O MP fez bem em ouvi-lo? Fez. Afinal o caso que derrubou o seu governo veio à luz a 9 de novembro… Mas há “um pormaior”, que faz toda a diferença: a audição só aconteceu depois de uma intensa campanha de pressão sobre o MP para ouvir rapidamente o ex-primeiro-ministro. Isso faz diferença? Faz.
Vejamos: tendo em conta a gravidade do caso (caiu um governo), o MP já devia ter chamado António Costa a depor. Ao não o fazer pôs-se a jeito para ser alvo da campanha de dirigentes do PS, do PSD (vg Rui Rio) e de opinion makers. Ou seja, para a opinião pública sobram suspeitas de que o “crime” compensou. Ou seja, que os “notáveis” da sociedade conseguiram condicionar o tempo da Justiça porque dava Jeito ao ex-primeiro-ministro ser ouvido com brevidade… por ter à sua espera um cargo europeu. Ora isto é um péssimo sinal para o país. De hoje em diante, quando qualquer outro líder político estiver na pira da Justiça, vamos assistir com naturalidade a campanhas como as que serviram agora António Costa.
Mas a forma como este processo foi conduzido traz outra consequência: a reforma da Justiça, que é urgente mas que exige acordo entre (pelo menos) PSD e PS, foi para o caixote do lixo. Porquê? Qualquer acordo que envolvesse agora os dois partidos, seria entendido pela opinião pública como uma tentativa para coartar a independência do Ministério Público. Do estilo “é preciso pôr mão no MP antes que decapite a classe política”.