Muitas vezes confundida como sintoma de uma gripe ou constipação, a tosse convulsa é uma infeção respiratória originada pela bactéria Bordetella pertússis. Esta compromete o aparelho respiratório e transmite-se pela saliva expelida através da tosse ou pelo contacto com objetos contaminados.
Nos últimos quatro meses, a Direção Geral de Saúde registou pelo menos 200 casos de tosse convulsa, número que contrasta com os 22 registados em 2023. Pela Europa, também se verifica um aumento geral do número de casos. Segundo dados do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC), enquanto no ano passado foram identificados mais de 25 mil casos de tosse convulsa, este ano, só entre janeiro e março foram registados cerca de 32 mil.
Por vezes, os sintomas da tosse prolongam-se por vários meses, o que se pode tornar um incómodo no dia a dia. O CM questionou António Bugalho, médico pneumologista no Hospital CUF Descobertas e Hospital CUF Tejo e investigador na Universidade Nova de Lisboa, sobre o impacto da doença.
Quais são os sintomas?
Apesar de em algumas pessoas não originar sintomas, a tosse convulsa caracteriza-se por três fases: fase catarral, fase paroxística e fase de convalescença.
Segundo António Bugalho, na fase catarral, que decorre nas primeiras duas semanas, os sintomas mais frequentes são mal-estar, discreta tosse, nariz a pingar, olhos mais vermelhos e por vezes febre baixa.
Nas semanas seguintes, entra-se na fase paroxística, que engloba tosse violenta, que surge por acessos e que pode mesmo conduzir a tonturas ou vómito tal é a sua intensidade. “Esta fase é mais prolongada que pode dura de dois a três meses a passar”, explica o especialista.
Na fase de convalescença, os acessos de tosse vão diminuindo progressivamente até que o doente recupera totalmente.
Qual o tratamento?
“Todas as pessoas devem ficar alerta e consultar um profissional de saúde quando os sintomas são prolongados ou incapacitantes e quando se suspeita de tosse convulsa, de forma a prevenir a propagação da infeção a outras pessoas, nomeadamente a crianças e adultos mais vulneráveis. Uma infeção respiratória normal demora menos tempo a passar”, sublinha o médico.
Embora exista tratamento, o investigador explica que os antibióticos que são prescritos, por norma, não alteram o curso da evolução da doença. São mais utilizados para diminuir o risco de transmissão.
Xaropes são bons aliados?
Os xaropes, que muitas vezes se associa ao tratamento da tosse, não são eficazes no que diz respeito à tosse convulsa. Alguns doentes poderão receber a indicação para utilizar supressores para a tosse, mas apenas mediante a avaliação e aconselhamento médico, explica o pneumologista.
Doença pode trazer outras complicações?
Os bebés com idade inferior a um ano e os jovens entre os 10 e os 19 anos são os grupos com maior incidência de tosse convulsa. Na Europa, entre 2023 e 2024, a maioria das mortes por tosse convulsa ocorreu em bebés. Adultos com problemas respiratórios, fumantes e idosos acabam também por entrar no grupo de risco.
Segundo António Bugalho, as consequências da tosse convulsa são mais frequentes nos bebés e crianças bem como adultos com asma ou doença pulmonar obstrutiva. As complicações da doença podem ser geradas pela infeção, como otites e pneumonias, mas também pela violência da tosse. Por vezes, esta acaba por conduzir ao agravamento ou aparecimento de hérnias, incontinência urinária, fratura de costelas e dores musculares. O absentismo escolar e profissional, despertares frequentes durante o sono e aumento da ansiedade são outras das complicações associadas à doença.
O que causa o aumento de casos?
A diminuição da vacinação e a redução da imunidade por toda a Europa devido à pandemia da Covid-19 são duas hipóteses que poderão explicar o aumento do número de casos. No entanto, de acordo com o ECDC, é comum que de três em três anos, ou de cinco em cinco, se verifiquem epidemias de maior dimensão, mesmo com uma elevada cobertura vacinal.
A medida preventiva mais importante é, segundo a DGS, a vacinação. No programa Nacional de Vacinação está contemplada a administração de cinco doses da vacina Pertussis Acelular, que se toma aos dois, quatro, seis e 18 meses e também aos cinco anos.