Em Rafah, o número de deslocados pela ofensiva israelita continua a aumentar, mas em outros territórios palestinianos as operações das forças de Israel têm também limitado a ação das Nações Unidas. Esta sexta-feira, a sede da UNRWA, a agência da Organização das Nações Unidas (ONU) para os refugiados palestinianos, foi temporariamente encerrada em Jerusalém Ocidental, depois de vários ataques por extremistas.
“Esta noite, residentes israelitas atearam fogos duas vezes no perímetro da sede da UNRWA em Jerusalém Ocidental. Uma multidão acompanhada por homens armados foi vista em torno do edifício, gritando: ‘Queimem as Nações Unidas’”, disse o diretor da agência, Philippe Lazzarini, na rede social X (antigo Twitter).
Este foi o segundo ataque no espaço de poucos dias à agência da ONU, no lado palestiniano de Jerusalém, que se encontra ocupado por Israel. Não foram registados feridos, mas o fogo “causou estragos significativos nas áreas exteriores”.
A UNRWA tem sido alvo de muitos ataques por colonos e extremistas israelitas, tanto nas suas ações físicas como na política. A agência é muitas vezes usada como um bode expiatório por Israel e pelas suas autoridades militares, que acusam a UNRWA de apoiar militantes do Hamas e de albergar abrigos debaixo de escolas e hospitais geridos pela ONU – algo que, até à data, não foi provado como sendo uma prática da organização ou do grupo palestiniano.
Estas acusações do governo de Telavive já resultaram em várias suspensões de apoio financeiro à UNRWA, incluindo por países da União Europeia, mas muitas dessas suspensões já foram levantadas após relatórios que afastaram a responsabilidade da agência nas operações do Hamas.
Os protestos de extremistas nas ruas de Jerusalém têm-se intensificado nos últimos dois meses e, segundo Lazzarini, um incidente esta semana terminou com “manifestantes a atirar pedras aos funcionários da ONU e aos edifícios”.
O encerramento da sede da organização humanitária e os ataques a trabalhadores da ONU motivaram votos de condenação pelo mundo. Através do Twitter, Josep Borrell, o alto comissário da União Europeia para assuntos externos, lamentou o fecho temporário das operações, considerando a agência “uma tábua de salvação insubstituível para milhões de pessoas em Gaza e na região”.
A Alemanha também condenou a “escalada de manifestações violentas” por extremistas israelitas em Jerusalém Ocidental, e o Ministério dos Negócios Estrangeiros afirmou que “Israel deve garantir a proteção das instalações e do pessoal da ONU”.
Assembleia-Geral da ONU concede novos direitos à Palestina e apoia adesão plena
A Assembleia-Geral da ONU aprovou hoje, com apoio esmagador de 143 países, uma resolução que concede “direitos e privilégios adicionais” à Palestina e apela ao Conselho de Segurança que reconsidere favoravelmente o seu pedido de adesão plena à organização.
O projeto de resolução, apresentado pelos Emirados Árabes Unidos em representação do Grupo de Países Árabes, e copatrocinado por dezenas de países, obteve 143 votos a favor – incluindo de Portugal -, nove contra e 25 abstenções dos 193 Estados-membros da ONU.
Votaram contra os Estados Unidos, Israel, Argentina, República Checa, Hungria, Micronésia, Nauru, Palau e Papua Nova Guiné. Entre os países que se abstiveram estão Ucrânia, Itália, Reino Unido, Alemanha, Canadá, Finlândia e Geórgia.
“Já subi a este púlpito centenas de vezes, muitas vezes em circunstâncias trágicas, mas nenhuma comparável à que o meu povo está a viver hoje”, disse o embaixador palestiniano junto da ONU, Riyad Mansour, minutos antes da votação. Visivelmente emocionado e com a voz embargada, Mansour reforçou o “caráter histórico” da votação de hoje e lembrou que a bandeira palestiniana “voa alto e orgulhosa na Palestina e em todo o mundo, assim como no ‘campus’ da Universidade de Columbia”.
“A Assembleia-Geral determina que o Estado da Palestina está qualificado para ser membro da ONU em conformidade com o artigo 4.º da Carta das Nações Unidas e deve, portanto, ser admitido como membro das Nações Unidas”, sustenta a resolução hoje aprovada. O texto pede também ao secretário-geral da ONU, António Guterres, “que tome as medidas necessárias para implementar a presente resolução”.
Entre os novos direitos concedidos aos palestinianos nesta resolução estão o seu assento entre os estados-membros por ordem alfabética, a apresentação de propostas individualmente ou em nome de um grupo perante a Assembleia-Geral, a solicitação do direito de resposta, fazer declarações ou solicitar modificações na agenda, entre outros. No entanto, continua a não ter direito de voto na Assembleia-Geral ou a apresentar candidaturas a órgãos da ONU.
“Biden está certo: uma ofensiva em Rafah é uma derrota estratégica para Bibi”
Fredy Builes
Médio Oriente
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