Daniela Martins, mãe das gémeas luso-brasileiras que foram tratadas em Portugal, está esta sexta-feira na Comissão Parlamentar de Inquérito proposto pelo Chega.
Daniela Martins, mãe das duas meninas gémeas, começou a ser ouvida no Parlamento esta sexta-feira, no âmbito da Comissão Parlamentar de Inquérito do caso das gémeas. “Não sou uma mera turista, o sangue que corre nas minhas veias é português, sou neta de quatro avós portugueses”, começou por referir.
No início do seu depoimento, Daniela Martins enfatizou: “Fiz o que qualquer mãe faria. As pessoas prontificaram-se em ajudar como podiam. Abrimos diversas alternativas”, referiu.
De seguida, referiu que ouviu “muitas vezes que estava no hospital a mando do Presidente da República” e realçou que “somente conheci a nora do Presidente da República num evento em São Paulo anos depois de ser administrada a medicação”
“Nunca conheci o Presidente da República nem o seu filho. Numa conversa informal, vangloriei-me e disse que os médicos receberam ordens de cima. Fui parva, errei porque disse algo que não verdade”, destacou.
Elencando vários aspetos que não corresponderam à verdade, no seu entender, Daniela Martins sublinhou: “Disseram que as minhas filhas passaram à frente de portugueses: nunca aconteceu. Foi estimulada uma onda de ódio e não posso voltar para casa em segurança. Sou imensamente grata ao SNS e ao Governo português. Sem isso, as minhas filhas não estariam cá”.
A mãe das gémeas deslocou-se esta semana a Portugal para prestar declarações aos deputados portugueses na Assembleia da República. O caso das gémeas luso-brasileiras remonta a 2020, quando as crianças residente do outro lado do Atlântico receberam o medicamento Zolgensma, que teve um custo total de quatro milhões de euros, sendo um dos medicamentos mais caros do mundo, para o tratamento de Atrofia Muscular Espinhal.
O caso foi divulgado pela “TVI” em novembro do ano passado e está atualmente a ser investigado pela Procuradoria-Geral da República, analisando as influências políticas que terão sido feitas para as crianças receberem o tratamento. As gémeas adquiriram nacionalidade portuguesa em janeiro de 2020, tendo conseguido a consulta de neuropedriatria no Hospital de Santa Maria em junho do mesmo ano para avançar com o tratamento.
Uma auditoria da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) concluiu que o acesso a esta primeira consulta, para avaliação de tratamento, em Santa Maria, foi ilegal. De facto, uma auditoria interna do hospital veio provar que a marcação desta consulta pela Secretaria de Estado da Saúde (então liderada por Lacerda Sales) foi a exceção ao cumprimento de todas as regras.
Desde o início do mês que o Ministério Público tem avançado no caso, tendo realizado, inclusivamente, buscas nos Ministérios da Saúde e Segurança Social, na Secretaria de Estados, domiciliárias ao ex-secretário e ao ex-diretor clínico Lacerda Sales. Desde então, António Lacerda Sales e Luís Pinheiro, então diretor clínico de Santa Maria, foram constituídos arguidos no processo das gémeas, com Nuno Rebelo de Sousa, filho do Presidente da República português, a juntar-se à lista de arguidos esta semana.
Nuno Rebelo de Sousa é acusado de tentar exercer influências políticas junto do pai e do Ministério da Saúde, com Lacerda Sales a ser suspeito por, alegadamente, ter marcado a consulta das crianças.