Vivemos numa época em que se ouve falar muito do work life balance. Tal conceito tem atingido todas as profissões e a advocacia não é exceção.
Falando como jovem e, com a noção da responsabilidade que isso acarreta, em nome dos jovens, afirmo que a conceção do advogado que, além de exercer as suas normais funções jurídicas, também é guarda noturno, está em vias de extinção. Isto vale tanto para os advogados como para os restantes profissionais, contudo, falo do que me é próximo.
A velha e clássica ideia de que o número de horas no escritório é representativo do trabalho “líquido” efetivamente realizado caiu em desuso. Nunca como hoje foi tão posta à prova a capacidade de organização, concentração e execução de tasks, em que os resultados imperam em detrimento dos horários praticados, horários esses muitas vezes insanos.
Nós jovens temos outras preocupações. Além da essencial dimensão profissional, queremos também assegurar a dimensão pessoal. Tal dimensão pessoal centra-se numa ótima mais individualista ou mais coletivista. Na primeira entram em cena dimensões como os hobbies, na segunda entram a família, amigos e outro tipo de relações pessoais.
E com isto não digo que tal não tenha sido valorizado e praticado por outras gerações. A grande diferença, a meu ver, é que na atualidade todas as dimensões estão em pé de igualdade, ao passo que anteriormente estavam, muitas vezes, por ordem de importância, imperando a “lei das noitadas no escritório” que entalava outro tipo de normas sociais.
A grande vitória atualmente deve ser a flexibilidade. O sucesso profissional de uma pessoa seria avaliado pelo seu índice de flexibilidade. Isto porque a flexibilidade traz responsabilidade e a responsabilidade está normalmente aliada à confiança.
As prioridades inverteram. Ao invés da comum procura pela maior retribuição e outros benefícios associados à vertente económica, as pessoas põem cada vez mais como prioridade o equilíbrio da sua vida pessoal aquando da aceitação de um emprego. O entrevistado passou de mero recetor a dinâmico interlocutor. O monólogo passou a diálogo. A imposição a negociação.
As gravatas caíram em desuso, surgiram as casual Fridays, o teletrabalho veio para ficar, seja na sua vertente mais “radical” -100% remoto-seja na vertente mais comum e equilibrada do chamado regime “híbrido”.
A tecnologia está a evoluir a ritmos alucinantes, como é o caso da inteligência artificial e afins. Estamos na era das soft e social skills. Estamos na era do work life balance. Estamos na era dos resultados e não do processo para os atingir. Estamos na era da flexibilidade. Estamos na era da inteligência emocional e da saúde mental.
O trabalho árduo terá sempre de existir, sim. A questão que coloco é saber se o mesmo está relacionado com a permanência quase residencial no local de trabalho ou se, por outro lado, pode ser exercido em horas “decentes” e que permitem a rega (quase diária) de todas as outras dimensões que falei.
Advocacia, cara profissão tradicional, vamos seguir as tendências atuais do mercado de trabalho? Ou vamos ficar presos às gravatices do passado?