Uma mulher foi condenada na terça-feira a passar um mês na prisão por um tribunal em Manhattan, nos Estados Unidos, após ter sido considerada culpada de roubar o diário da filha do Presidente Joe Biden num esquema elaborado, e de o vender a um grupo de extrema-direita, com o objetivo de prejudicar Biden antes das eleições presidenciais de 2020.
O diário, roubado em agosto de 2020, foi vendido por Aimee Harris e por um amigo, Robert Kurlander, ao grupo extremista Project Veritas, com a arguida e o seu colaborador a ganharem mais de 20 mil dólares cada.
Harris, de 41 anos e natural do estado da Flórida, roubou os pertences de Ashley Biden, a única filha do casamento entre Joe Biden e a sua segunda mulher (e atual primeira dama), Jill Biden, quando esta se encontrava na casa de uma pessoa amiga. Segundo a acusação, Biden deixou o livro na casa para que este ficasse guardado, juntamente com outros bens pessoais, mas a mulher garantiu que o diário fora simplesmente abandonado, e não roubado.
Num comunicado enviado ao tribunal e citado pelo New York Times, Ashley Biden considerou que o roubo foi “uma das formas mais horrendas de bullying”.
A condenação surgiu depois de um longo processo, no qual Aimee Harris testou os limites da paciência da justiça norte-americana. Segundo o New York Times, em agosto de 2022, Harris confessou ter conspirado para roubar o diário e vendê-lo em Nova Iorque, mas as audiências após a confissão foram sendo consecutivamente adiadas porque a mulher faltou pelo menos 12 vezes, por motivos de alegada doença ou por questões relacionadas com o cuidado da sua criança.
Em janeiro, a arguida marcou presença numa audiência por chamada, a partir de uma sala de espera nas urgências de um hospital. A juíza federal do caso, Laura Taylor Swain, considerou que a situação era “extremamente irregular” e a acusação criticou a mulher por “repetida e consistentemente recorrer a táticas para adiar de forma inapropriada este procedimento”. Além disso, foi também acusada de mentir sobre a natureza das suas faltas para cuidar do filho, de propositadamente não arranjar um cartão de identificação para viajar até Nova Iorque ou de simplesmente quebrar as regras do tribunal.
Foi preciso a juíza ter ameaçado com a mobilização de agentes armados para que Harris comparecesse voluntariamente em tribunal.
Além de ter sido condenada a um mês de prisão, a juíza federal Laura Taylor Swain condenou Harris a três meses de prisão domiciliária e três anos de liberdade condicional, além de ter de devolver o dinheiro que conseguiu obter ilegalmente. A acusação procurava uma pena de entre quatro a dez meses de prisão.
Pouco depois de confessar o roubo, em agosto de 2022, Harris foi detida e presa por conduzir sob a influência de substâncias ilícitas, e foi-lhe decretado tratamento compulsivo para o consumo excessivo de álcool.
O grupo ao qual a mulher vendeu o diário, o Project Veritas, fundado em 2010, é conhecido por usar desinformação, notícias falsas, vídeos fabricados e outras ferramentas para atacar políticos progressistas e órgãos de comunicação. Em 2020, o grupo, que recebeu financiamento da fundação de Donald Trump, promoveu teorias de conspiração sobre alegada fraude eleitoral nas presidenciais – teorias que foram repetidamente refutadas pelas autoridades oficiais -, e divulgou vídeos dúbios sobre funcionários eleitorais, que acabaram por gerar uma série de ameaças de morte contra essas pessoas.
O amigo de Aimee Harris, Robert Kurlander, de 60 anos, colaborou com as autoridades na investigação ao crime e deve conhecer a sua sentença mais tarde.
A investigação resultou ainda em buscas às residências de três ex-funcionários do Project Veritas, incluindo o seu fundador, James O’Keefe, que entretanto abandonou o grupo após acusações de má gestão e gastos excessivos. Embora nenhum dos três tenha sido acusado de crimes, as autoridades continuam a analisar centenas de documentos relacionados com a investigação.
Os advogados de O’Keefe e dos outros ex-funcionários do Project Veritas envolvidos no caso, Spencer Meads e Eric Cochran, procuraram que as acusações contra o grupo caíssem, alegando direitos de liberdade de imprensa e de recolha de provas para trabalho jornalístico. Mas o dinheiro pago a Harris e as intenções do grupo em prejudicar a campanha de Joe Biden foram preponderantes para manter o caso em pé.
“Roubar pertences pessoais de um membro da família do candidato, e vendê-los a uma organização que os quer explorar para ganhos políticos, é errado e ilegal, independentemente da agenda política. Tal conduta não magoa apenas a vítima, mas também procura minar o processo político”, salientaram ainda os procuradores da acusação.