As atenções do mundo diplomático voltaram-se para longe da linha da frente da guerra na Ucrânia, após o súbito anúncio na segunda-feira da visita de Vladimir Putin à Coreia do Norte. Ao final desta tarde, o Presidente russo aterrou em Pyongyang para uma visita com um dos seus mais importantes aliados.
Putin deve encontrar-se com Kim Jong-un ao longo dos próximos dois dias e, segundo a Sky News, citando um comunicado do Kremlin, os dois líderes devem assinar um “tratado de parceria estratégica”.
Esta é a primeira vez em 24 anos que Putin visita a Coreia do Norte e surge depois de Kim Jong-un, o ditador norte-coreano, ter viajado até à região este da Rússia. Segundo a agenda anunciada por ambos os países, o Presidente russo deve assistir a um dos elaborados cortejos militares das forças armadas norte-coreanas, ver um concerto e visitar a igreja ortodoxa de Pyongyang, a única em todo o país.
Na semana passada, Kim Jong-un assinalou que a Rússia e a Coreia do Norte desenvolveram “uma relação inquebrável”. Já Putin vincou, na receção do ano passado, que havia “possibilidades” para uma maior cooperação militar com o regime comunista norte-coreano.
As relações entre os dois países, governados por autocratas, com um forte aparato de segurança e programas nucleares extensos, têm deixado a comunidade ocidental receosa de uma maior colaboração. Ao longo da guerra na Ucrânia, o Governo de Kiev, a NATO e outros aliados alertaram que a Coreia do Norte estaria a fornecer armas para os russos usarem na sua invasão – algo que ambas as nações negaram sempre.
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Na segunda-feira, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, John Kirby, comentou que os norte-americanos “não estão preocupados com a viagem” de Putin, mas sim com “o aprofundamento de relações entre os dois países”.
Já o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, considerou na segunda-feira que a visita de Putin demonstra a “dependência” de Moscovo em regimes autoritários. “Isto mostra o quão dependentes o Presidente Putin e Moscovo estão agora dos países autoritários de todo o mundo”, defendeu, durante uma visita a Washington D.C., reiterando que “os seus amigos mais próximos e maiores apoiantes do esforço de guerra russo são a Coreia do Norte, o Irão e a China”.
Rutte mais próximo de liderança da NATO
Por falar em NATO, com a saída de Stoltenberg mais próximo, a liderança da aliança transatlântica continua por decidir, mas o (ainda) primeiro-ministro neerlandês é cada vez mais favorito a assumir o cargo.
O órgão neerlandês NOS, citando fontes junto do Governo do país, deu esta terça-feira como certa a escolha de Mark Rutte para próximo secretário-geral da NATO, quando Stoltenberg terminar o seu mandato, a 1 de outubro.
A hipótese de Rutte garantir o cargo aumentou depois de Viktor Orbán, o líder ultranacionalista da Hungria que tem criado dificuldades no seio da NATO, devido à influência do Kremlin no país, dar o seu ‘ok’ (em troca, Orbán conseguiu que as forças húngaras fossem excluídas de atividades partilhadas com a Ucrânia).
Na sua visita a Washington, o próprio dirigente da NATO considerou que Rutte, de 57 anos, é “um candidato muito forte” e destacou a sua experiência como primeiro-ministro dos Países Baixos. “Com o anúncio do primeiro-ministro Orbán, penso que é óbvio que estamos muito perto de uma conclusão. Acredito firmemente que a aliança decidirá em breve quem será o meu sucessor”, afirmou Stoltenberg, numa conferência de imprensa ao lado do secretário de Estado dos EUA.
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O neerlandês já garantiu o apoio de alguns dos principais aliados na NATO, incluindo dos EUA, Reino Unido, França, Alemanha e Eslováquia. A eleição de um novo secretário-geral da NATO, à semelhança de muitas decisões na aliança, requer um consenso por unanimidade. O Presidente da Roménia, Klaus Iohannis, é outro candidato à posição, e o seu país ainda não declarou qualquer apoio ao líder neerlandês.
Mark Rutte é chefe do Governo dos Países Baixos desde 2010 e vai sair do cargo, depois do resultado das últimas eleições legislativas ter ditado uma vitória para o partido de extrema-direita PVV, de Geert Wilders.
Outras notícias:
> Um incêndio deflagrou numa refinaria de petróleo após um ataque noturno de drones em Azov, sul da Rússia, onde está localizado o quartel-general militar da operação russa na Ucrânia, disseram as autoridades locais. “Os tanques de petróleo incendiaram-se em Azov na sequência de um ataque de drones”, escreveu na plataforma de mensagens Telegram o governador da região de Rostov;
> A Ucrânia vai instaurar cortes parciais de corrente elétrica durante quarta-feira e por todo o país para aliviar uma rede elétrica fortemente danificada pelos bombardeamentos russos, anunciou o operador nacional Ukrenergo. Neste momento, este género de medidas só era aplicável em alturas de picos de consumo;
> O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, denunciou hoje o apoio da China ao esforço de guerra da Rússia na Ucrânia e defendeu que tal “tem de acabar”. “[A ajuda] permite à Rússia manter a base militar-industrial, manter a máquina de guerra, manter a guerra. Isto tem de acabar”, declarou Blinken numa conferência de imprensa conjunta com o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, em Washington, apontando que cerca de “70% das máquinas importadas pela Rússia” são oriundas da China, tal como “90% dos equipamentos de microeletrónica”.