Há um ano, com vista para o Douro, o Presidente da República dizia que, no rescaldo do caso Galamba, que era preciso “cortar os ramos mortos que podem atingir a árvore toda”. Nem o próprio Marcelo previa, naquele dia que ficou muito marcado por manifestações de professores, como teria uma árvore diferente neste Dia de Portugal que quis celebrar em Pedrógão Grande, voltando aos locais marcados pela tragédia dos incêndios de 2017.
“Que este 10 de Junho queira dizer: tragédias como as de 2017 nunca mais!”, exclamou, quase a terminar o discurso, Marcelo Rebelo de Sousa – que está a viver o seu primeiro Dia de Portugal sem ter António Costa a liderar o Governo e quis passá-lo em Pedrógão Grande, centro da tragédia dos incêndios de 2017, mas também em Coimbra, onde Camões terá estudado. E no seu principal discurso destas cerimónias quis juntar tudo.
“Que outro 10 de Junho podia ser tão completo assim”, exclamou o Presidente da República depois de evocar as tragédias e o poeta. A cerimónia, disse, “quer dizer futuro, reconstrução, novos jovens, novos residentes, nacionais e estrangeiros e novos sonhos para amanhã e depois”, celebrando de uma forma inteira, “não omitindo a tragédia e a morte, mas sonhando com a redenção e a vida, não esquecendo os tantas vezes esquecidos dos novos horizontes, mas recusando fazer deles o que não são, nem nunca aceitariam ser: menos portugueses, menos cidadãos, menos cultos, na cultura da vida como na cultura das letras, portadores de esperança”.
Repetindo muitas vezes “todos” ao longo do seu discurso, Marcelo falou, como é habitual nos seus discursos do Dia de Portugal, do orgulho que os portugueses devem ter. “Todos, mas todos orgulhosos dos seus caboucos, das suas origens e todos, mas todos com gentes dispersas nas américas, nas europas, nas ásias, nos pacíficos … todos, mas todos, como Camões, que foi combatente como tantos dos nossos, século após século, indomável, mas também rufião, conviva do povo mais povo e, ao mesmo tempo letrado, poeta lírico e épico, contador da nossa História, a antiga e aquela que ele próprio fez todos os dias da sua vida”, afirmou o Presidente
Bombeiro Rosinha apontou promessas por cumprir
“Portugal é assim. É assim aqui em Pedrógão Grande, em Castanheira de Pêra, em Leiria , em Coimbra, nas dezenas de concelhos devastados em 2017 e renascidos e a querem renascer, sem auto-compaixões, com exigência, com coragem, com ambição”, disse também o Presidente, que antes tinha ouvido o bombeiro Rui Rosinha apontar as promessas por cumprir nestes territórios.
“Orgulhosamente filho desta região”, Rui Rosinha era membro da Corporação de Castanheira de Pera e esteve envolvido num acidente com outros quatro bombeiros, um dos quais morreu já no hospital. Foi um dos bombeiros que sofreu mais ferimentos no combate aos incêndios de 2017, sendo uma das vozes mais ativas na defesa das vítimas. É foi o convidado a discursar antes do Presidente da República.
PAULO NOVAIS/Lusa
“Uma nação inteira chorou e ajudou na reconstrução. Muito se falou e prometeu, mas pouco chegou ao território. A burocracia é pesada e demorada. Todos os dias tentamos transformar a dor em esperança. Nem sempre conseguimos. O caminho para a recuperação tem sido bastante difícil, mas como beirões resilientes que somos continuamos a tentar pelos que partiram e pelos que ficaram”, afirmou Rosinha, aproveitando a presença de vários ministros para apontar dificuldades que aquelas terras continuam a ter no acesso a cuidados de saúde, na cobertura de rede de telemóvel, no custo dos acessos rodoviários.
As “cicatrizes nas nossas terras e almas são profundas e irreparáveis”, disse o bombeiro aposentado, pedindo que as vítimas não sejam esquecidas, assim como os feridos, suas famílias e quem perdeu tudo nos incêndios. “Não devemos esquecer aqueles que bravamente combateram aquele inferno”, acrescentou, lembrando a morte do bombeiro Gonçalo da Conceição Correia.
“Deixou muitos recados a toda a gente, como era necessário e bom”, disse Marcelo sobre o discurso de Rosinha já depois de terminada a cerimónia. e foi também sobre esse discurso que falou o primeiro-ministro, prometendo fazer o que estiver nas suas mãos para cumprir as expectativas criadas.
PAULO NOVAIS/Lusa
“Senti que nem todas as expectativas foram cumpridas. Da parte que nos toca tentaremos fazê-lo nos próximos anos”, prometeu Luís Montenegro, que recusou fazer comentários sobre os resultados das eleições europeias.
Também o Presidente da República não quis falar das eleições da véspera, ao contrário de Rui Rocha. No rescaldo de uma eleição que conferiu a primeira entrada e logo da dobrar do partido no Parlamento Europeu, o presidente da IL afirmou que o Governo – que teve uma primeira mês “francamente mau” seguido de uma fase de anúncios – tem agora de “mostrar trabalho” se quer continuar.
Também o líder do PS fez declarações à chegada a salientar de novo a vitória do PS e a sua interpretação de que esse resultado mostra que o Governo deve ter uma mudança de atitude na relação com a oposição. “Fiquei com a sensação que não percebeu o sinal que os portugueses quiseram dar e isso é que é mau”, acrescentou.
A promessa do líder do PS na noite eleitoral de que o PS não irá provocar estabilidade, assim como o fraco resultado do Chega, permitem ao Presidente da República olhar o futuro político próximo com alguma confiança e esperança, que foi o que pediu também, neste Dia de Portugal, aos portugueses: que deem sempre “lugar para a esperança e para o sonho”. E concluiu: “Não se iludam outros, não nos iludamos nós: Portugal, os portugueses são sempre melhores do que as antevisões dos arautos dos infortúnios.”