E/Imigrantes
Por estes dias, o Governo aprovou um conjunto de medidas em favor dos jovens, nomeadamente para procurar reter os qualificados cá no país e evitar o nosso empobrecimento em recursos humanos. Ao mesmo tempo, há quem clame que devemos receber na Europa todos os que quiserem para cá vir, pela necessidade de termos mais gente a trabalhar e a criar riqueza, independentemente do que isso possa implicar de empobrecimento nos seus países de origem. Falta de coerência ou simples egoísmo/oportunismo?
Migrações sempre houve e haverá na história da humanidade e o respectivo enquadramento não se resume a uma palavra, ou duas: integração e asilo. Uma jovem afegã a quem foi vedado o acesso aos estudos não pode ser tratada da mesma forma que um quadro superior magrebino que procura melhores condições económicas. E muito menos do que um originário não importa de onde que queira simplesmente usufruir do guarda-chuva social europeu.
Não podemos fechar a porta a toda a gente, nem abrir de par em par. Devíamos estar de acordo que a prioridade das prioridades é proporcionar condições de vida dignas para todos, no local onde nasceram, e isso não passa obviamente por esvaziá-los dos seus recursos humanos valiosos. A Europa cometeu certamente erros no passado, mas que esteja condenada a uma expiação colectiva de todos dever receber como penitência, não. O erro maior está principalmente nas carências nos governos dos países de onde os emigrantes querem sair, mas pôr isso em causa pode ser classificado de ingerência e “neocolonialismo”.
E não falei dos choques culturais de (des)integração, que não são um problema menor, nem se resolvem com ignorância e ingenuidade.
Carlos J. F. Sampaio
Kafka está vivo 2
Ou Ionesco ou Kafka: Portugal aparenta ter mergulhado numa quinta dimensão do Absurdo. O Governo da AD, funâmbulo periclitante da política, vem tentando, em vão, fazer aprovar no Parlamento normas que prometera em campanha. Numa “coligação” antinatura, os socialistas têm obstaculizado tais intentos, com o apoio dos seus figadais inimigos do Chega, partido que se vangloria de ser anti-sistema e anti-socialista. Esta “geringonça” antinatura tem aliás permitido aprovar legislação contra o Governo, inclusivamente com normas que implicam aumento de despesa e diminuição de receita: afinal quem parece estar a governar é a oposição! Os comunistas portugueses defendem a Carta das Nações Unidas, mas calam o seu desrespeito óbvio pela Federação Russa ao invadir a Ucrânia, enquanto hipocritamente se vão afirmando pela paz, contra a entrega de armas a um país em destruição acelerada. Nas universidades surgem compreensíveis posições de estudantes contra o criminoso massacre israelita em Gaza, mas emudecem os crimes de guerra dos russos na Ucrânia. Que país, que mundo cão é este que nos rodeia?
José Sousa Dias, Ourém
Inenarrável situação na Palestina
A situação na Palestina é inenarrável, e está a ser possível em pleno século XXI o pandemónio de carnificina e sofrimento, que está a atingir limites impossíveis de aceitar. É preciso acabar com essa postura agora comum de que condenar os actos indignos dos israelitas é estar a defender o Hamas e os seus actos terroristas; dos governos árabes que “falam, falam, mas não fazem nada” – e deviam fazer. Enquanto não houver uma força da ONU, formada por militares dos países árabes, a interpor-se na Palestina, Israel vai fazer daquele território uma terra queimada para depois serem os judeus a ocuparem todo o espaço e reconstruírem o país a seu gosto, essa é a grande estratégia de Netanyahu e seus comparsas.
Fernando Santos Pessoa, Faro
Autarca do Ano…
No PÚBLICO de ontem tomei conhecimento da situação dos artistas de rua em Aveiro agora que ostenta o título de Capital Portuguesa da Cultura 2024. Alegam os artistas serem privados de exercer as suas actividades culturais e que “muitas solicitações são negadas de forma arbitrária, sem qualquer justificação”. Argumentam, ainda, que não cabe à câmara avaliar o que é “boa qualidade” e “má qualidade”, defendendo a liberdade estética do seu trabalho. Alega a câmara estar a aguardar a queixa para analisar, mostrando, deste modo, estar a leste da situação. Isto de ostentar um título europeu no domínio da cultura obrigava a uma resposta magnânima. É tarefa de presidente! Questionado pelo PÚBLICO, deu uma resposta lapidar que merece ficar nos anais do pensamento: “Gere todas as propostas com total rigor, deferindo as que entende que deve deferir e indeferindo as que entende que deve indeferir“! Com poucas palavras disse imenso, o que na câmara se entende por cultura e, sobretudo, qual o conceito que se tem de gestão autárquica. Invente-se, depressa, o prémio para o Autarca do Ano!…
José Carlos Almeida, Aveiro