A recente abertura dos aliados da NATO sobre a utilização de armas ocidentais em território russo continua a gerar um intenso debate e, esta sexta-feira, o secretário-geral da aliança procurou colocar água na fervura. Após uma reunião com os ministros dos Negócios Estrangeiros da UE, em Praga, Jens Stoltenberg mostrou-se confiante de que as forças ucranianas vão usar as armas “de acordo com o direito internacional e de forma responsável”.
“A Rússia atacou a Ucrânia e esta tem o direito de se defender, o que inclui também atacar alvos militares legítimos dentro da Rússia”, disse Stoltenberg, acrescentando que é “muito difícil para a Ucrânia defender-se se não lhe for permitido utilizar armas avançadas para repelir esses ataques”.
Na quinta-feira, os EUA anunciaram uma mudança na sua política militar relativamente à Ucrânia, passando a permitir um uso “limitado” de armas suas pelas tropas ucranianas. O presidente francês, Emmanuel Macron, já tinha assumido há dias o seu apoio pela medida e, esta sexta-feira, a Alemanha seguiu o exemplo.
O Kremlin, previsivelmente, não gostou da tomada de posição da NATO, e dirigiu várias ameaças aos EUA, apontando nomeadamente para o seu arsenal nuclear. O antigo Presidente russo e influente dirigente, Dmitry Medvedev, avisou através do Telegram que o uso das armas pela Ucrânia será considerado pela Rússia como se fossem controladas pelo Ocidente.
“Isto não é assistência militar, é participação na guerra contra nós. E tais ações podem tornar-se num casus belli [caso de guerra]”, disse Medvedev, reiterando que os aliados da NATO estão a cometer um “erro fatal” se pensarem que a Rússia está a fazer ‘bluff’ sobre as suas armas nucleares.
Volodymyr Zelensky, Emmanuel Macron e Vladimir Putin, em 2019
IAN LANGSDON
Guerra na Ucrânia
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Zelensky: Russos “riem-se” e “caçam” ucranianos
Numa entrevista em exclusivo ao The Guardian, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky sublinhou que o atraso na entrega de armas pelo Congresso norte-americano, bem como a relutância em permitir à Ucrânia usar armas em território russo (até agora), tem levado a uma “caça” contra o povo do país.
Zelensky, contudo, pediu que os EUA dêem mais um passo no seu apoio, apelando a que o uso de armas ocidentais se estenda a armas “poderosas” de longo alcance.
“Eu acho que é absolutamente ilógico ter armas ocidentais e assistir aos homicidas, terroristas, que nos matam a partir do lado russo. Acho que por vezes eles riem-se desta situação. É como caçar para eles, caçar pessoas. Eles percebem que nós os conseguimos ver, mas não conseguimos tocar-lhes”, lamentou.
O presidente ucraniano tocou em vários aspetos da guerra na entrevista, contando que as armas enviadas pelos EUA estão a demorar a chegar à linha da frente, no leste do país; comparou Vladimir Putin a Hitler, distinguindo-os porque “Putin não é maluco, é perigoso, o que é muito mais assustador”; e pediu ajuda ao antigo primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, que foi um grande aliado da Ucrânia, para que este convença Donald Trump a mudar a opinião dos republicanos conservadores sobre o apoio ao país no Congresso dos EUA.
Outras notícias
> Ataques russos contra Kharkiv, no nordeste da Ucrânia, causaram três mortos e 23 feridos, anunciaram esta sexta-feira as autoridades, depois de os EUA terem autorizado Kiev a usar armamento norte-americano em solo russo Kharkiv tem sido alvo quase diário de bombardeamentos vindos principalmente de território russo. Moscovo lançou uma ofensiva na região no início de maio e tem estado a ganhar terreno;
> A China declarou esta sexta-feira que será difícil participar na Cimeira de Paz na Ucrânia, marcada para junho na Suíça, por considerar que essa reunião não trará resultados substanciais para a restauração da paz. Pequim sempre insistiu que a conferência deveria atender a três pontos, nomeadamente “o seu reconhecimento pela Rússia e pela Ucrânia, a participação igual de todas as partes e um debate justo de todos os planos de paz”, argumentou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Mao Ning, numa conferência de imprensa;
> A Associação de Russos Livres vai homenagear dia 4 de junho em Lisboa o falecido opositor russo Alexei Navalny, numa marcha também contra o “regime ilegítimo” de Vladimir Putin e a guerra na Ucrânia. Os ativistas, que se vão concentrar no Memorial a Navalny, na Rua Visconde de Santarém, em Lisboa, pretendem utilizar máscaras com o retrato do opositor russo e marchar rumo à Praça dos Restauradores “ao som de canções antiguerra e declarando citações de Alexei”, adiantou hoje, em comunicado enviado à agência Lusa;
> Zelensky terminou uma longa viagem pela Europa à procura de novos acordos militares, assinando na Suécia uma série de acordos bilaterais com os cinco países nórdicos. O primeiro-ministro sueco, Ulf Kristersson, elogiou os ucranianos por “lutarem pela segurança e liberdade” dos nórdicos, citado pela Sky News;
> A Turquia rejeita uma “participação” da NATO no conflito na Ucrânia, afirmou hoje o ministro dos Negócios Estrangeiros Hakan Fidan em Praga. “Apoiamos o prosseguimento da ajuda à Ucrânia e a capacidade de a Ucrânia assegurar a dissuasão, mas não pretendemos que a NATO participe na guerra”, afirmou o chefe da diplomacia turca.