A tarefa de liderar a política externa dos Estados Unidos da América é um trabalho complexo, que tem exigido a Antony Blinken desdobrar-se em viagens pela Ucrânia e pelo Médio Oriente, entre muitos outros destinos, para defender a diplomacia norte-americana num mundo em guerra. Mas, como todos, os políticos também merecem algum tempo para relaxar.
Na reta final de uma viagem a Kiev, onde assinalou o apoio dos EUA de mil milhões de dólares em apoio militar à Ucrânia, o secretário de Estado Antony Blinken decidiu passar a noite de terça-feira num bar na capital ucraniana, onde se juntou a uma banda para tocar um tema que pretendia que fosse apropriado para a ocasião.
Blinken combinou com a banda do bar Barman Dictat que se juntaria ao grupo, para interpretar uma versão da música ‘Rockin’ in the Free World, de Neil Young, “com pelo menos competência básica”, segundo avaliou o jornal “The New York Times”.
Com uma Gibson vermelha na mão e de ganga em vez de fato, o chefe da diplomacia dos EUA admitiu que “têm sido tempos muito, muito difíceis” na Ucrânia, em particular na zona de Kharkiv, onde os russos têm feito ganhos consideráveis, e lamentou que os soldados ucranianos estejam “a sofrer tremendamente”.
“Mas eles sabem, vocês sabem, os Estados Unidos estão convosco, como o mundo está convosco”, garantiu Blinken, acrescentando que as forças ucranianas estão “a lutar não só por uma Ucrânia livre, mas por um mundo livre”.
Foi a deixa para o secretário de Estado perguntar ao bar completamente cheio se podia “tentar alguma coisa”. “Não sei se vamos conseguir safar isto”, brincou.
Blinken e a banda interpretaram então o tema de Neil Young que, escrito em 1989, ecoa o momento crítico da história do mundo em que se enquadra, com o fim da União Soviética iminente. E o diplomata terá pretendido que a escolha refletisse a atitude constante da administração Biden sobre Governos como a Rússia e a China, de rejeitar autocracias e apoiar regimes democráticos pelo mundo.
Crítica a Bush pai
‘Rockin’ in the Free World’ é também, contudo, uma crítica de Young ao Governo norte-americano da altura, liderado por George H.W. Bush, e está longe de ser um hino patriótico. Aliás, tal como ‘Born in the U.S.A.’ de Bruce Springsteen, a canção é frequentemente confundida como uma evocação dos EUA, e Neil Young até processou Donald Trump para que o ex-presidente não usasse o tema nos seus comícios.
Antony Blinken tem, surpreendentemente, uma pequena carreira musical e esta nem é a primeira vez que toca num ambiente diplomático. Em setembro do ano passado, num evento na Casa Branca, o secretário tocou ‘Hoochie Coochie Man’, um clássico dos blues dos anos 60; e no Spotify, é possível ouvir três músicas gravadas por Blinken, sob o pseudónimo “Ablinken”.
Guerra na Ucrânia
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Quem não deu nota positiva à ‘performance’ do governante norte-americano foi a oposição republicana e, numa publicação na rede social X (antigo Twitter), o Comité Nacional Republicano criticou o ‘timing’, considerando que “esta administração não é séria” por Blinken escolher ir a um bar de ganga enquanto Kharkiv é atacada.
Apesar de tudo, e por muitas avaliações negativas que Blinken possa vir a ter na crítica musical, a relação entre Washington D.C. e Kiev melhorou consideravelmente depois da aprovação de um novo apoio militar à Ucrânia, de mil milhões de dólares. A decisão surgiu em abril, depois de uma longa negociação no Congresso dos EUA, com muitos republicanos a oporem-se a nova ajuda militar, e numa altura em que surgem cada vez mais alertas de democratas sobre uma alegada infiltração de Moscovo no Partido Republicano.