Publicado na revista Scientific Reports, o estudo concluiu que quando os dispositivos de vaping aquecem o liquido aromatizante (e-líquido) a altas temperaturas, formam o aerossol que é depois inalado e é este que contém substâncias prejudiciais. O líquido costuma ter glicerina vegetal, propilenoglicol (composto de álcool), nicotina e aromas. Estudos anteriores já tinham mostrado que alguns Vapes com sabores de fruta, como morango, melão ou mirtilo produzem compostos químicos perigosos, os compostos orgânicos voláteis, devido ao processo de aquecimento.
Estes compostos têm implicações para a saúde no que diz respeito à doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), doenças cardiovasculares e até cancro.
Existem vários produtos químicos utilizados em dezenas de milhares de produtos de Vapes diferentes. Testá-los todos demoraria décadas, o que levou os investigadores a recorrer à Inteligência Artificial (IA) para analisar a composição química de 180 aromas e simular a forma como se decompõem quando aquecidos.
A investigação descobriu que estas substâncias produzem 127 químicos “muito tóxicos”, 153 “perigosos para a saúde” e 225 “irritantes”. A maioria dos vapores, com ou sem nicotina, submetidos à IA apresentaram pelo menos um produto classificado como perigoso para a saúde.
“É crucial compreender o impacto dos vapores aromatizados na saúde antes que seja demasiado tarde”, disse Donald O’Shea, autor principal do estudo, ao The Guardian. “É plausível que estejamos à beira de uma nova vaga de doenças crónicas que surgirão daqui a 15 ou 20 anos devido a estas exposições.”
Em abril deste ano, o governo britânico anunciou um novo projeto de lei que visa proibir a venda do tabaco a pessoas nascidas a partir de 2009, assim como Vapes descartáveis, e restringir os sabores doces e de frutas, com o objetivo de criar a primeira geração livre do fumo do tabaco.
“Sem uma regulamentação abrangente, ao tentarmos tratar as dependências de nicotina dos fumadores de tabaco mais velhos, existe um risco substancial de transferir novos problemas de saúde para as gerações mais jovens”, aponta o estudo.
Em resposta às conclusões do estudo, fonte do Ministério da Saúde e da Assistência Social afirmou que “os conselhos de saúde são claros: se não fumas, não fumes e as crianças nunca devem fumar”. “É por isso que estamos a proibir os vaporizadores descartáveis e a nossa lei sobre o tabaco e os vaporizadores inclui poderes para limitar os sabores, as embalagens e os expositores dos vaporizadores, a fim de reduzir o seu apelo para as crianças.”
Já o diretor-geral da Associação da Indústria de Vaping do Reino Unido, John Dunne, afirma: “A ciência sobre o Vaping é muito clara: é a forma mais eficaz de os fumadores deixarem de fumar e é, pelo menos, 95% menos prejudicial do que fumar”. O mesmo acrescentou que todos os produtos químicos utilizados no e-líquido para o vaping no Reino Unido são “rigorosamente testados” também ao serem aquecidos, e que são apenas aprovados para utilização pelo governo britânico se forem considerados seguros.
Sanjay Agrawal, conselheiro especial do Colégio Real de Médicos para o tabaco, afirmou que, apesar de o vaping poder ser uma forma muito eficaz de quebrar a dependência do tabaco, só deve ser utilizada para esse fim. “O vaping não é isenta de riscos, pelo que aqueles que não fumam, incluindo as crianças e os jovens, também não devem vaporizar.”