O último relatório do Instituto para os Comportamentos Aditivos e as Dependências (ICAD)
revela que os portugueses consomem cada vez mais álcool e a situação fica mais preocupante quando se olha para os jovens, explica Manuel Cardoso do ICAD: ” aos 18 anos, 80 a 85% dos jovens já experimentou uma bebida alcoólica, praticamente 50% já teve consumos esporádicos, de grandes quantidades. num curto espaço de tempo”, o chamado ‘binge drinking’, ou seja, “4 bebidas para as mulheres em cada ocasião, 40 gramas de álcool puro ou 5/6 bebidas, para os homens, 60 gramas de álcool puro numa só ocasião. A embriaguez são já os efeitos do álcool o que significa que o consumo foi ainda superior”, explica.
Entre os 15 e os 19 anos é uma das três fases da vida em que o consumo de álcool tem maior impacto no cérebro, mas antes das consequências a longo prazo, existem efeitos quase imediatos como “indisposições, perturbações gastrointestinais, há uma perda da perceção da realidade e da maneira como avaliam as situações”, diz a psicóloga Gracinda Santos, acrescentando que o consumode álcool em grandes quantidades aumenta “a probabilidade de se envolverem [os jovens] em comportamentos de risco”. Dos comportamentos de risco resultam, violência e muitas vezes acidentes, explica o vogal do ICAD, “violência que chega aos limites, quaisquer que eles sejam, pode deixar a pessoa com problemas definitivos ou permanentes ou pode levar à morte. O mesmo com os acidentes de viação … os óbitos na estrada são ainda demasiado altos para serem negligenciados, essas mortes contam para diminuir a esperança de vida “.
Além de efeitos a curto prazo, o álcool também impacta na longevidade e os anos de vida saudáveis ao condicionar a saúde ao longo de toda a vida.
Para além dos impactos diretos nas funções cerebrais “relacionados com as funções cognitivas, com a capacidade de concentração, memória… pode potenciar o desenvolvimento de perturbações da personalidade em jovens adultos (…)”, explica a psicóloga Gracinda Santos
A isto Manuel Cardoso acrescenta que o consumo de álcool precoce ou em qualquer fase da vida pode estar na origem de “doenças cardiovasculares, desde a cirrose ao cancro, vários cancros, 7 tipos de cancro relacionados com o consumo de álcool”.
Os jovens começam a beber por pressão social, para integração, sentimento de desinibição ou até mesmo por curiosidade. Reduzir os consumos é uma tarefa difícil, uma vez que esta ainda é uma “droga” socialmente aceite” e “muito relacionada com as situações de celebração, de festa… e isso, por si só também se constitui um fator de risco, porque se está associada a coisas boas, não se pressupõe tantos malefícios”, explica a psicóloga.
Para o ICAD e os restantes especialistas da área é importante limitar os consumo ao nível familiar, apostando no diálogo e vigia dos consumos, mas também agir ao nível da legislação aplicada à publicidade, aos preços e locais de venda. Apostar na literacia é fundamental.