O presidente russo terá chegado à Coreia do Norte há algumas horas, para uma visita que junta duas potências nucleares e que tem o apoio militar no topo da agenda.
Não é a primeira vez que o presidente russo Vladimir Putin visita a Coreia do Norte, mas é a primeira vez que vai a Pyongyang, onde terá chegado há algumas horas, desde que a invasão da Ucrânia teve início. Putin e Kim Jong-un têm na agenda a expansão da cooperação económica e de segurança, segundo indica a imprensa russa – num claro desafio às sanções ocidentais contra os dois países.
Para isso, o presidente russo rodeou-se de uma grande comitiva de ministros e conselheiros do governo, incluindo os responsáveis pelas forças armadas russas e pela compra de armas. Entre eles estão o seu novo ministro da Defesa, Andrey Belousov, e Denis Manturov, o principal vice-primeiro-ministro com foco especial no sector de defesa.
Putin sabe que vai encontrar-se com um apoiante seu. Em artigo escrito esta terça-feira, o líder russo elogiou a Coreia do Norte por “apoiar firmemente” a guerra na Ucrânia. O facto de a Coreia do Norte ser uma potência nuclear – não controlada pelas agências internacionais – é uma preocupação acrescida para o Ocidente, que vê nessa viagem uma adição de agendas que preferia evitar.
Moscovo continuará a apoiar Pyongyang na luta pela independência, escreveu o presidente russo no jornal “Rodong Sinmun”, na véspera da visita de Estado. Putin observou que Washington continua a estabelecer condições inaceitáveis à Coreia do Norte: “a Rússia apoiou incessantemente e apoiará a Coreia do Norte e o heroico povo coreano na sua luta contra o inimigo traiçoeiro, perigoso e agressivo, na sua luta pela independência, identidade e o direito de escolher livremente o seu caminho de desenvolvimento”, enfatizou Putin.
“O programa é muito cheio”, disse, por seu lado, o assessor do Kremlin, Yuri Ushakov. “Um tempo considerável será dedicado a contactos informais entre os líderes, já que será nesses encontros que estarão presentes as questões mais importantes e mais sensíveis”. Os acordos a assinar podem incluir um “tratado de parceria estratégica abrangente” que tratará da cooperação futura e lidará com “questões de segurança”, disse Yuri Ushakov.
Os analistas recordam que a Coreia do Norte forneceu à Rússia milhões de munições de artilharia da era soviética, o que tem permitido ao Kremlin sustentar a campanha militar na Ucrânia, nomeadamente através da utilização de material de guerra que noutras circunstâncias já não teria qualquer préstimo – e explica pelo menos em parte a inesperada capacidade russa de manter forte pressão militar sobre a Ucrânia. A Coreia do Norte também forneceu mísseis balísticos e equipamentos eletrónicos usados no esforço de guerra.
Em troca, o Ocidente acredita que a Rússia tenha fornecido ajuda ao programa de satélites da Coreia do Norte, ajuda económica e apoio diplomático. Kim visitou o extremo leste da Rússia no ano passado, encontrando-se com Putin em Vladivostok, durante uma viagem na qual visitou uma fábrica de modernos aviões de guerra e o cosmódromo de Vostochny.
A imprensa norte-americana noticia que a administração Biden está preocupada com o encontro. O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, John Kirby, referiu que “preocupa-nos o aprofundamento da relação entre os dois países.” Acrescentou que essa preocupação não é apenas porque “mísseis balísticos norte-coreanos ainda estejam a ser usados para atingir alvos ucranianos, mas porque pode haver alguma reciprocidade que poderia afetar a segurança na península coreana”.
O ministro da Defesa sul-coreano, Shin Wonsik, disse, em entrevista à “Bloomberg News”, que Seul identificou pelo menos 10 mil contentores suspeitos de conterem munição de artilharia e outras armas enviadas da Coreia do Norte para a Rússia – e que podem ter cerca de 4,8 milhões de projéteis – umas nove vezes mais que o número de projéteis de artilharia entregues pela União Europeia à Ucrânia no ano passado.