Vladimir Putin estará pronto para interromper a guerra na Ucrânia com um cessar-fogo que reconheça as atuais linhas do campo de batalha. A principal notícia do 820º. dia de guerra na Ucrânia foi avançada por quatro fontes russas à agência de notícias Reuters. Três daquelas fontes afirmaram que o líder russo expressou frustração com o que considera serem tentativas apoiadas pelo Ocidente para impedir as negociações para suspender os combates.
“Putin pode lutar o tempo que for necessário, mas também está preparado para um cessar-fogo, para congelar a guerra”, disse um alto funcionário russo que já trabalhou com Vladimir Putin e tem conhecimento de conversas de alto nível no Kremlin.
O Presidente russo disse mais tarde, numa conferência de imprensa, nesta sexta-feira, que as conversações de paz com a Ucrânia têm de ser renovadas, mas “devem refletir as realidades no terreno”. A tal realidade no terreno deixaria a Rússia na posse de partes substanciais de quatro regiões ucranianas, mas sem controlo total daquelas áreas. Mas as conversações para já deverão ser improváveis, já que Volodymyr Zelensky assinou um decreto, em 2022, que declarava formalmente que qualquer conversação com Putin era “impossível”.
No início deste ano, o Presidente ucraniano voltou a posicionar-se sobre aquela hipótese: qualquer pausa nos combates “faria o favor à Rússia” e “poderia esmagar os ucranianos depois”. No início deste mês, tanto Putin como Zelensky também rejeitaram uma proposta apresentada pelo Presidente francês, Emmanuel Macron, para um cessar-fogo temporário, a ser mantido durante os Jogos Olímpicos, entre 26 de julho e 11 de agosto.
Com a recente intensificação do bombardeamento na região de Kharkiv, e o domínio de numerosas aldeias e cidades ali, Putin pensa que os recentes ganhos na guerra são suficientes para apresentar uma vitória ao povo russo, contaram duas fontes russas à Reuters. Para manter e aumentar os avanços territoriais das últimas semanas, Putin também poderá ter de voltar a anunciar uma mobilização militar, algo que tem tentado evitar até agora.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou, em declarações à agência de notícias, que a Rússia deixou claro repetidamente que estava aberta ao diálogo para atingir os seus objetivos, dizendo que o país não queria uma “guerra eterna”.
Volodymyr Zelensky
Yan Dobronosov/Global Images Ukraine/Getty Images
Guerra na Ucrânia
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O Ocidente prefere manter o ceticismo quanto à manifestação de intenções por parte de Vladimir Putin. Um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA declarou, em resposta à Reuters, que qualquer iniciativa pela paz deve respeitar a “integridade territorial da Ucrânia, dentro das suas fronteiras internacionalmente reconhecidas”, ao mesmo tempo que descreveu a Rússia como o único obstáculo à paz na Ucrânia.
Moscovo estará mesmo a transmitir sinais contraditórios, já que o Ministério da Defesa britânico adiantou, nesta sexta-feira, que o Exército russo mobilizou unidades do seu regimento destacado em África durante a última semana para a ofensiva contra a cidade ucraniana de Vovchansk, na província de Kharkiv (no nordeste do país).
“Durante a última semana, a Rússia enviou unidades do Regimento Africano [Africa Corps] do Ministério da Defesa russo, juntamente com as forças regulares russas e unidades Storm-Z durante a sua ofensiva em Vovchansk”, refere o ministério britânico. Em causa está um regimento “composto por mais de 2000 soldados e oficiais, bem como por mercenários experientes, muitos dos quais serviram anteriormente nas fileiras do Grupo Wagner”.
“Os destacamentos do Regimento Africano foram muito provavelmente enviados para a Síria, Líbia, Burkina Faso e Níger”, referiu o Governo britânico, avançando que a “redistribuição” destas unidades para a fronteira ucraniana foi realizada em abril “como preparação para esta ofensiva”.
“É muito provável que a Rússia esteja a reforçar a sua guerra na Ucrânia com recursos anteriormente atribuídos a África”, concluiu a mesma fonte.
Vladimir Putin
SERGEI BOBYLYOV/POOL/AFP/Getty Images
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Outras notícias que marcaram o dia:
⇒ Dois meses depois, a Rússia reconheceu, pela primeira vez, a responsabilidade do Estado Islâmico num ataque que fez pelo menos 144 mortes, e pelo qual Moscovo tinha culpado a Ucrânia. Foi a 22 de março que o atentado na sala de concertos Crocus City Hall, a 20 quilómetros do centro de Moscovo, provocou a morte de 144 pessoas e deixou, na altura, mais de 150 hospitalizadas.
⇒ As forças russas envolveram-se em combates de rua na cidade de Vovchansk, na região nordeste ucraniana de Kharkiv, e sofreram muitas baixas, de acordo com o comandante-chefe do Exército da Ucrânia. “O inimigo está completamente assoberbado em combates de rua em Vovchansk e sofreu perdas muito pesadas”, referiu o general Oleksandre Syrsky. Segundo Syrsky, a Rússia foi forçada a enviar reservas para continuar o ataque.
⇒ As Nações Unidas alertaram para o “impacto aterrador” na população civil da ofensiva russa na região de Kharkiv, e apelaram à Rússia para que ponha termo aos ataques. Centenas de pessoas já foram obrigadas a abandonar as casas, abrigando-se durante dias em caves sem eletricidade e no meio de fortes bombardeamentos, disse a porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, Liz Throssell.
⇒ O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, vai visitar na próxima semana a Moldávia, para expressar apoio à entrada do país na União Europeia e à dissuasão da influência russa, informou a diplomacia de Washington. Depois dos com a Presidente moldava, Maia Sandu, e com outras autoridades, Blinken seguirá para a República Checa e participará numa reunião informal de ministros dos Negócios Estrangeiros da NATO.