A artista francesa ORLAN estreia-se em Portugal com a série “FEMMAGE”, na Galeria do Centro Português de Serigrafia, no CCB. Provocações e reflexões sobre identidade, feminismo e história. Para ver até dia 2 de junho.
Uma das mais destacadas artistas francesas de renome internacional, ORLAN – em maiúsculas, qual ‘statement’ sobre a sua individualidade – apresenta a exposição Je t’autorise a être moi, je m’autorise a être toi, na Galeria do CPS – Centro Português de Serigrafia, no Centro Cultural de Belém.
O público português vai poder ver, pela primeira vez, um conjunto de obras inseridas na série “Femmage”, na qual a artista cria “auto-hibridações” em homenagem a mulheres que marcaram a história da Humanidade. Ponto de partida? A sua admiração pelas causas que defenderam na sua época e que ORLAN apoia integrando-as no seu trabalho.
Falamos de mulheres pioneiras que abriram caminho a outras mulheres, assumindo riscos que puseram em causa a própria vida, como Rosa Parks ou Marie Curie, Hedy Lamarr, Simone Veil ou a a Imperatriz Eugénie. “Permito-me assemelhar-me a ela, permito que ela se assemelhe a mim. Encontramo-nos apesar das brumas do tempo que nos separam. Uma marca de mim na memória dos outros”, diz a artista sobre o conceito desta exposição.
Acima de tudo, ORLAN pretende criar um encontro entre mulheres que transcendem as barreiras do tempo, espaço, artes e géneros. E remeter, uma vez mais, para um tema que lhe é caro: o feminismo. Não aquele que hoje é protagonizado por muitas mulheres nos EUA, “que são, inclusivamente, contra os homens”, declara a artista ao Jornal Económico. Mas sim o feminismo que advoga a defesa dos direitos das mulheres, com base no princípio da igualdade de direitos e de oportunidades entre os sexos. E, acima de tudo, a libertação de todos os estereótipos, numa ode à verdadeira liberdade de, simplesmente, ser, contestando o estatuto que confina a mulher à ordem das aparências.
“Vivemos tempos em que muitas regressões estão a acontecer. As mulheres têm um papel fundamental na sociedade e não podem ceder a maniqueísmos arcaicos. Há forças em ação que anseiam ver novamente a mulher ‘dentro de casa’”, sublinha ao JE, antes de concluir que a tirania do masculino deve ser combatida, sem esquecer que a Arte é apenas um veículo para o fazer.
Nestas “auto-hibridações”, como lhes chama – em que ORLAN se ‘autoriza a ser a outra, e ela se autoriza a ser a outra’ -, o ensejo é o de levar o público a questionar o que é, de facto, ser mulher. Mas também a alargar horizontes, abrindo-se à liberdade de pensamento e de ação.
O corpo feminino segundo ORLAN
A artista francesa é reconhecida pela sua abordagem provocadora e arrojada que desafia o determinismo social e político, a supremacia masculina e os padrões estéticos
convencionais. Irrompeu no mundo da arte em 1964 e, desde então, tem vindo a refletir sobre as condições culturais, políticas e sociais em que o corpo feminino é inserido, retirando-o do espaço privado e expondo-o na esfera pública.
Destacando-se como precursora da Body Art e da Arte Carnal, ORLAN recorre ao próprio corpo como matéria-prima e suporte visual, expressando-se através da escultura, fotografia e performance, mas também do vídeo, videojogos, inteligência artificial e robótica, além da cirurgia e biogenética.
O público português e, em particular, os colecionadores de arte, terão acesso a uma série exclusiva de edições limitadas com a chancela do CPS – Centro Português de Serigrafia, numeradas e assinadas, selecionadas pela artista.