Mais de 80 milhões de norte-americanos estão a ser expostos à primeira grande vaga de calor no país em 2024, com vastas áreas do Midwest e do Nordeste, regiões menos habituadas a temperaturas elevadas, a superarem esta quarta-feira os 36 graus Celsius de máxima, valor incomum para Junho. A sensação térmica está a ser intensificada pela elevada humidade, com fortes tempestades registadas desde os Grandes Lagos até à costa atlântica.
Illinois, Michigan, Indiana, Ohio, Pensilvânia, Nova Iorque, Vermont, New Hampshire, Massachusetts e Maine são os estados norte-americanos com temperaturas mais elevadas até, pelo menos, o final desta semana. Nestes estados, o Serviço Nacional de Meteorologia dos Estados Unidos (NWS, na sigla em inglês) coloca várias áreas sob alerta magenta de calor, o nível mais elevado numa escala de cinco.
Na cidade de Nova Iorque, onde os termómetros deverão superar os 30ºC o resto da semana, as autoridades alertam para os riscos ocultos das temperaturas elevadas. “O calor extremo é o fenómeno meteorológico mais perigoso que temos em Nova Iorque. Perdemos mais de 350 nova-iorquinos por ano, em média, devido ao calor”, recordava Zach Iscol, responsável da protecção civil da cidade, numa conferência de imprensa na terça-feira.
Riscos acrescidos para a saúde
“Fiquem atentos ao boletim meteorológico, mantenham-se hidratados e adiem as actividades ao ar livre o máximo possível”, apelava a governadora do estado de Nova Iorque, Kathy Hochul. Idosos, crianças, mulheres grávidas e pessoas com doenças crónicas são os grupos de maior risco.
As primeiras vagas de calor do ano são as mais perigosas para a saúde humana, recorda o Washington Post, citando Jennifer Vanos, investigadora da Universidade Estadual do Arizona. Quando os corpos já estão habituados ao calor, estes tendem a reagir de forma mais célere através da sudação, da circulação sanguínea e da sensação de sede, desencadeando mecanismos de preservação. Quando os indivíduos ainda não estão habituados a temperaturas elevadas, a resposta do corpo é mais lenta, levando-os a subestimar o perigo do calor extremo.
Golpes de calor, desidratação, exaustão e problemas cardíacos são alguns dos riscos potencialmente fatais associados à exposição ao calor excessivo.
Para além dos riscos de saúde, as autoridades estão atentas aos efeitos indirectos da vaga de calor na rede eléctrica: o uso intensivo de aparelhos de ar condicionado, de ventoinhas e de outros mecanismos de arrefecimento estão a causar apagões em vários locais, um problema agravado pelos ventos e tempestades registados no Midwest e no Nordeste, que têm derrubado linhas de alta tensão.
Piscinas, bibliotecas e esquadras como refúgio
Outras cidades à mercê da canícula: Boston chegou esta quarta-feira aos 36,6ºC, o seu 19 de Junho mais quente de sempre, temperatura que Filadélfia deverá superar nos próximos dias. Cleveland marcou 33,3ºC, Chicago e Detroit 32ºC. Ali, como no resto do Nordeste americano e nos Grandes Lagos, o desconforto será prolongado, com noites de mínimas elevadas e com as previsões meteorológicas para os próximos dias a não anteciparem um alívio significativo. De resto, ao longo da faixa atlântica, a expectativa é de que as temperaturas se mantenham bem acima dos valores médios até ao final do mês.
No estado do Vermont, mais conhecido pelas estâncias de ski, e onde as máximas médias de Junho não excedem os 25ºC, os termómetros chegaram nesta quarta-feira aos 36ºC e levaram as autoridades estaduais a abrir as portas de centenas de edifícios e espaços públicos com ar condicionado ou com acesso a água para os habitantes se refrescarem: não só piscinas e ringues de patinagem, mas também bibliotecas, esquadras de polícia e os próprios escritórios das autarquias e agências governamentais. É um cenário que se repete noutros estados, que estão a antecipar por alguns dias a reabertura de piscinas e praias habitualmente fechadas até ao início do Verão.
No New Hampshire, na estação meteorológica do Monte Washington, celebrizado na cultura popular norte-americana como o local com “o pior tempo do mundo” devido às temperaturas baixas e aos ventos inclementes (o local foi detentor, durante décadas, do recorde mundial da mais forte rajada: 372 km/h), admite-se que o respectivo recorde absoluto de calor possa cair esta semana. Expectativa semelhante tinham os meteorologistas da remota e reconhecidamente gélida cidade de Caribou, no vizinho Maine, extremo Nordeste do país, onde na quarta-feira se registava 36ºC. Nestes dois estados, os avisos de calor extremo emitidos pelo NWS são inéditos.
A vaga de calor em curso nos Estados Unidos está associada a uma zona de alta pressão atmosférica que, segundo o NWS, está a actuar como uma espécie de tampa sobre uma panela, impedindo o calor de se dissipar. Ainda que o fenómeno não seja inédito, nem que a presente vaga de calor possa para já ser relacionada de forma directa e isolada com as alterações climáticas, a comunidade científica tem apontado que os eventos meteorológicos extremos têm aumentado de frequência e de intensidade nos últimos anos, em linha com o aumento da temperatura média global atribuído às emissões poluentes de gases com efeito de estufa.