O Presidente iraniano, Ebrahim Raisi, morreu este domingo na sequência de um acidente de helicóptero numa zona montanhosa do nordeste do país. O líder conservador foi eleito em 2021, após décadas de influência no sistema judicial do país. Agora, a nação iraniana prepara-se para eleições. O investigador iraniano Mohsen Ghasemi, doutorado em Relações Internacionais no Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI-NOVA), diz ao PÚBLICO não ter grande esperança de mudanças no país.
“Esta é uma oportunidade para os conservadores endurecerem as políticas e continuarem no poder. É o que julgo que acontecerá. Acho que não será uma situação complicada interna, o poder não deverá mudar de mãos”, considera o especialista.
Ebrahim Raisi não era o líder mais popular junto do povo iraniano – conhecido pela alcunha “o carrasco de Teerão” –, mas a facção conservadora olhava para o Presidente iraniano como um possível sucessor do Guia Supremo do Irão, o ayatollah Ali Khamenei. O helicóptero de Raisi integrava um grupo de três aeronaves, com as restantes duas a chegarem em segurança ao destino final. A localização do local do acidente não foi fácil, sendo preciso várias horas até serem encontrados os destroços do helicóptero.
Como fica agora o posicionamento geopolítico do Irão? Apesar de a política interna não ser alterada, Mohsen Ghasemi antevê algumas dificuldades. “A nível regional e internacional, será difícil nomear uma pessoa com o seu potencial para as interacções com outros países e a continuação de políticas seguidas pelo sistema do líder supremo iraniano. Uma pessoa que consegue estabelecer comunicação com forças por proxy na região e até outros países através do Ministério dos Negócios Exteriores”, explica.
Para o investigador, Ebrahim Raisi não cumpriu as promessas feitas ao eleitorado iraniano, nomeadamente a do melhoramento da situação financeira. A região do Médio Oriente enfrenta uma inflação galopante, manifestações reprimidas e vê pairar o fantasma de uma guerra contra Israel – depois de ataques directos entre as duas nações pela primeira vez na História. Factores que contribuíram para a fraca popularidade do Presidente iraniano.
No momento da entrevista do investigador ao PÚBLICO, a morte de Ebrahim Raisi ainda não tinha sido confirmada – mas o cenário era dado como provável. Mohsen Ghasemi conhece em primeira mão as características da zona montanhosa dada como o local do acidente. Poucas horas após o desastre, o investigador colocava como difícil um resgate atempado, caso os tripulantes tivessem sobrevivido ao desastre.
“É uma zona muito complicada, de difícil de acesso até a pé. Há rochas de oito metros muito difíceis [de transpor], estão a chamar os montanhistas por causa disso. Também não há rede [telefónica], o acesso à Internet é impossível. A caixa negra do helicóptero vai dar-nos as respostas para o mistério do desastre”, adiantou.
Mais de 40 equipas de resgate foram prontamente enviadas para o local, com a Turquia a disponibilizar também equipamentos de busca nocturna. Além de Raisi, do piloto e dos guarda-costas do Presidente iraniano, seguiam no mesmo aparelho o ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão, Hossein Amir-Abdollahian; o governador da província iraniana do Azerbaijão Oriental, Malek Rahmati; e o representante do ayatollah Khamenei na região, Mohammad Ali Ale-Hashem.