Com a convicção de que o Hamas já não é capaz de realizar um grande ataque terrorista contra Israel, Joe Biden concluiu, nesta sexta-feira, que é chegado o momento de um cessar-fogo permanente em Gaza. O Presidente norte-americano endossa um novo plano que, conforme afirma, Israel ofereceu, para obter a libertação. de reféns e, finalmente, pôr fim aos combates.
“É hora de esta guerra terminar, de preparar o dia seguinte”, disse Biden, na Sala de Jantar de Estado da Casa Branca, segundo o jornal “The New York Times”.
A proposta israelita foi transmitida ao Hamas por mediadores do Catar. De acordo com Biden, será dividida em três fases, começando com um cessar-fogo de seis semanas, a retirada das forças israelitas das áreas povoadas de Gaza, e a troca de idosos e mulheres reféns detidos pelo Hamas, em troca da libertação de centenas de detidos palestinianos. “Este é realmente um momento decisivo”, considerou Joe Biden. “O Hamas diz que quer um cessar-fogo. Este acordo é uma oportunidade para provar se eles realmente o querem.”
Militares israelitas disseram, nesta sexta-feira, que as suas forças avançaram para o centro de Rafah, aprofundando a sua presença na cidade do sul de Gaza, apesar da pressão dos aliados para reduzir a mais recente ofensiva. Comandos apoiados por tanques e artilharia operam no centro de Rafah, de acordo com as Forças de Defesa de Israel, que não especificaram os locais visados. Na quarta-feira, os militares israelitas afirmaram ter conseguido o “controlo operacional” sobre a zona fronteiriça com o Egito, uma faixa de 13 km, conhecida como Corredor Philadelphi (Filadélfia), nos arredores de Rafah.
Imagens de satélite obtidas pelo Planet Labs na quinta-feira também mostraram que os militares israelitas estabeleceram posições em partes do centro de Rafah. Veículos militares e tanques foram avistados até aos arredores de Tel al-Sultan, no oeste de Rafah.
Outro ponto de foco recente na campanha militar israelita em Gaza foi Jabalia, no norte do enclave, onde os militares afirmaram ter conduzido mais de 200 ataques aéreos durante semanas de intensos combates. Nesta sexta-feira, as forças israelitas retiraram-se daquela área, deixando um rasto de devastação generalizada, segundo militares e residentes palestinianos ouvidos pelo jornal “The New York Times”. As forças de Israel afirmam que ainda conduzem algumas operações de combate no centro de Gaza. As declarações emitidas pelos responsáveis militares israelitas sugerem que as suas forças estão a atuar em praticamente todas as zonas da cidade, naquela que será uma operação em larga escala.
Analistas militares tinham expressado ceticismo quanto à possibilidade de a ofensiva em Rafah desferir no Hamas o golpe decisivo que Israel anseia. “Não tenho a certeza de qual é o plano”, admite ao Expresso Negar Mortazavi, investigadora do Centro de Política Internacional e do Conselho de Política do Médio Oriente. “Os próprios aliados de Israel, incluindo os EUA, dizem-lhes que a sua estratégia de guerra não está a funcionar, e tem de mudar. Os apelos a um cessar-fogo estão a crescer, e o número sem precedentes de vítimas civis em Gaza está a soar alarmes em todo o mundo. Entretanto, não está claro até que ponto Israel tem sido bem sucedido no seu objetivo declarado de destruir o Hamas, uma vez que o Hamas continua a lutar e a manter reféns israelitas.”
Nesta sexta-feira, um alto funcionário da segurança israelita garantiu que Israel não concordará com qualquer suspensão dos combates em Gaza que não integre um acordo para a libertação dos reféns. “Não haverá tréguas, nem qualquer suspensão dos combates em Gaza, que não sejam parte integrante de um acordo de libertação de reféns”, declarou o alto funcionário israelita, em entrevista à Reuters. “Qualquer cessar-fogo surgiria apenas no âmbito de um acordo.”
O ataque de Rafah (onde um incêndio foi iniciado, e pelo menos 46 pessoas morreram, incluindo civis e crianças) foi um “momento decisivo em todo o mundo” nos EUA, salienta Negar Mortazavi. “Há um apelo crescente contra esta guerra e em apoio ao cessar-fogo. Biden também critica a estratégia de guerra de Israel de forma mais pública e séria. Parece não haver solução militar, e a diplomacia e negociações sérias são prioritárias, para acabar com esta guerra, libertar os reféns e impedir a morte de milhares de civis inocentes, especialmente crianças.”
Rishi Sunak, primeiro-ministro de Inglaterra
TOBY MELVILLE
Médio Oriente
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“O Governo israelita não quer sinalizar publicamente que a guerra terminará em breve. Há meses que já não é claro qual será o plano pós-guerra do Governo israelita para Gaza, e tem havido divergências ferozes entre membros-chave do Executivo sobre como será Gaza depois do fim da guerra. Em diversas ocasiões, essas divergências foram expressas publicamente.” Sean Foley, professor na Universidade do Tennessee Central, nos Estados Unidos, e perito em História do Médio Oriente, refere-se à apresentação do partido de Benny Gantz, membro do Gabinete de Guerra de Israel e líder do partido centrista União Nacional, de um projeto de lei para dissolver o Parlamento e realizar eleições antecipadas.
O quadro mais provável para o cessar-fogo é um acordo – mediado pelo Catar, pelos EUA, pelo Egito – , que permita que os reféns israelitas em Gaza sejam devolvidos, em troca da suspensão de ataques e da libertação dos palestinianos detidos nas prisões israelitas, diz ao analista Sean Foley ao Expresso. “Existem lacunas significativas entre as posições de Israel e do Hamas em muitas questões. Também não é óbvio de que forma a pressão interna de Israel para levar os reféns para casa ou da comunidade internacional – incluindo as decisões do TIJ (Tribunal Internacional de Justiça) ou possíveis sanções da UE – poderia ter impacto no processo. Embora os EUA sejam o aliado político e militar mais importante de Israel no cenário global, a UE é o maior parceiro comercial de Israel.”
Outras notícias em destaque:
⇒ Os rebeldes hutis ameaçaram intensificar os seus ataques a navios ao largo do Iémen, acenando com uma escalada após os ataques das forças norte-americanas e britânicas contra as suas posições. “A agressão dos norte-americanos e britânicos não nos dissuadirá de continuar as nossas operações militares a favor da Palestina. Enfrentaremos a escalada com escalada”, comunicou Mohammed Al-Bukhaiti, membro do gabinete político do movimento rebelde, na rede social “X”.
⇒ A Comissão Europeia anunciou a mobilização de 25 milhões de euros para a Autoridade Palestiniana pagar a funcionários públicos palestinianos e de 16 milhões de euros para a UNRWA, agência da ONU, apoiar refugiados.
⇒ Pelo menos um socorrista morreu nesta sexta-feira, e outro ficou ferido, num ataque israelita a uma ambulância no sul do Líbano, segundo um serviço de resgate ligado ao grupo xiita libanês Hezbollah. “Um drone israelita teve como alvo uma ambulância (…). Um socorrista morreu e outro ficou ferido” em Naqoura, uma cidade na fronteira com Israel, disse à agência de notícias AFP o Comité Islâmico de Saúde.