Há perto de uma década que Park Jung-oh envia garrafas de plástico com arroz e outros bens para a Coreia do Norte – o país onde nasceu – com o objetivo de salvar vidas.
O ativista opera a partir da ilha de Seongmodo, na Coreia do Sul, e não se limita a enviar arroz – por norma, um quilo. As garrafas que deita ao mar são também a forma de tentar fazer chegar outros materiais: uma pen USB com músicas de K-pop, K-drama ambientado no Norte, alguns vídeos que comparam as duas Coreias e ainda uma cópia digital da Bíblia.
Excecionalmente, parte das garrafas chegaram ainda a levar um dólar americano, para que os destinatários pudessem trocá-lo por moedas norte-coreanas ou chinesas. E durante o período pandémico, foram enviados analgésicos e máscaras de proteção.
Filho de um espião que deixou o seu país há 26 anos, Park Jung-oh vive desde essa altura na Coreia do Sul e resolveu chamar a si a missão de ajudar aqueles que, conforme diz, “obedecem ao Estado sem questionar, temendo as consequências da dissidência”.
Em 2015, com a ajuda da sua mulher, criou a organização Keun Saem e procuraram informação, junto dos navegantes locais e do Instituto Coreano da Ciência e Tecnologia Oceânica, para perceberem como é que os fluxos de água poderiam permitir fazer chegar bens até às margens do Norte, usando garrafas de plástico.
Apesar de o fazer há vários anos, a partir de Junho de 2020, o ativista teve de tomar cautelas e deixou de poder lançar as garrafas abertamente, quando a Coreia do Sul proibiu o envio de material “anti-Coreia do Norte” através da fronteira.
Em Setembro passado, o Tribunal Constitucional anulou essa proibição, no entanto Jung-oh não quis atrair muitas atenções e só retomou a atividade no dia 9 de abril deste ano.
“Isso significou um novo começo para o meu ativismo”, afirma.
A encorajá-lo, estão os vários relatos de pessoas que receberam as garrafas, como foi o caso de uma família de nove pessoas, que acabou por desertar, deixando a Coreia do Norte no início de 2023.
Texto escrito por Ana Raquel Pinto, editado por Mafalda Ganhão