O cabeça de lista às eleições europeias pelo partido de extrema-direita alemã, Alternativa para a Alemanha (AfD), Maximilian Krah, não vai ter aparições públicas durante a campanha para as europeias, depois de ter defendido, numa entrevista ao diário italiano “La Repubblica”, que “um uniforme das SS não fazia de ninguém, automaticamente, um criminoso”. A referência foi feita em relação ao escritor Günter Grass, que admitiu ter-se juntado à organização paramilitar do partido nazi de Adolf Hitler quando era adolescente.
As declarações de Krah levaram o partido de Marine Le Pen, o Reagrupamento Nacional, a dizer que recusava sentar-se ao lado da AfD no Parlamento Europeu se o partido permitisse que as declarações de Krah passassem sem qualquer reparo. Foi o próprio que anunciou, esta quarta-feira, a decisão de abandonar a campanha.
“Reconheço que as matizes das minhas declarações estão a ser utilizadas como pretexto para prejudicar o nosso partido”, escreveu Krah numa declaração publicada no X. “A última coisa de que precisamos neste momento é de um debate sobre mim. A AfD tem de manter a sua unidade. Por esta razão, vou abster-me de mais aparições na campanha com efeito imediato e demitir-me de membro da Comissão Executiva Federal”.
Anders Vistisen, eurodeputado dinamarquês de extrema-direita, cujo partido também faz parte do partido europeu Identidade e Democracia (ID), casa de grande parte dos partidos radicais de direita, apelou à AfD para que “se livrasse de Krah”, sob pena de ter de abandonar o grupo.
O lastro violento das ações das SS está documentado e oferece pouco espaço a questionamentos ou segundas versões. Entre as suas muitas funções, as SS desempenharam um papel central na recolha de judeus para serem enviados para os campos de concentração, onde mais de seis milhões foram mortos.
No fim de abril, o assistente de Krah no Parlamento Europeu, Jian Guo, foi detido na Alemanha, depois de ter sido acusado de ser “empregado dos serviços secretos chineses” e de “transmitir repetidamente informações sobre negociações e decisões no Parlamento Europeu” aos chineses. Guo é também acusado de ter seguido e espiado dissidentes chineses que vivem sob asilo político na Alemanha.
Os gabinetes de Krah e Guo foram alvo de buscas, mas o eurodeputado negou estar envolvido em qualquer esquema de espionagem.
Mas os escândalos não param por aqui. Petr Bystron, o segundo nome na lista da AfD, foi acusado no mês passado de aceitar mais de 20.000 euros em dinheiro de uma agência de propaganda russa que tinha como objetivo influenciar os eleitores europeus, escreve o Politico.
A AfD tem sido alvo de um intenso escrutínio e por toda a Alemanha têm-se realizado protestos contra o partido, depois de ter sido revelado que figuras de topo da AfD participaram numa reunião em que foram discutidos planos para a deportação em massa de cidadãos de origem estrangeira. O partido nega ter qualquer intenção de perseguir esta medida e tem negado sempre o racismo do qual tantas vezes é acusado.
As sondagens sugerem que os partidos de direita populista, nacionalista e radical vão conseguir um grande número de mandatos no Parlamento Europeu.