Na política portuguesa, com a AD e com o PS, as vitórias “poucochinhas” têm sido definidas como triunfos eleitorais curtos, sem especial brilhantismo, e que poderiam perfeitamente não ter acontecido, mais voto, menos voto. E não são, por isso, passíveis de grande festa ou conclusões definitivas.
Neste domingo, no Euro 2024, os ingleses atiraram-se ao “poucochinho” no 1-0 frente à Sérvia. Foi um triunfo curto, sem especial brilhantismo, e que poderia perfeitamente não ter acontecido, mais golo, menos golo. E não é, por isso, passível de grande festa ou conclusões definitivas.
Apesar de fazerem uma primeira parte sólida e competente na identificação do “ouro” na equipa adversária, os ingleses não foram contundentes. Na segunda parte, poderiam ir à procura do 2-0 ou, na pior das hipóteses, controlarem o jogo com bola – e têm artistas para isso.
A opção de baixarem as linhas, dando aos “tanques” sérvios a possibilidade de atacarem a área inglesa, foi um risco. Em bom português, “puseram-se a jeito”. Correu bem, mas poderia ter dado asneira.
Pancadaria
O que se passou antes do jogo não foi bonito. Entre ingleses e sérvios já se esperava que houvesse animosidade, pela má reputação dos adeptos de ambas as nações. Em Gelsenkirchen, uma testemunha dos confrontos disse ao Guardian que “voaram cadeiras, garrafas e tudo o que possam imaginar”, tendo ficado um homem com um grande ferimento, bem como um polícia.
Em campo, com o habitual 3x5x2, com Mitrovic e Vlahovic na frente, a Sérvia apostou num bloco bastante baixo, “queimando” dois jogadores na frente – em teoria, jogar desta forma com este desenho e estes jogadores tem pouca lógica, já que os dois avançados sérvios se tornam mais fortes – e a equipa, por extensão – quando são solicitados a partir dos corredores, com cruzamentos.
E esse tipo de jogo não bate certo com um bloco tão baixo, até porque os centrais não são propriamente dotados tecnicamente para darem boa capacidade na construção. A ideia de jogo era algo rudimentar, mas, com os intérpretes existentes, era o que tinha de ser.
Os ingleses tomaram conta do jogo, até porque os sérvios não faziam muitos passes seguidos, e foram muito pacientes na circulação, insistindo numa receita: criar problemas ao lateral/ala e o central do lado esquerdo.
A ideia era colocar na zona interior Foden ou Arnold, para impedir o central da esquerda de ir fazer dobras ao lateral. E assim ficava um contra um para Saka atacar Kostic. Este desenho repetiu-se pelo menos quatro vezes e uma delas deu golo.
Saka assistiu
Foi aos 13’, quando Walker lançou Saka entre o lateral e o central e obrigou a uma dobra de Pavlovic. Com Foden em zona interior, Milenkovic sentiu-se tentado a tapar o inglês e deixou que a defesa do cruzamento de Saka fosse feita apenas por Veljkovic. Aí, trabalhou Kane – e Southgate. O avançado do Bayern não atacou a bola, preferindo movimentar-se de forma a arrastar o central, deixando Bellingham aparecer de cabeça, vindo de trás.
Kane sabia que o colega iria aparecer por ali e sabia que tinha consigo o último central sérvio disponível, já que um tinha saído a Saka e o outro deixou-se enganar pela movimentação de Foden.
O desenho foi complexo e mostra algum trabalho de Southgate. É, ainda assim, um desenho que não pode funcionar com tanta facilidade contra uma defesa a cinco, cujo controlo da largura deveria ser mais competente.
Ainda houve uma grande oportunidade para Walker, numa transição após passe suicida de um sérvio – e foram vários –, mas não se passou muito mais até ao intervalo.
A Sérvia voltou bem mais ofensiva, sabendo que só alimentando os avançados compensaria ter ali dois jogadores “queimados” sem bola. E os ingleses, tão recuados, estavam a “colocar-se a jeito”, com a equipa toda atrás da linha da bola.
É certo que Rajkovic tirou o 2-0 a Kane, mas a Sérvia teve vários lances de bola na área e só a falta de engenho impediu o golo – e talvez também a falta de Mitrovic, que saiu do jogo quando a equipa mais estava a jogar para os seus predicados. Vá-se lá entender…