Carmo Afonso
Foi com surpresa e mágoa que li a última crónica de Carmo Afonso no PÚBLICO, precisamente por ser a última. Se bem que pertençamos a campos ideológicos que se encontram nos antípodas, era sempre com interesse e amiúde com prazer que lia as suas crónicas. E não raras vezes me identificava com as suas posições. Carmo Afonso é uma cidadã de princípios e sem papas na língua. A sua ausência vai deixar um vácuo no mundo da opinião e vai ser certamente sentida por muitos. Para ela vão os meus melhores votos.
Ronald Silley, Canadá
Lamento
Ontem, ao comprar o PÚBLICO como sempre, fui logo ler a crónica de Carmo Afonso. Para meu espanto, verifiquei que esta cronista vai deixar o “nosso” jornal. Este periódico tem-se pautado sempre por dar acesso a cronistas de várias tendências, o que é muito do meu agrado e que me leva sempre a comprá-lo. Assim posso comparar ideias. Carmo Afonso é uma das cronistas de que mais gosto, devido às suas ideias, e vai ao fundo dos problemas. Por isso, tenho pena de que vá embora. Tenho muito que lhe agradecer.
Jerónimo Teixeira Colher, Santo António dos Cavaleiros
Lamento
Lamento que deixe de existir a crónica de Carmo Afonso no PÚBLICO. É uma das colunas que primeiro leio e que mais me agradam.
Ana Paula dos Santos, Porto
O final das Sementes…
Em meu nome e de todos quantos apreciam a imparcialidade, ou a sabedoria, ou, pelo menos, a qualidade do que se escreve neste jornal, tendo lido que ontem, finalmente, se despediu deste jornal a mais parcial e mesmo a mais pobre das crónicas que nele foram publicadas, e que, em vez do nome “Sementes de Alfarroba” se deveria chamar “Sementes do Joio”, próprias não dum jornal que se quer de qualidade mas sim talvez do Avante!, apesar de tardiamente, não posso deixar de lhe agradecer tão boa notícia.
Assim, e tendo em vista que podemos dizer adeus a tão fraca e petulante contribuição jornalística, mesmo do ponto de vista da qualidade literária, só tenho de agradecer. Nem todos os dias são maus!
Manuel Vicente Alves Teixeira, Arouca
A ironia de um adeus, ou um gravoso vácuo?
Sou leitor do PÚBLICO desde o seu primeiro número, e sempre destaquei o seu referencial de informação aberta e análise plural. Por isso, é com estupefacção que leio a crónica de Carmo Afonso intitulada “… E aceitem um adeus”: não quero acreditar que uma voz progressista que ao longo de dois anos nos habituou a uma visão-outra da “coisa política”, uma voz assumidamente à Esquerda, por certo incómoda para muitos interesses mas sempre atenta, clara e incisiva (e inteligente), vai deixar de ser lida na última página do nosso jornal!
Se assim for, ficamos todos mais pobres – tal como ficaríamos, se, em vez de Carmo, deixássemos subitamente de ler as crónicas de João Miguel Tavares, que são, tal como estas, um permanente convite a discutir e pensar a causa pública, revisando ideias feitas, mesmo gerando discordâncias.
Neste caso, é de uma voz à Esquerda que se trata, pelo que a sua ausência será por de mais gritante, sobretudo quando, em tempos de ascenso das ultradireitas mais xenófobas (internamente, e à escala mundial), se impõem vozes consequentes para defender os valores da Democracia e, em última grande linha vermelha, a Constituição de Abril, ameaçada como nunca o foi. Ora os artigos de Carmo sempre apontaram para a defesa e aprofundamento dessas conquistas.
Nos 50 anos da Revolução, em que os próprios valores do Humanismo (hoje grosseiramente caricaturizados por alguns!) estão em perigo face à crescente insensibilidade que grassa, nunca foi tão importante o pulmão social, e a cultura de partilha, pilares constantes nestas crónicas que agora cessam. O país progressista precisa dessa visão inconformada, capaz de enfrentar velhos e novos ventos ultraliberais sem freios e, pior ainda, a feroz desmemória cirurgicamente plantada através de campanhas com finalidades precisas.
Desde as suas primeiras crónicas, Carmo Afonso defendeu o que de melhor significa o 25 de Abril: mais do que uma mera data comemorativa, significa a mais bela revolução do século XX, e que é nossa (como disse Rui Tavares). São artigos que sempre enfrentaram interesses estabelecidos, os mesmos que nunca deixaram de conspirar, na sua imprensa, nos seus media e com os seus fakes, para menorizar a data histórica, combater as suas conquistas sociais, culturais e constitucionais e afirmar, mais ou menos às claras, um desejo saudosista de révanche, visando aquilo a que chamam “sistema” e mais não é que o regime que em hora feliz derrubou o Estado Novo salazarista. Uma das recentes crónicas de Carmo Afonso apontava justamente para a falsa mistificação gerada em torno do cinquentenário do 25 de Novembro de 1975, inserida nessa narrativa revisionista que muito bem soube escalpelizar.
Em suma: este é um Adeus! de que não precisamos.
Vítor Serrão, Santarém