Nas três exposições que destacamos, os trabalhos expostos, da fotografia às artes gráficas, passando pela escultura e azulejo, têm em comum uma clara homenagem ao nosso país e um apelo à preservação da memória.
O regime ditatorial do Estado Novo, vigente desde 1933, caiu com a Revolução de 25 de Abril, em 1974, levado a cabo pelo Movimento das Forças Armadas (MFA). Começou aí a implementação de um regime democrático e, se o povo saiu à rua, e a arte também o fez.
Os artistas que vinham a afirmar-se desde a década anterior, tanto os que regressavam, como os que não haviam chegado a sair do país, ansiavam por seguir as tendências que fervilhavam na Europa e por experimentar novas linguagens, exprimindo livremente a sua criatividade.
O ambiente revolucionário era um convite à participação cultural e à criação de novos públicos da arte. Mas também estimulou o aparecimento da propaganda política em larga escala e a explosão da arte gráfica. Resultado? A arte, além de sair à rua, também se colou às paredes.
E se pode parecer exagerado falar num ‘salto quântico’, a verdade é que a arte nunca mais foi a mesma. As três exposições que aqui destacamos propõem olhares distintos sobre o antes, o durante e o depois do dia 25 de Abril. Para que a memória não apague o que não pode ser esquecido.
Dois olhares, dois fotógrafos
Eduardo Gageiro expõe 170 fotografias que vão dos anos de 1950 do século XX até 2023 em “Factum”, no Torreão Nascente da Cordoaria Nacional, até 5 de maio. O fotógrafo revela que o segredo do sucesso da sua carreira foi “fotografar todas as pessoas com todo o amor e respeito, o Portugal real sim, mas com dignidade.” A entrada é livre.
Alfredo Cunha tem a decorrer a exposição de fotografia “A Work in Progress, Portugal 1973-2023” no Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas, nos Açores, até 12 de maio, em parceria com a Associação de Fotógrafos Amadores dos Açores (AFAA) e a Leica. Uma retrospetiva de meio século de trabalho ligado à fotografia numa clara homenagem ao nosso país.
Ainda de Alfredo Cunha temos a exposição de fotografia “25 de Abril de 1974, quinta-feira”, patente ao público na Galeria Municipal Artur Bual, Amadora, até 23 de junho. Uma iniciativa que será complementada pela apresentação de 50 outdoors por toda a cidade da Amadora, e ainda 50 fotos do autor, que estarão expostas no Museu de Almada-Casa da Cidade, até 28 de setembro.
28 olhares artísticos contemporâneos
Para assinalar os 50 anos do 25 de Abril, a União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA), em parceria com o Centro Cultural de Cabo Verde (CCCV) e a Embaixada de Cabo Verde, em Portugal, inauguraram a exposição “Liberdade – Portugal, lugar de encontros” na sede da UCCLA e no CCCV, que decorre até dia 10 de maio.
Esta exposição coletiva, com curadoria de João Pinharanda, pretende dar voz à expressão artística desencadeada pela conquista da Liberdade em Portugal. Na prática, o 25 de Abril de 1974 e o fim da Guerra Colonial criaram condições para uma multiplicidade de encontros, como os 28 olhares artísticos contemporâneos aqui expostos, oriundos dos países de língua portuguesa.
Destaque para as múltiplas as técnicas utilizadas na produção das peças expostas, que incluem pintura, serigrafia, fotografia, escultura, azulejo e tapeçaria. A entrada é livre.
E tudo começou nos primeiros dez dias
“10 dias que abalaram Portugal: Materiais da revolução do Arquivo Ephemera” é o tema da exposição inaugurada em março, em Lisboa, no Mercado do Forno do Tijolo. Nela se reúnem documentos originais que testemunharam os primeiros dez dias de liberdade em Portugal, numa compilação organizada pelo arquivo Ephemera. Tal como também se podem ver os temas retratados na imprensa internacional nesse período, caso da libertação dos presos políticos e do impacto político além-fronteiras.
Nesta viagem que começa no dia 25 de Abril e termina a 4 de maio, pretende-se, segundo o comissário da exposição e presidente da Ephemera, José Pacheco Pereira, ampliar “a informação existente sobre os acontecimentos do 25 de Abril. É uma exposição diferente das outras. Colocámos materiais que não são conhecidos, como é o caso do Diário de António Champalimaud e da imprensa da África do Sul”.
A exposição pode ser visitada até 26 de maio, com entrada livre.