O desafio de experimentar um desportivo em pista é sempre irresistível. Mesmo sabendo que são carros feitos com inteligência para que qualquer pessoa os consiga conduzir, sabemos que, mesmo que domesticadas, são “bestas” capazes de acordar quando no ambiente e nas mãos certas. E não sendo as nossas, não é por isso menos divertido.
O novo Mercedes-AMG 63 GT Coupé é um desses automóveis: uma máquina luxuosa com desempenho de topo, servida por um 4,0 litros V8 biturbo montado à mão, que, além de rápido, produz um som incrível, capaz de deixar em pele de galinha os amantes dos motores a gasolina (faz “pops”!). Os restantes números são, claro, também de encher o olho: 585cv (430 kW) de potência e um binário máximo de 800 Nm, aceleração dos 0-100 em 3,2 segundos e velocidade máxima de 315 km/h. O consumo anunciado, também: 14,1 l/100 km.
A versão bem apetrechada, que testámos na pista de Jarama, nos arredores de Madrid, está à venda em Portugal a partir de 258.600 euros, valor que sobe facilmente alguns milhares com a habitual adição de extras — algumas pinturas exteriores custam mais de sete mil euros e o Pack Premium Plus ultrapassa os 12 mil.
Apesar disso, a versão de base do novo AMG GT Coupé está bastante bem apetrechada. Ao contrário da primeira geração (de 2015), é agora um 2+2 lugares (os dois traseiros acomodam duas crianças ou, no limite, dois adultos de baixa estatura), com tracção integral, que conta com o sistema 4Matic+ para controlar a distribuição da força pelos eixos e com o controlo semiactivo de estabilidade (“active ride control”).
A caixa automática de nove velocidades é um must, e decisiva na definição do carácter de condução deste carro. As mudanças sentem-se em aceleração, particularmente no modo Race, que testámos em pista. Ficou por experimentar o comportamento em estrada (o que foi pena), mas a AMG garante que é suave. Este novo GT Coupé é até um automóvel com o qual podemos ir às compras, já que a bagageira tem 321 litros de capacidade — com os bancos traseiros rebatidos, chega aos 675 litros.
O motor tem um comportamento dinâmico desportivo, mas sem ser bruto. O V8 acelera muito depressa “sem que se note”; é uma sensação que se explica com o facto de chegarmos aos 200 km/h sem darmos por isso e com a sensação de que vamos a 100 km/h. Arriscamos a dizer que são as mudanças de caixa que dão o impulso, como um “coice” que nos avisa que temos o pedal do acelerador em baixo.
Em curva, o chassi e a tecnologia fazem a magia de conseguir virar muito depressa sem sustos. Os travões acrescentam segurança, são fortes sem ser repentinos, ainda que tenham uma “dentada” progressiva que pode irritar alguns puristas. Ou seja, pareceu-nos um sistema adequado a condutores menos habituados ou com menos ganas de corrida, outro ponto que faz deste desportivo uma “besta” muito civilizada.
Também está disponível em Portugal uma versão mais “agressiva” do AMG GT Coupé, com motorização híbrida. Trata-se do mesmo bloco V8, mas agora com 612cv, auxiliado por uma propulsão eléctrica com 204cv; o binário sobe para uns espantosos 1400 Nm. A autonomia em modo eléctrico será de apenas 13 km, mas no caminho para a electrificação seguido por todas as marcas, a AMG reafirma o seu propósito: a performance é a prioridade.
Os AMG além do GT Coupé
A operação de charme da Mercedes-AMG no circuito madrileno incluiu outras experiências e brincadeiras para divertir e seduzir jornalistas, influencers e potenciais compradores — escolhidos a dedo, entre clientes AMG e potenciais clientes —, entre elas a oportunidade de dar umas voltas em pista com o SUV EQE 53, bem como com a carrinha C 63 S E Performance.
O teste com o gigante SUV EQE 53 (a partir de 140 mil euros) foi a única experiência em que seguimos acompanhados, já que o objectivo era “apenas” o de demonstrar a tecnologia.
Equipado com dois motores eléctricos, um em cada eixo, que debitam um total de 625cv (460 kW) e quase 1000 Nm de binário, a aceleração — menos de quatro segundos de 0 a 100 — e a capacidade de circular muito depressa numa luxuosa limusine com 2,7 toneladas é só por si impressionante, mas o pessoal da AMG estava ali para mostrar os diferentes perfis de condução e ensinar a usar a capacidade de regeneração dos motores eléctricos, que em algumas circunstâncias quase dispensam o uso dos travões.
Teria sido interessante experimentar este SUV em estrada, para melhor perceber a eficiência da suspensão adaptativa inteligente, que minimiza o adorno, mesmo em alta velocidade.
Já no caso da carrinha C 63 S E Performance (a partir de 146 mil euros), o objectivo foi perceber que a transição do motor de oito para o de quatro cilindros não foi uma má opção, no sentido em que não se perdeu o vigor. Este híbrido plug-in tem um bloco a combustão com dois litros e debita 476cv (350 kW) — é um dos quatro cilindros mais potentes no mercado — a que se junta a componente eléctrica com 204cv (150 kW), composta por três motores: um no eixo traseiro, outro à frente e um terceiro para alimentar dois turbocompressores.
É o classe C mais potente e complexo alguma vez produzido e, apesar do downgrade do motor de combustão, prova que a AMG encontrou soluções de engenharia capazes de fundir o melhor dos dois mundos.
Na prática, a eficiência dinâmica do C 63 SE Performance ilustra-se assim: foram estas carrinhas que serviram de veículo guia para as voltas em pista dos AMG GT 63 Coupé, e nunca as conseguimos apanhar; é certo que eram conduzidas por pilotos profissionais, mas o desempenho deste conjunto híbrido é mesmo um caso sério. Uma carinha luxuosa e espaçosa capaz de levar a família a qualquer lado, tranquila e rapidamente. E em pista, nas mãos certas, é um brinquedo.
A brincar a brincar…
Ainda houve tempo para testar outros dois AMG em dois divertidos exercícios.
Com o Mercedes-AMG A 45 S (a partir de 101 mil euros) fomos desafiados a completar uma gincana; o objectivo era fazer o pequeno circuito o mais rapidamente possível sem derrubar cones. Experimentamos o Active Launch, que dispara o carro com o motor de 2,0 litros e 421cv (310 kW) ao ponto de nos encostar ao banco e, sem sair da primeira mudança, conhecer a tremenda agilidade de um hatchback AMG. A classificação final não foi grande coisa, mas deixou em todos um sorriso na cara.
O último foi, digamos, para rir a sério. Foi-nos proposto aprender a fazer drifts (derrapagem lateral de forma controlada em círculos), um exercício exemplificado por um instrutor paciente e que era para se fazer “com calma”. A pista foi bem preparada — leia-se, completamente encharcada e, portanto, muito escorregadia — e, na verdade, quase lhe apanhávamos o jeito. Um “pormenor”: fizemos o drift num Mercedes-AMG GT 63 E Performance (a partir de 251 mil euros), um V8 biturbo electrificado que produz 843cv de potência combinada e 1400 Nm de binário. É o mesmo motor que equipa o AMG 63 GT Coupé E Performance, já disponível em Portugal a partir de 248 mil euros.