Os resultados das eleições na Madeira merecem uma reflexão séria e profunda, ficou claro para todos que os eleitores Madeirenses deram um sinal de que convivem bem com o poder instalado há mais de quatro décadas, aceitam bem o clientelismo que se foi instalando no sistema, convivem bem com o nível de pobreza existente, bem como com as suspeitas de corrupção que recaem sobre Miguel Albuquerque.
Digam o que disserem, Miguel Albuquerque obteve uma vitória quase inacreditável, pois não é qualquer um que, apesar de constituído arguido por suspeitas de irregularidades enquanto governante, tem o descaramento de se voltar a candidatar a eleições e ainda consegue voltar a vencer!
Poderá dizer-se que também é demérito da oposição que não conseguiu apresentar uma boa alternativa ou então que o PSD esteve sempre no poder e ganha vantagem por essa razão. Pode servir de algum consolo o facto de não ter obtido maioria absoluta, mas nada justifica a reeleição de um candidato que acabou de se demitir por ter sido constituído arguido num processo relacionado com corrupção.
O único candidato que não tinha condições para o ser e muito menos para vencer estas eleições era precisamente Miguel Albuquerque, que nem dos seus parceiros de coligação recebeu qualquer tipo de solidariedade – pelo contrário, concorreram sozinhos e fizeram bem.
O povo é soberano, deu a vitória ao PSD sem maioria, mas deu mais eleitos à oposição toda junta. Era necessária a responsabilidade e seriedade de agir em função dos resultados, mas acima de tudo das circunstâncias.
Após os resultados, colocaram-se alguns cenários em cima da mesa.
A primeira possibilidade era Miguel Albuquerque formar governo e ficar tudo na mesma, o que só seria possível com a conivência de outros partidos que quisessem ficar com esse ónus. É politicamente oneroso e até suicida contribuir, seja de que forma for, para a manutenção do poder instalado na Madeira sob a mesma liderança.
A única possibilidade aceitável de o PSD continuar a governar a Madeira teria de passar pela demissão de Miguel Albuquerque, caso contrário, não é compreensível nem é moralmente aceitável.
O PS e o JPP demonstraram disponibilidade para um entendimento, deixando os outros partidos sem grande escapatória perante a realidade instalada. Esta era uma alternativa ao PSD que ainda poderia vingar para contrariar o triste paradigma em que se encontra a Madeira.
Todos os partidos políticos tinham aqui uma oportunidade de mostrar ao país que, numa circunstância muito especial, tinham a capacidade de se unir com o único propósito de combater a impunidade e de moralizar a política, defendo simultaneamente o superior interesse dos madeirenses.
Mas o CDS não resistiu à tentação, com o falso argumento de ser um partido responsável, optou por viabilizar um governo liderado por um arguido num processo de corrupção, recebendo em troca o cargo de presidente do parlamento regional.
É este o triste exemplo dado ao país, vendem-se por um prato de lentilhas, num momento em que se exigia seriedade e consequentemente total inflexibilidade quanto à viabilização de um governo liderado por Miguel Albuquerque.
O slogan “em política, não deve valer tudo”, não se apregoa, pratica-se e, neste caso, era o momento de o demonstrar.
Na Madeira, não devia valer tudo!