Depois de um fim de semana de tensão no gabinete de guerra israelita, com uma ameaça de demissão por parte de um dos seus membros, e nas ruas, onde dezenas de pessoas voltaram a juntar-se para pedir a demissão de Benjamin Netanyahu e a realização de eleições, o primeiro-ministro de Israel foi, esta segunda-feira, alvo de um pedido de mandado de captura internacional por parte do Tribunal Penal Internacional (TPI) – que também abrange o ministro da Defesa Yoav Gallant e três altos funcionários do Hamas, Yahya Sinwar, líder da organização, Mohammed Al-Masri, comandante das Brigadas Al-Qassam, e Ismail Haniyeh, chefe do gabinete político.
Netanyahu que, como os restantes visados pelo tribunal, é acusado de diversos crimes de guerra e crimes contra a humanidade, classificou a decisão anunciada pelo procurador-geral Karim Khan como uma “completa distorção da realidade”. “Rejeito com repugnância a comparação do procurador de Haia entre o democrático Israel e os assassinos em série do Hamas”, afirmou numa mensagem de vídeo reproduzida pelo ‘Times of Israel’.
O chefe do Governo israelita foi mais longe nas suas críticas às deliberações do TPI. “Com que autoridade ousam comparar os monstros do Hamas com os soldados das Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês), o Exército mais moral do mundo?”, questionou Netanyahu, referindo que o pedido de mandado de captura é “exatamente o aspeto do ‘novo antissemitismo”. Já em dezembro, o primeiro-ministro israelita tinha declarado que submeter Israel a qualquer investigação relacionada com crimes de guerra constituía “puro antissemitismo”.
Numa reunião do grupo parlamentar do seu partido, Likud, Benjamin Netanyahu descreveu o requerimento do TPI como “um ultraje político”. “Eles não nos vão intimidar e vamos continuar a guerra até que os reféns sejam libertados e o Hamas seja destruído”, garantiu, citado pela CNN.
Ao longo do dia, vários membros do Governo israelita manifestaram a sua indignação face ao pedido do TPI. Benny Gantz, ministro sem pasta e membro do gabinete de guerra, chamou-lhe “um crime de proporções históricas”; o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich escreveu, numa publicação do X, que “desde a propaganda nazi que não se via uma tal demonstração de hipocrisia e de ódio aos judeus como a do Tribunal de Haia”; e o ministro dos Negócios Estrangeiros, Israel Katz, considerou a decisão do TPI “escandalosa”, anunciando a criação de um centro de comando especial para lutar contra ela.
Também o Presidente dos EUA, aliado de longa data de Israel que, nos últimos meses, se tem distanciado de Telavive por se opor a uma operação de larga escala em Rafah, caracterizou o pedido de mandado de captura contra Israel como “ultrajante”. “Permitam-me que seja claro: independentemente do que este procurador possa insinuar, não existe qualquer equivalência – nenhuma – entre Israel e o Hamas”, declarou Joe Biden em comunicado. “Estaremos sempre ao lado de Israel contra as ameaças à sua segurança.”
O Hamas acredita igualmente que a decisão do TPI “equipara a vítima ao carrasco”, disse um alto funcionário da organização paramilitar, Sami Abu Zuhri, admitindo que a deliberação encoraja Israel a continuar a sua “guerra de extermínio em Gaza”, impressão partilhada por Wasel Abu Youssef, funcionário da Organização para a Libertação da Palestina (OLP). “O TPI tem de emitir mandados de captura contra os funcionários israelitas que continuam a cometer crimes de genocídio na Faixa de Gaza”, instou. Em comunicado, o Hamas pediu a revogação dos mandados de captura emitidos contra os seus dirigentes.
O pedido de mandado de captura não deverá ter repercussões imediatas, tirando o aprofundamento do isolamento de Israel na cena internacional. Depois de submetido o requerimento a um painel de pré-julgamento, os três juízes que o compõem têm dois meses para avaliar as provas e determinar se o processo pode avançar, resume a Al Jazeera. No entanto, Israel não é membro do TIP, portanto, mesmo que os mandados de captura sejam emitidos, Netanyahu e Gallant não correm qualquer risco de serem julgados no imediato. A decisão pode dificultar as deslocações dos líderes israelitas, assim como do Hamas, ao estrangeiro.
OUTRAS NOTÍCIAS QUE MARCARAM O DIA
⇒ Israel vai alargar a sua operação terrestre em Rafah, cidade no sul da Faixa de Gaza que tem sido o foco da sua ação militar nas últimas semanas. A informação foi divulgada pelo ministro da Defesa israelita num encontro com o conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, Jake Sullivan. Yoav Gallant vincou que o reforço dos combates naquela zona têm “o objetivo de desmantelar o Hamas e recuperar os reféns”, disse, citado pela Al Jazeera. Em duas semanas, terão fugido de Rafah mais de 810 mil pessoas, declarou a agência da ONU para os refugiados palestinianos (UNRWA).
⇒ O presidente do Comité Paralímpico Internacional (IPC) disse, esta segunda-feira, que não há razão para suspender a participação de Israel nos Jogos Paralímpicos, em resposta a vários apelos de boicote que invocam semelhanças entre a ação israelita e a invasão russa da Ucrânia. “Não queremos ser guiados pelos conflitos em todo o mundo. Penso que a mensagem é inversa, ou seja, que mesmo que haja países em conflito, mesmo nas situações mais difíceis e desafiantes, o apoio pode continuar a ser um farol de esperança”, afirmou Andrew Parsons, citado pela Reuters.