Ian McEwan
Gradiva, 2019
O que nos torna humanos? Os nossos atos exteriores ou as nossas vidas interiores? Pode uma máquina entender o coração humano? Estas são algumas questões colocadas no livro “Máquinas como eu”, do escritor britânico Ian McEwan. Lançado em 2019 pela Gradiva, o romance, redigido num tom audaz e divertido, questiona os limites entre o humano e o artificial num mundo distópico, tendo como pano de fundo uma “Londres alternativa” dos anos oitenta. Charlie, narrador-protagonista, herda uma fortuna inesperada e decide comprar um exemplar do primeiro lote de seres humanos sintéticos. “O Adão custava oitenta e seis mil libras. Levei-o para casa, um apartamento nada agradável no Norte de Clapham, numa carrinha alugada. Tinha-me decidido sem pensar muito, encorajado pelas notícias de que Sir Alan Turing, herói da guerra e génio destacado da era digital, tinha encomendado o mesmo modelo”. Assim começa uma história que nos fala sobre ética, moralidade, justiça, sonhos. “Era dar esperança a um desejo religioso, era o Santo Graal da ciência. As nossas ambições iam de um extremo ao outro – pela concretização de um mito da criação, por um monstruoso ato de amor próprio. Mal se tornou exequível, não tivemos outra opção senão seguir os nossos desejos e aguentar as consequências”.