A previsão consta das conclusões finais do relatório anual de acompanhamento dos desenvolvimentos económicos para a Zona Euro da instituição, que participa nesta quinta-feira da reunião de ministros das Finanças do bloco, o Eurogrupo, na qual está a ser discutido o documento.
O documento do FMI para a Zona Euro – equivalente ao chamado Artigo IV, de acompanhamento aos países – indica que os dados atuais permitem ver riscos equilibrados para a trajetória de desinflação esperada. Esta, defende, “implica que as taxas de juro poderão ser diminuídas gradualmente até atingirem um impulso neutral – consistente com uma taxa de referência terminal de cerca de 2,5% – no final do terceiro trimestre de 2025″.
A expectativa é manifestada depois de o BCE ter, a 6 de junho, baixado a taxa de referência de depósitos de 4% para 3,75%, num primeiro corte de juros muito antecipado, mas perante alguma aceleração nos dados de inflação do euro em maio, assim nos salários, com a autoridade monetária a rever em alta as previsões de inflação para este ano e próximo (2,5% e 2,2%, respetivamente).
O BCE tem feito saber que mantém a confiança de que o processo de descida de inflação não sofrerá desvios, apesar de alguns “solavancos” previstos nas taxas de inflação ao longo dos próximos meses, mas tem indicado também que a sua ação, neste momento, visa em primeiro lugar baixar as taxas de juro reais, que se elevaram com a descida da inflação. Christine Lagarde, a presidente, não afastou também a possibilidade de a taxa terminal da instituição vir a ficar acima dos níveis onde se encontrava antes da pandemia – essencialmente, então, em terreno negativo.
Para o FMI, que em abril projetou uma inflação média na Zona Euro de 2,4% para este ano e de 2% em 2025, a perspetiva é, assim, de que os juros do BCE fiquem muito acima desse histórico recente. Mas a descida deverá, como tudo sugere até aqui, ser feita devagar.
“Uma flexibilização monetária continuada e gradual alcançaria o equilíbrio entre manter as expectativas de inflação ancoradas e evitar uma impulso de política demasiado restritivo“, prescreve o fundo, mas lembrando o mantra do BCE: “Em última análise, as decisões sobre taxas de referência terão de ser tomadas reunião a reunião com base na informação recebida”.
Na análise aos desenvolvimentos da Zona Euro, o FMI mantém a expectativa de uma recuperação modesta – a previsão é de 0,8% de subida do PIB neste ano e de 1,5% no próximo –, sustentada numa primeira fase na melhoria de rendimentos reais e poupanças das famílias, e depois pelo alívio da restritividade monetária.
Um dos riscos assinalados nestas metas é a de que o consumo das famílias fique aquém do esperado (o que, em contrapartida, melhoria as perspetivas para a inflação). A intensificação dos conflitos geopolíticos ou uma pior evolução da procura mundial também podem deitar por terra a recuperação. No médio-prazo, entretanto, o FMI avisa que as taxas de crescimento do euro estão ameaçadas por fatores mais estruturais: o envelhecimento e o baixo crescimento da produtividade.
Países como Portugal devem fazer ajustamento mais rápido
Na reunião com os ministras das Finanças do euro, a mensagem do FMI para as finanças públicas visa entretanto a forma como estes deverão implementar nos respetivos planos orçamentais as novas regras de governação económica da União Europeia. Estas exigirão “um ajustamento orçamental significativo em muitos Estados-membros, assim como apoio político continuado, para que possam ser implementado de acordo com o previsto”, avisa.
O aviso é feito perante os esforços de ajustamento fortes que serão exigidos a França e a Itália, duas das maiores economias do euro, num momento em que, politicamente, as forças de extrema-direita críticas da disciplina orçamental europeia lideram sondagens ou o Governo.
Na véspera de os ministros das Finanças receberem recomendações de Bruxelas e iniciarem negociações para os planos de ajustamento de médio-prazo que terão de apresentar até 20 de setembro, o FMI deixa também um recado a países como Portugal, com as dívidas mais elevadas, crescimento potencial fraco e baixa capacidade de acelerar o PIB com medidas do lado da despesa ou receita. O fundo liderado por Kristalina Georgieva defende que, nestes casos, os países devem ir mais longe do que exigem as regras na fase inicial do ajustamento.
“Em países de dívida elevada nos quais o hiato do produto é pequeno e estão disponíveis medidas com multiplicadores orçamentais baixos, um ajustamento orçamental mais antecipado do que o trajeto de ajustamento anual linear (previsto) por defeito demonstraria determinação, promoveria a confiança do mercado, e criaria margem para futuras surpresas na despesa”.