Roger Scruton (1944-2020) concordava com os seus compatriotas Benedict Anderson e Eric Hobsbawn acerca da existência de “comunidades imaginadas” e “tradições inventadas”. Mas Anderson era um anticolonialista de origem marxista, e Hobsbawn um comunista ortodoxo, enquanto Scruton sempre se assumiu como conservador. De onde vem então essa estranha convergência? Em grande medida, da circunstância de Scruton não considerar a imaginação um logro nem a invenção uma hipocrisia. Se a esquerda se mostrou sempre muito crítica em relação à história inglesa, a missão do autor de “Inglaterra: Uma Elegia” (2001) é a oposta: elogiar as narrativas que fizeram dos ingleses uma comunidade histórica com um destino comum baseado em lugares e costumes idealizados, ou sujeitos a um ‘reencantamento’ consentido, como se fosse a ‘suspensão da descrença’, que conhecemos da estética, transferida para a política: “os mitos que são aceites tornam-se tão influentes como verdades.”