Com responsabilidades acrescidas agora que assumiu o pelouro da Cultura, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML), Carlos Moedas, disse esta manhã, durante a apresentação da ARCOlisboa, que a feira de arte contemporânea terá sempre o apoio da câmara. “A ARCOlisboa tornou-se uma âncora do que é ser lisboeta”, afirmou na Galeria Quadrum, no Complexo dos Coruchéus, em Lisboa, onde decorreu a conversa com os jornalistas sobre a feira que juntará na próxima semana na Cordoaria Nacional 84 galerias de 15 países, um terço delas portuguesas.
Ao lado da espanhola Maribel López, directora da ARCO, que terá na próxima semana a sua sétima edição, organizada em conjunto pelo Ifema Madrid e pela CML, o presidente pegou no tema de uma das secções comissariadas, As Formas do Oceano, para reflectir sobre a ideia do que é hoje ser lisboeta, uma comunidade em que 20% da sua população não é portuguesa, apontou. Se até aqui esta secção especial, que se intitulava África em Foco, trazia galerias de África e das diásporas africanas na Europa, alargou-se este ano à América, nomeadamente ao Brasil, e passou a integrar outras geografias. “A ARCOlisboa tornou-se uma âncora do projecto desta capital europeia da cultura e da inovação. Uma âncora dos oceanos nas interacções entre os continentes, que é parte de ser lisboeta, entre a América, a África e a Europa, e entre a inovação, a tecnologia e a arte. Essa junção faz-nos mais criativos e mais lisboetas.”
Com curadoria da angolana Paula Nascimento e do brasileiro Igor Simões, As Formas do Oceano junta oito galerias de Paris (três), Casablanca, Lisboa, Brasília, Itália e Rio de Janeiro, introduzindo uma das novidades da feira. “Uma das questões que tem sido crucial é pensar que necessidades têm as galerias africanas ou afrodiaspóricas que vêm a Portugal, cujo mercado tradicional não as acolhia em grande escala. Pensar que diálogos é que podem ser estabelecidos, que novos artistas podemos apresentar, mas também o que é que estas galerias podem levar daqui. Tem sido um processo muito lento, feito com passos pequenos mas firmes e com muita vontade.” Lento, “mas um sucesso”, acrescenta, e que agora sofreu uma evolução. “Vamos sair do espectro de uma África pensada muito especificamente e pensar que outras comunidades se formaram a partir do diálogo dos oceanos e dessas viagens continentais.”
Para a secção Opening, dedicada às galerias mais jovens, outras das sessões comissariadas, a espanhola Chuz Martínez e a luso-brasileira Luiza Teixeira de Freitas escolheram 17 galerias. Menos cinco do que no ano passado. Ouvidas as galerias, explica Luiza Teixeira de Freitas, o espaço, “que terá um novo look”, ficará um pouco menos fluído, mas os stands individuais serão mais fáceis de identificar. “A Opening, que começou humilde, tem feito uma invasão gentil [dos espaços] da Cordoaria que é muito bonita. A arquitectura este ano está mesmo especial.”
O programa geral, que é o centro da feira, junta 59 galerias. Alguma “contenção”, explica Maribel López, com menos duas galerias do que no ano passado, não significa dificuldades, nem que seja difícil fazer uma feira de arte em Lisboa, mas uma atenção aos conteúdos. “É uma questão de cuidado com as galerias. Como gerar o melhor contexto para elas, para os artistas e também para os visitantes.” A directora explicou que as opções da arquitectura, nomeadamente na secção Opening, levou a essa contenção. O espaço, que impõe algumas dificuldades mas só merece os “aplausos” de quem visita a Cordoaria, há-de surpreender quem visitar a feira, que tem a inauguração prevista para dia 22. “Mais é mais não é o princípio desta feira, mas mais é melhor.” No sábado, alertou, a entrada é gratuita para menores de 25 anos a partir das 15h.
O presidente-vereador
Já à margem da apresentação, Carlos Moedas, que este fim-de-semana assumiu a vereação da Cultura até aqui nas mãos de Diogo Moura (CDS-PP), na sequência da acusação de fraude em processo eleitoral do seu partido que o levou à demissão, vê as novas responsabilidades como vereador da Cultura “com uma grande alegria”, como comentou ao PÚBLICO. “No fundo, sempre me senti vereador da Inovação e da Cultura, porque essa é a base do meu projecto para Lisboa. Agora vou ter a oportunidade de estar directamente com os actores da cultura. Todos sabem que estou [muito] presente nas actividades da cultura, mas agora com uma responsabilidade mais directa. Quando houve esta mudança na câmara nem me passou pela cabeça que a Cultura fosse para um vereador, ficará centralizada na minha pessoa.”
Carlos Moedas garantiu que vai conseguir dar atenção à Cultura, mesmo com o tempo que lhe exige o cargo de presidente. “É sempre difícil porque a função é muito absorvente, 24 horas por dia. Podem estar descansados, porque vou continuar a pôr todas as minhas energias [na CML] e a cultura está no centro dessas energias.”