Corria o ano 2017 quando Ricardo Costa criou o “Departamento da Felicidade” no grupo Bernardo da Costa. “Se Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos fundou um Ministério da Felicidade, tendo a audácia e coragem de cuidar do bem-estar dos seus cidadãos, porque uma empresa não o pode fazer?”, questiona o chairman da Bernardo da Costa, admitindo que este foi também um legado herdado do avô, do pai e do tio, que sempre integraram os trabalhadores na família Bernardo da Costa. Porém, admite ter sido chamado “lamechas” e “louco”. Atualmente a empresa investe 10% do resultado líquido nas atividades deste departamento.
Ricardo Costa diz não conseguir medir o quanto mais produtivos são os seus funcionários (atualmente 300 repartidos por oito áreas distintas), mas tem indicadores que sugerem que está no caminho certo, como a facilidade em atrair talento. No entanto, cita estudos, como os da empresa americana Gallup, que revelam que trabalhadores felizes e motivados são cerca de 20% mais produtivos, enquanto trabalhadores insatisfeitos são 30% menos produtivos. “O que entre satisfação e insatisfação dá um gap de 50% a nível de produtividade”, contabiliza, chamando ainda a atenção para os problemas relacionados com a saúde mental.
“Na semana passada, um estudo mencionou que cerca de 70% dos trabalhadores já sofreram ou estão em vias de sofrer questões de burnout”, por isso, na sua opinião, a aposta na felicidade não é uma questão de marketing ou uma estratégia para ter likes nas redes sociais ou a atenção dos media. “A felicidade deve ser encarada como uma estratégia de negócio que conduz à produtividade e ao lucro das empresas”.
No início, o Departamento da Felicidade era centrado num programa de benefícios e Ricardo Costa relembra as viagens ao México, Punta Cana, Jamaica, Cabo Verde, Ibiza e Cuba, assim como a estrela da companhia, a engomadoria da roupa dos trabalhadores. Mas sete anos de experiência mostraram-lhe que deveriam focar-se mais na individualidade, como a flexibilidade de horários, teletrabalho, trabalho híbrido ou prémios de produtividade. “Cada um tem a sua forma de ser feliz e as lideranças têm a ideia de que sabem tudo sobre as pessoas, que as conhecem ao ponto de lhes “impingir” uma coisa que pensam que elas vão gostar. Isso não é verdade!”.
O chairman da Bernardo da Costa diz ainda que 80% do tempo da sua chief happiness officer (algo como “administradora da felicidade”) é passado a ouvir os funcionários e conta que tinha uma rubrica semanal de inspiração à mesa em que convidava para almoçar pessoas do mundo empresarial, académico ou da sociedade em geral.
Depois, pensou que deveria dedicar mais tempo aos trabalhadores e substituiu esses encontros pelas conversas matinais com pessoas da empresa. “Inscrevem-se e vêm tomar o pequeno-almoço comigo”, explica, dizendo que aprende imenso sobre aqueles que vestem a camisola do grupo, que têm empenho pela empresa e deixa um conselho para as lideranças: “parem um pouco para ouvir e conhecer as pessoas. Neste frenesim constante às vezes esquecemo-nos disso!”.
Recentemente lançou um livro intitulado “A Felicidade é lucrativa”, onde entre muitos acontecimentos destaca a história de recrutamento de uma grávida de sete meses que passou por algumas entrevistas com perguntas destrutivas e absurdas.
“Se a minha mãe não estivesse grávida, eu não estaria cá. Não gostava que tivesse sido sujeita a qualquer tipo de discriminação por estar grávida”. Ricardo Costa conta ainda que o grupo incentiva a natalidade, oferecendo um kit de criopreservação das células estaminais ou então um benefício financeiro de 900 euros. “Não nascem bebés suficientes, por isso termos tanta dificuldade em ter talento em Portugal além do que estamos a perder para outras geografias”.
Outro tema em que é bastante crítico é o dos salários e menciona o artigo de opinião que escreveu para o jornal Expresso (que gerou alguma celeuma, onde refere que “os portugueses não são pouco produtivos, são é mal pagos”).
Na Bernardo da Costa o salário mínimo são 950 euros, mas Ricardo Costa ambiciona chegar aos 1500 euros em 2030, porque “acreditamos que as pessoas precisam de ter um salário digno para viver. Para organizar a vida!”.
Na sua opinião há margem para as empresas nacionais subirem os salários se apostarem na requalificação das pessoas porque acredita que a educação está na base de tudo, mas também garante que para se aumentar o rendimento líquido disponível é preciso baixar a carga fiscal. “A carga fiscal que existe sobre os salários em Portugal é pornográfica”, desabafa. E termina o podcast, dizendo que ser feliz é quando consegue criar um impacto positivo em si e nas pessoas que o rodeiam.