Um grupo de forças armadas e de polícias militares na Bolívia tomaram esta quarta-feira o controlo do centro de La Paz e chegaram mesmo a entrar no antigo palácio governamental, segundo avançaram as agências internacionais, antes de desmobilizarem ao início desta noite.
O presidente Luis Arce denunciou a “mobilização irregular” de alguns membros do exército e disse que “a democracia deve ser respeitada”, numa publicação na rede social X (antigo Twitter). Mais tarde, num comunicado ao país, Arce afirmou que o Governo “não vai permitir, mais uma vez, que tentativas de golpes tomem conta das vidas dos bolívares”.
Também o vice-presidente do país, David Choquehuanca, denunciou “a tentativa de golpe de Estado contra o nosso Governo democraticamente eleito”.
Ao longo do final de tarde e início de noite, foram sendo partilhados nas redes sociais, de jornalistas e órgãos de comunicação social, vídeos de soldados e de francoatiradores, de caras tapadas, nas principais ruas de La Paz e a irromper pelo Palacio Quemado (sede do Governo).
Imagens do canal Bolivision mostraram o momento em que Presidente Luís Arce confrontou diretamente os responsáveis pelo golpe à porta do palácio presidencial. Arce terá ordenado a Zúñiga que retirasse os seus soldados.
Horas depois do início do golpe, as forças armadas que entraram na capital da Bolívia desmobilizaram e Luis Arce nomeou uma nova liderança militar, confirmando-se o que o The Guardian descreveu como um golpe falhado.
O novo chefe do exército, José Wilson Sánchez Velásquez, apareceu nas televisões ao lado de Arce, e ordenou que as tropas regressassem aos seus postos, enquanto os apoiantes do Presidente gritavam pela democracia.
Segundo explicou o The Guardian, o golpe foi levado a cabo pelo general Juan José Zúñiga, que foi recentemente demitido na terça-feira. À imprensa local, citada pela Reuters, Zúñiga terá dito que “os três chefes das Forças Armadas foram expressar o seu desalento” e garantiu que “vai haver um novo Governo, as coisas têm de mudar”.
E insistiu, rodeado de soldados, que a ação militar era apoiada pela população, apesar de ainda não existirem quaisquer apoio popular ao golpe nas ruas. Antes de entrar no edifício do Governo em La Paz, o general admitiu que a liderança do país vai manter-se “por enquanto”.
Vários líderes da América Central repudiaram as operações das forças bolívares, incluindo os chefes de Estado de Brasil, Cuba, Peru, Colômbia, Uruguai, Honduras, entre outros. Pedro Sánchez, o primeiro-ministro espanhol, e Josep Borrell, chefe da diplomacia europeia, também exigiram que os militares respeitassem a integridade democrática do país.
Também Evo Morales, o histórico líder socialista da Bolívia, apontou o dedo às movimentações que “preparam a antecipação de um golpe de Estado” e pediu “ao povo com vocação democrática para defender a pátria de alguns grupos militares que atuam contra a democracia”.
Além de mudar as chefias militares, deve-se proceder imediatamente a um processo penal contra o general Zúñiga e os seus cúmplices, de acordo com a constituição”, exigiu Morales, que foi afastado da corrida às próximas presidenciais e que, ainda assim, defendeu o atual executivo.
[Notícia atualizada às 0h03]