Apesar de, na quarta-feira, as bolsas europeias terem recuperado um pouco, no acumulado dos últimos cinco dias de negociação (entre 11 e 17 de abril) o cenário está pintado a ‘vermelho’. O índice de referência europeu, o Stoxx 600, perdeu 1,5% nos últimos cinco dias. Este índice é representativo das principais empresas europeias (com 600 entidades cotadas).
E as principais praças europeias também não se livram deste cenário negativo. Nos últimos cinco dias Milão (MIB) perdeu 1,07%, Frankfurt (DAX), caiu 1,6%, Paris (CAC), deslizou 1%, Madrid (IBEX) tombou 0,85% e Londres (FTSE 100) perdeu 1,4%.
Por sua vez, o PSI, que acompanha 16 cotadas portuguesas, seguiu a mesma tendência: caiu 1,05% nos últimos cinco dias.
E se olharmos para o nível mensal o cenário também não é animador: o Stoxx 600, perdeu 0,97%, MIB e o DAX caíram 0,79%. Pelo contrário, o PSI, IBEX e FTSE 100 têm um acumulado positivo, com variações de 1,1%, 0,4% e 1,6%, respetivamente.
Se analisarmos o acumulado desde o início do ano, o cenário já é mais positivo para todos os índices. Neste período, o Stoxx 600 já ganhou 4,3%, o FTSE 100 1,64%, o MIB 10,3%, o CAC 6,17%, o DAX 6,07% e o IBEX 4,5%. O PSI contraria a tendência europeia, tendo perdido 3,3% desde o início do ano.
Dos EUA ao Irão: as causas
Na terça-feira, os mercados europeus sofreram a maior queda diária em nove meses. As quedas ocorreram não só na Europa, como também na Ásia, depois das descidas acentuadas registadas em Wall Street na segunda-feira. A queda nos mercados norte-americanos ocorreu após fortes números de vendas a retalho nos Estados Unidos, o que poderá indicar que a Reserva Federal (Fed) irá reduzir as taxas de juro este ano menos do que estava inicialmente previsto. Outro indicador que a queda dos juros nos EUA poderá ser menor que a esperada é a inflação que voltou a subir em março, para 3,5% (estava nos 3,2% em fevereiro e nos 3,1% em janeiro).
O presidente da Fed, Jerome Powell, disse, inclusive, que o banco central precisa de ver mais progresso na frente da inflação antes de começar a cortar as taxas.
Como o Expresso já escreveu, o mercado de futuros das taxas diretoras da Reserva Federal norte-americana está a projetar o primeiro corte apenas em setembro já depois de dois cortes esperados para 6 de junho e 18 de julho pelo Banco Central Europeu (BCE).
Aliás, a presidente do BCE disse mesmo, esta semana, que o corte previsto para junho se deverá manter a não ser que haja grandes surpresas. De recordar que, na semana passada, a instituição manteve as taxas num máximo histórico.
O ataque de Irão a Israel também pode explicar uma parte destas quedas nos mercados, pois antes do incidente os mercados acionistas subiram muito e muito rápido, o que gera ansiedade nos acionistas. “O mercado está à procura de uma desculpa para fazer uma pausa e temos a tempestade perfeita”, disse ao “Financial Times”, Florian Ielpo, diretor de macroeconomia da Lombard Odier Investment Managers.
“Os riscos geopolíticos estão a levar a preços mais elevados das matérias-primas, o que se combina com a inflação existente e com as preocupações com as taxas de juro. O desempenho acumulado no ano foi excelente demais para permanecer assim”, acrescentou o analista.
Para o BCE, a turbulência no Médio Oriente teve até agora pouco impacto nos preços das matérias-primas. Ou seja, não espera que esta situação seja um motivo para reverter a sua política de juros. Por outro lado, o economista austríaco, Robert Holzmann, considera que a atual tensão é a maior ameaça ao corte de juros por parte do BCE.