mais progressista e temos os candidatos certos para o conseguir. Vamos eleger Francisco Paupério e Filipa Pinto”, declarou logo no sábado Patrícia Robalo, mandatária da candidatura pela Europa.
O trabalho do partido começou através de revisão do programa para eleições europeias de 2019 atualizado aos dias de hoje, face aos novos desafios geopolíticos e novas ameaças, como a extrema-direita e contou com as contribuições de apoiantes e membros da sociedade civil na lógica da democracia participativa do Livre.
XIV Congresso do LIVRE, no Pavilhão Municipal da Costa da Caparica.
Rui Tavares abraça Filipa Pinto
Ana Baiao
Durante o primeiro dia de trabalhos foram discutidas individualmente 37 emendas e no segundo dia houve 49 para votar conjuntamente. O novo Pacto Verde e Social é a medida bandeira do partido, que sublinha que este será o ultimo mandato europeu até 2030 para apostar na descarbonização da economia e contribuir para metas climáticas, através dos transportes e energias renováveis.
No campo da Habitação, propõe a criação de um plano europeu para garantir habitação “acessível”, com destaque para o alargamento das linhas de financiamento do Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU) via Banco do Investimento Europeu (BIE).
Já a nível social, o Livre insiste na necessidade de garantir o respeito pelos direitos humanos, comprometendo-se a lutar pela igualdade de género e minorias para assegurar “nem um passo atrás” relativamente a estas matérias. E propõe ainda um “novo Sistema Europeu Comum de Asilo (SECA), contra a Europa ”fortaleza” que respeite as leis internacionais de quem escolhe o velho continente como porto “seguro”.
O XIV Congresso do Livre termina este domingo com o anúncio dos novos órgãos para o mandato 2024-2026 e um discurso de encerramento por Rui Tavares.