A detenção de um jovem português de 17 anos no Norte do país que criou e geria na Internet um grupo nazi onde os participantes eram incitados a cometer crimes violentos terá evitado um conjunto de crimes, nomeadamente o homicídio, no Brasil, de um mendigo, que iria ser transmitido on-line. Isso mesmo foi revelado esta sexta-feira pelo director nacional da Polícia Judiciária, Luís Neves, à comunicação social no final da cerimónia militar de 113.º aniversário da GNR.
Luís Neves explicou que no seio daquele grupo, que funcionava na plataforma Discord, se preparava o assassinato de um mendigo “com laivos demorados de sofrimento” e que o mesmo seria transmitido na Internet, tendo quem assistia que pagar uma determinada quantia para ver imagens do crime a ser cometido.
O director nacional da PJ precisou que as suspeitas sobre este caso chegaram àquela polícia em Dezembro do ano passado e sublinhou o “trabalho moroso e de filigrana” que foi necessário levar a cabo para identificar o rapaz detido esta quinta-feira, numa investigação que contou com a colaboração de polícias estrangeiras, nomeadamente a brasileira, e de plataformas informáticas. “Foi procurar uma agulha num palheiro”, resumiu o dirigente.
Este grupo, segundo Luís Neves, seria composto por “dezenas” de jovens “extremistas e violentos” que sobrevivem no anonimato das redes sociais, mas no mundo real vivem isolados e demonstram comportamentos antissociais. “É o único português neste momento identificado. Este jovem tinha uma capacidade de liderança enorme para conseguir movimentar outros jovens de idênticas idades, sobretudo brasileiros, no sentido de radicalizar outros, de se automutilarem, de cometerem crimes de massa e crimes de homicídio”, referiu o director nacional.
O responsável da PJ sublinhou que foi este grupo que esteve por trás de um ataque a tiro à Escola Estadual Sapopemba, na Zona Leste de São Paulo, em Outubro passado, que resultou na morte de uma estudante de 17 anos e no ferimento de outros três alunos.
Já em Outubro passado, o jornal digital brasileiro Metrópole noticiava que o jovem de 16 anos que disparara sobre os colegas, tinha sido instruído para cometer os crimes na plataforma Discord. Em mensagens trocadas horas antes do ataque, a que o Metrópole tinha tido acesso, o rapaz – que vários media brasileiros diziam ser vítima de bullying na escola – falava sobre os preparativos para o que chama de “missão” e discutia a melhor maneira de posicionar o telemóvel para filmar e transmitir em directo o atentado. Após o crime, alguns elementos do grupo reclamavam do fraco saldo de vítimas.